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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Entrevista: Sandra Maria Borba Pereira “Pensamento pedagógico espírita alcança o homem em sua trajetória evolutiva”


Sandra Maria Borba Pereira. Acervo particular



Ismael Gobbo

Igobi@uol.com.br





A pernambucana Sandra Maria Borba Pereira é graduada em Pedagogia, tem mestrado em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco e está concluindo doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Foi alfabetizadora e desde 1979 exerce o magistério superior em universidades federais – em Pernambuco até 1984 e desde então no Rio Grande do Norte. Por isso, se considera uma pernambucana de alma e potiguar de coração. “Uma apaixonada pela Vida, pela Educação e pelo Espiritismo”, afirma.

Sandra conheceu a Doutrina na infância, no setor de evangelização do Instituto Espírita Gabriel Delanne, no bairro de Campo Grande, no Recife, e, posteriormente, integrou a juventude da Federação Espírita Pernambucana. Aos 17 anos tornou-se evangelizadora e expositora espírita. Desde então, há mais de 30 anos, tem desenvolvido inúmeras tarefas no Movimento Espírita e ocupado algumas funções em instituições espíritas, entre as quais o de presidente da Federação Espírita do Rio Grande do Norte, de 2003 a 2009. “Viajar pelo Brasil na tarefa de divulgação espírita também é algo que me enriquece e emociona”, declara.



Folha Espírita – Qual o paralelo que faz entre Pedagogia e Pedagogia Espírita?

Sandra Maria Borba Pereira – Entendo a Pedagogia como a sistematização de um ideário educacional, contendo princípios, valores e propostas de ação. Nesse sentido, uma Pedagogia Espírita existe disseminada na obra kardequiana e outras obras auxiliares, reclamando ainda uma maior sistematização, a meu ver, e, sobretudo, uma maior e mais ampla socialização de resultados. O pensamento pedagógico espírita alcança o homem em sua trajetória evolutiva, sendo a única que vê na criança o Espírito Imortal que traz para sua nova experiência uma biografia espiritual que antecede o berço e ultrapassa o túmulo. Além disso, a Pedagogia Espírita supera toda e qualquer fronteira de preconceito, de exclusivismo ou privilégios. Iluminando com seus princípios a ação educativa em todos os seus espaços onde ocorra o fenômeno pedagógico, a Doutrina Espírita afeta positivamente a todos: educandos, educadores, pais e a sociedade de modo geral.

Por outro lado, experiências que ocorreram, especialmente com Eurípedes Barsanulfo, em Sacramento (MG), e com Tomaz Novelino, em Franca (SP), ainda têm farto material para as nossas reflexões.

Creio que hoje já encontramos muitos confrades espíritas interessados nessa reflexão, o que é muito positivo. Inúmeros contribuem de forma propositiva, outros de forma mais crítica e, assim, caminhamos com perspectivas satisfatórias. Mas, ainda há muito que sistematizar, discutir e experienciar, sobretudo com espírito fraternal e construtivo, tendo Jesus e a Codificação Espírita como nossos referenciais maiores.



FE – No meio espírita alcançamos avanços nesse sentido?

Sandra – Creio que temos avançado tanto em discussões da temática como em produção acadêmica e de materiais. O grande desafio é encontrar o equilíbrio e usar o bom senso nas coisas. O terreno educacional é vasto, suas formas são múltiplas e isso requer, especialmente no terreno da educação espírita, não só preparo intelectual, mas obreiros comprometidos amorosamente com a Causa e com a própria autoeducação. Precisamos ainda refletir coletivamente sobre um Movimento Espírita educativo, em que as ações estejam impregnadas do objetivo de formar, de apresentar norteamentos harmônicos com a Lei Divina, de oportunizar o esclarecimento e a apropriação do pensamento espírita bem como sua vivência em espaços interativos e de inclusão. Toda atividade fim da Casa Espírita possui uma natureza educativa, voltada para o progresso intelecto-moral de cada um e de todos.



FE – A educação proposta por Pestalozzi – e que tanto encontra respaldo nos ensinos dos Espíritos Instrutores – carece em nossos tempos de continuadores à altura para a sonhada mudança de paradigma no século XXI. Quais as suas perspectivas quanto a essa mudança?

