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domingo, 31 de outubro de 2010

TESE DE DOUTORADO SOBRE CHICO XAVIER VIRA LIVRO



Entrevista: Magali Oliveira Fernandes



A entrevista com Magali Oliveira Fernandes ocorreu por conta do lançamento de seu livro Chico Xavier – Um Herói Brasileiro no Universo da Edição Popular, pela editora Annablume, de São Paulo. Como anuncia o título, trata-se de um estudo realizado com base no trabalho do médium mineiro e sua respectiva edição no Brasil. O livro de Magali, que é graduada em Jornalismo, resulta de sua tese de doutorado, defendida na área de Comunicação e Semiótica, na PUC-SP, em 2001. Seu livro, lançado recentemente, é mais um estudo acadêmico que presta inestimável contribuição ao conhecimento da vida e da obra de Francisco Cândido Xavier.



Folha Espirita – Fale um pouco sobre o projeto de pesquisa dentro da universidade, desde o início e que, agora, transformou-se em livro para o público em geral.

Magali Oliveira Fernandes - Na verdade, esse trabalho de doutorado a respeito de Chico Xavier faz parte de um outro, já realizado no mestrado na ECA-USP. Naquele primeiro projeto a intenção era tratar das primeiras impressões do kardecismo entre os brasileiros. E acabei encontrando o editor do primeiro periódico espírita no país, de nome Luiz Olympio Telles de Menezes, um jornalista baiano que, no século XIX, enfrentou muitas dificuldades para divulgar a Doutrina dos Espíritos. A dissertação de mestrado vinculava-se ao Projeto de Memória da Edição no Brasil, coordenado pela professora Jerusa Pires Ferreira, na própria USP. Então, quando optei, no doutorado, pelo tema Chico Xavier e a edição popular no País, o plano de investigação concentrava-se em saber, por intermédio dos livros psicografados que ele lançava, que material era esse na sua totalidade e, ainda, quem eram os seus editores, nesse processo de mensagens psicográficas, por sua vez, distribuídas com sucesso significativo em todo o País. A importância do médium mineiro, para tal pesquisa, estava comprovada tanto pela quantidade de títulos produzidos por ele como também pelas imensas tiragens que eram feitas de seus livros para atender a uma demanda crescente de público.



FE - Como você organizou isso em seu trabalho e quais as dificuldades que você foi encontrando no caminho de sua pesquisa?

Magali - De um lado, a partir do momento em que comecei o trabalho sobre Chico Xavier, ao contrário do que imaginava fazer – que era o levantamento de todas as suas obras já publicadas e das editoras responsáveis pelos seus lançamentos, reimpressões e reedições –, fui me deparando com outro tipo de material, completamente inesperado, e que eram as várias edições a respeito da vida do médium. Isto é, fui percebendo, por essas várias publicações encontradas no meio do caminho, que Chico Xavier, além de ser considerado um contador de histórias do plano dos espíritos, era também um protagonista de histórias que lembravam vidas de santos, de histórias de heróis, histórias de encantamento. A sua biografia era contada em variadas versões editoriais, das mais caras às mais baratas, como folheto de cordel, história em quadrinhos, livro de bolso, bem como edições de luxo, enfim, uma infinidade de impressões diversificadas, e isso é uma documentação inexplorada e que devia ser pensada, principalmente no âmbito de um projeto de memória da edição popular no Brasil. Esse material não era de exclusividade das editoras ditas kardecistas. Muito pelo contrário, eram produções de editoras consideradas não espíritas também.

De outro lado, pude verificar nesse processo de recolha de materiais da edição outros dados surpreendentes e de grande relevância para se compreender o personagem Chico Xavier. Discursos que eram promovidos pela via da imprensa, em textos e imagens, e que, aos poucos, iriam conferindo a Chico a construção de uma espécie de herói brasileiro. Mostravam, ao mesmo tempo, vários momentos de sua trajetória. Tivemos o período que correspondeu ao do lançamento de sua obra psicográfica inaugural, em 1932, pela editora FEB. Tivemos o período que foi marcado por romances psicografados pelos espíritos Emmanuel e também André Luiz. O período de Humberto de Campos. E o momento forte das psicografias em forma de correspondências dirigidas às mães que haviam perdido seus filhos jovens. Daí em diante, por parte da imprensa em geral, vai ficando mais claro um tipo de consagração do médium que vai se afirmando e se ampliando, independentemente da questão espírita em si.



FE - Nos capítulos de seu livro, fale um pouco como você conseguiu dividir todas essa documentação e análise...

Magali - No capítulo 1, mostro matérias da imprensa brasileira, da grande e da pequena imprensa, tanto da espírita como da não espírita, procurando apontar como é que Chico Xavier foi sendo divulgado por esses canais de comunicação, ao longo dos seus 70 anos de carreira no kardecismo, isto é, de 1932 a 2002, e considerando, também, o período que envolveu o seu falecimento, levado aos jornais e revistas, com distribuição em todo o país.

No capítulo 2, faço a amostragem de diferentes versões editoriais, nos seus vários projetos de capa e de miolo. Também, chego a trabalhar mais detalhadamente com algumas versões mais específicas, como a história de Chico Xavier, contada por um poeta popular em folheto de cordel, outra edição em história em quadrinhos e outra ainda no formato de livro, que acabou sendo lançado em duas edições distintas por editoras diferentes, uma mais popular e outra mais requintada. Ao mesmo tempo, procurei indicar como tal variedade anunciada nos projetos de edição nos levava à verificação de outra questão, a da variedade do público de diferentes segmentos sociais em todo o Brasil.

No capítulo 3, cuido da apresentação de um caderno inédito que teria pertencido a Chico Xavier, um caderno de contabilidade que ele usou para recortar e colar uma série de textos e imagens, formatando artesanalmente uma espécie de livro.

Com isso abriu-se uma possibilidade de se discutir a psicografia a partir de um repertório dado, de um procedimento de leituras, aprendizagens e gosto, e a relação da experiência do psicógrafo e sua história de vida, das interdições às motivações sofridas. Com isso abriu-se uma possibilidade de se discutir a psicografia a partir de um repertório dado, de um fazer editorial, de um procedimento de leituras, aprendizagens e gosto, e a relação da experiência do psicógrafo e sua história de vida, das interdições às motivações sofridas.



FE - Que tipo de contribuição você acha que poderia ser vista no seu trabalho de um modo mais geral?

Magali - Creio que a contribuição esteja no que esse material como um todo se apresenta e indica no sentido de abrir possibilidades de discussão, considerando aí desde a construção do herói Chico Xavier, via imprensa e via livros, até a sua atuação social e cultural, persistindo ainda hoje com muita força no imaginário popular, como modelo de conduta não só para os espíritas e médiuns, bem como para uma gama enorme de simpatizantes seus. Vale dizer também do aspecto editorial, da história do livro popular no segmento kardecista que esse trabalho de pesquisa anuncia, oferecendo materiais e referências para se compreender num plano mais amplo o projeto de memória da edição no Brasil.



Chico Xavier – Um Herói Brasileiro no Universo da Edição Popular

Editora Annablume: (11) 3031-1754

Contato da autora: Magali.oliveira1@terra.com.br



Ismael Gobbo igobi@uol.com.br



PUBLICADO NA FOLHA ESPIRITA, SÃO PAULO, JANEIRO/2009


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