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sábado, 24 de julho de 2010

JÁ VIMOS ESSE FILME

RICHARD SIMONETTI



Lucas; 18:15-17

Marcos, 10:13-16

Mateus, 19:13-15



Jesus transmitia suas lições, preparando os corações para o Reino de Deus, quando algumas crianças foram colocadas à sua frente, a fim de que as abençoasse.

Era costume entre os judeus que os homens santos ministrassem suas bênçãos – uma evocação da proteção divina sobre crianças e adultos.

O ato de abençoar enraizou-se no Cristianismo, estendendo-se ao próprio relacionamento familiar, envolvendo pais e filhos.

Não são poucos os que guardam, no tesouro das recordações mais ternas da infância, expressões assim:


– A “bença”, pai!

– Deus te abençoe, filho!

– A “bença”, mãe!

– Deus te abençoe, filho!


A criançada podia dormir tranqüila!

Estava presente a proteção divina, evocada pelos pais!

Gente com mania de originalidade contesta o ato de abençoar , sob a alegação de que tende a estabelecer barreiras entre pais e filhos. O que abençoa situa-se acima daquele que é abençoado. Isso inibiria a comunhão afetiva.

Levada às últimas conseqüências essa orientação, deveríamos eliminar toda disciplina no lar, porquanto, qualquer iniciativa dos pais nesse sentido representaria o exercício de indébito autoritarismo, a erguer barreiras entre eles e os filhos.

Ah, esses doutos!

Quando o cérebro se desliga do coração, perde o rumo e envereda por estranhos caminhos.

Raciocínios dessa natureza inibem uma das mais belas manifestações de afetividade no lar:

Os filhos que pedem a bênção de seus pais.

Os pais que abençoam seus filhos.


***

Os discípulos aborreceram-se com a presença das crianças, mas Jesus os conteve:

– Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o Reino de Deus. Em verdade vos digo que aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, de modo algum entrará nele.

Abraçando os pequenos, abençoou-os, impondo-lhes as mãos. Situava, assim, as crianças, como o símbolo das condições necessárias ao ingresso no Reino de Deus.

Bem, em princípio, uma perguntinha:

Onde fica?

Se você não sabe, leitor amigo, não se preocupe.

Em outra passagem evangélica (Lucas, 17:21), o próprio Mestre informa:


– O Reino de Deus está dentro de vós.


Então, não se trata de local geográfico, na Terra ou alhures.

É um estado de consciência!

O Céu está em algum recanto, em nosso universo interior.

Obviamente, o inferno também.

Diríamos que são realizações pessoais, condicionadas ao que pensamos e fazemos.

***

Uma senhora vivia desolada e infeliz!

Dizia-se mal amada…

O marido não lhe dava atenção; os filhos a desrespeitavam; os vizinhos eram invejosos; o pessoal de sua igreja agia com falsidade; sua vida, um tormento!

Quando desencarnou, por uma questão de afinidade, ela, que cultivava um inferno em seu coração, viu-se em região de sofrimentos.

Ali, mais que nunca, sentia-se infeliz.

Mal amada…

Reclamava que Deus não lhe ouvia as orações. Via-se cercada de gente atormentada; revoltava-se contra o destino ingrato, mergulhada num oceano de aflições…

Depois de muito sofrer, brilhou em seu coração uma réstia de humildade. Lavou o coração com lágrimas contritas, implorando a complacência divina.

Imediatamente foi socorrida por benfeitores espirituais que a levaram para estágio reparador, em maravilhosa colônia espiritual.

Ali vivia uma comunidade feliz e ajustada, que observava integralmente o Evangelho, cultivando os valores do Bem.

A senhora esteve satisfeita… por algum tempo .

Em breve caiu nos tormentos a que se habituara.

Mal amada…

Ninguém lhe dava atenção…

Havia falsidade nas pessoas…

A ladainha de sempre!

Vivendo em autêntico paraíso, permanecia no inferno que sustentava em si mesma.

***


Em Velho Tema, Vicente de Carvalho (1866-1924) exprime essa arraigada condição humana: a incapacidade de sermos felizes por não valorizarmos o que a vida nos oferece.


Só a leve esperança, em toda a vida,

Disfarça a pena de viver, mais nada;

Nem é mais a existência, resumida,

Que uma grande esperança malograda.


O eterno sonho da alma desterrada,

Sonho que a traz ansiosa e embevecida,

É uma hora feliz, sempre adiada

E que não chega nunca em toda a vida.


Essa felicidade que supomos,

Árvore milagrosa que sonhamos,

Toda arreada de dourados pomos,


Existe, sim; mas nós não a alcançamos

Porque está sempre apenas onde a pomos

E nunca a pomos onde nós estamos.

Onde estivermos, na Terra ou no Além, sustentaremos o céu ou o inferno, construído na intimidade de nosso ser com as ferramentas do cérebro e do coração, tendo por material o que pensamos e sentimos.

***

Para ingressar na recôndita região de nosso universo interior, onde está o Reino de Deus, é preciso uma senha.

Ser como as crianças – revela Jesus.

Há algo inerente à natureza infantil que devemos imitar para abrir as portas do paraíso interior.

A senha se compõe de duas virtudes.

· Pureza.

A criança não é maliciosa, não vê o mal no comportamento alheio, não se compraz com a maledicência, não guarda mágoas, desconhece a hipocrisia. É capaz de relacionar-se com qualquer pessoa, independente da cor, raça, nacionalidade, religião, posição social…

· Simplicidade.

A criança não se sente infeliz por morar em singela cabana. Diverte-se tanto com um pau de vassoura feito cavalo, quanto o faria o menino rico num palácio, movendo-se em patinete motorizada.

Para entrar no Reino de Deus, na intimidade de nós mesmos, é preciso resgatar a criança que fomos, aprisionada na teia das ambições, dos vícios e das mazelas.

Evidentemente, não é fácil.

Como diz André Luiz, contra a pálida réstia de luz do presente, simbolizada pelo desejo de melhorar, há montanhas de trevas do passado.

Proclama o apóstolo Paulo (Romanos, 7:19):


O bem que eu quero, não faço.

O mal que não desejo, esse eu faço.


Temos visto esse filme, no desdobrar de múltiplas existências.

Mudam os cenários, mas o enredo é sempre o mesmo:

Começamos a vida como “mocinhos”, dispostos a mudar o mundo.

Terminamos como “bandidos”, comprometidos por vícios e mazelas.

É preciso produzir um filme diferente, nos estúdios da Vida.

Perseverar nos bons propósitos…

Lutar contra nossas tendências inferiores…

Conservar fidelidade ao Bem…

Cultivar ideais que nos permitam sustentar a simplicidade e a pureza dos verdes anos.

“Mocinhos”, jamais “bandidos”.

Bem-aventurados, jamais mal amados.

No Céu, ainda que enfrentando as agruras da Terra.


Livro: Setenta Vezes Sete



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