Sandra – O que nos falta é mais o espírito de realização, aliando teoria e prática. Especialmente no fim do século passado, uma vasta literatura em torno da educação integral, da educação para uma cultura de paz, da educação para a plenitude do ser, ao longo da vida, tem chegado às estantes das livrarias. Nunca se produziu tanto no pensamento pedagógico, mas essa produção permanece distante das condições objetivas, especialmente das escolas, mas também do lar e de outros agentes educativos. A sociedade, a escola e a família permanecem em crise de valores. Mas uma coisa é certa: o ponto que atingimos de violência (em todos os sentidos), de descaso com as futuras gerações, principalmente nos aspectos éticos e emocionais, nos remete a preocupações e nos desafia no campo educacional a realizações mais voltadas para esse homem integral, que necessita emergir em processos de formação educativa, nas bases de um humanismo crítico, mas solidário, tolerante e responsável por um mundo mais justo. Creio que para isso o Mais Alto conta com uma legião de devotados trabalhadores que ali e acolá têm feito o silencioso e anônimo trabalho de investir no amanhã, pela educação das novas gerações. E entre nós, espíritas, estão incontáveis desses trabalhadores, inclusive atuando fora do próprio Movimento.



FE – Como anda o ensino religioso nas escolas?

Sandra – Na nossa realidade há ainda muito que fazer para se evitar o ensino religioso sectário, confessional, em instituições escolares públicas e particulares. Nosso processo de colonização, aliado ao preconceito religioso, inclusive dos professores, tem centrado o foco num ensino religioso que poderíamos dizer “catequético”. O curso de formação desses professores, pelo menos aqui, tem se esforçado por uma formação mais ampla, mais voltada para uma visão comparada das religiões, para uma análise do fenômeno religioso. No entanto, é o professor em sua sala de aula que se torna o porta-voz de sua própria opção religiosa no espaço escolar, comumente. Agem diferente só os que alcançaram uma visão mais crítica e tolerante.



FE – Acha que seria possível serem ministrados conceitos religiosos nas escolas atendendo aos vários segmentos religiosos?

Sandra – Sim, no caso do enfoque voltado para o diálogo inter-religioso, responsável, sem sectarismo. Na nossa compreensão, porém, e já o dissemos em outras entrevistas, somos pela escola laica. Como é um espaço que recebe crianças e jovens de variadas tendências e opções religiosas, a escola faria muito mais investindo em conteúdos da ética, da cultura de paz, do respeito e da tolerância religiosa, inclusive através de vivências que oportunizassem o diálogo inter-religioso. A escola já tem muita coisa que divide, separa, dicotomiza. A religião, em nossa visão pessoal, é algo a ser ensinado mais na família e nas instituições religiosas, para que homens e mulheres sintonizados com uma compreensão superior da Vida sejam capazes de fecundar a sociedade com seus valores e ações, com suas intervenções a favor de uma nova era para a Humanidade.



FE – O Espiritismo poderia oferecer alguma colaboração aos órgãos competentes nesse sentido?

Sandra – Sim, especialmente pelo seu conteúdo universalista, desprovido de preconceitos e de sectarismo religioso, pela sua proposta de paz e de autoeducação, pelos seus princípios que fornecem uma nova visão do homem, da finalidade da vida, do futuro. Isso principalmente na perspectiva do diálogo inter-religioso. A Federação Espírita do Rio Grande do Sul conseguiu um espaço muito interessante através de seu projeto Conte Mais. Igualmente, a Federação Espírita do Paraná obteve espaço junto aos órgãos competentes nessa área. E creio que outros órgãos espíritas, pelo Brasil afora, também têm encontrado espaços de colaboração. É preciso, assim, que o Movimento se organize e se fortaleça para proporcionar essa colaboração. Da mesma forma, podemos ter assento em comitês e grupos de trabalho para colaborar, apresentando a proposta espírita, colaborando com nossos princípios e experiências no próprio sistema formal de educação.



FE – Algo mais que queira acrescentar

Sandra – Sim. A missão do Espiritismo é auxiliar o homem em seu processo de regeneração moral. Muito importante e grave, pois, a nossa condição de assumirmos a nossa identidade espírita, especialmente na posição de educadores.

Podemos e devemos ser reconhecidos como espíritas em nossos espaços de atuação pedagógica, esforçando-nos na vivência dos postulados espíritas.

Consideramos como positivas as várias iniciativas de confrades que buscam atuar no campo da pedagogia espírita, publicando, organizando eventos, cursos, divulgando o pensamento pedagógico espiritista.

Desejamos também que instituições e órgãos de unificação do nosso Movimento possam oportunizar discussões, debates e reflexões em torno da ampla temática da Educação e da Pedagogia Espírita, a fim de termos cada vez mais “clarificadas” as contribuições do Espiritismo para o processo educativo de todos nós, “espíritos forasteiros do infinito, em busca de novas experiências, à procura da evolução espiritual” (Bezerra de Menezes, na mensagem Evangelizar, psicografia de Mª Cecília Paiva, em 1979).



Entrevista publicada na Folha Espírita, São Paulo, setembro, 2010





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