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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A vida e a obra do historiador Geraldo Leão

ENTREVISTA PARA FOLHA ESPÍRITA, SÃO PAULO, 03/2009

Ismael Gobbo igobi@uol.com.br


Geraldo Leão estudou na mesma escola de Chico Xavier. Foto Ismael Gobbo


Estive na cidade mineira de Pedro Leopoldo para entrevistar

Geraldo Leão, um historiador que coleciona fotos, áudios, videos e

objetos que preservam a história da cidade e do seu povo. Embora se confesse

católico, Geraldo Leão tem amplo conhecimento do Movimento Espírita da cidade e de Chico Xavier de forma muito particular. Segundo ele, seu livro de cabeceira é

o romance Há dois mil anos, de Emmanuel, psicografado pelo médium. Contando

com apoio da Unimed de Pedro Leopoldo, ele distribui parte do seu volumoso

material em pequenas exposições em estabelecimentos da cidade e mantém, na

sede da Unimed, o Memorial Chico Xavier. Homem simples, educado e

entusiasmado, não vê a hora de ter um local mais amplo que possibilite expor ao

público tudo o que possui em relação a Chico Xavier, no período em que o médium viveu na cidade, ou seja, desde o seu nascimento, em 1910, até sua mudança para Uberaba, em 1959.

Folha Espírita - Poderia nos falar um pouco de suas origens?

Geraldo Leão - Nasci em Belo Horizonte, em 25 de julho de 1936, no bairro do Horto Florestal. Chegamos em Pedro Leopoldo no ano em 1947. Aqui estudei na Escola São José, a mesma em que Chico Xavier estudou, antigamente com o nome de Grupo Escolar de Pedro Leopoldo. Passei depois pelo Colégio Imaculada Conceição. Profissionalmente, trabalhei em fábrica de tamancos, depois numa fábrica de acessórios para indústria têxtil, em alfaiataria, onde aprendi a profissão, e, por fim, na Companhia de Cimento Portland Cauê, empresa na qual me aposentei após 35 anos de serviço.

FE - Dos trabalhos profissionais que enumerou, nenhum tem relação direta com o de historiador. O que o levou a se interessar pelo assunto?

Leão - Na realidade, um hobby. Sempre tive afinidade com coisas antigas e interesse por colecioná-las. A partir de 1975 comecei a juntar fotografias de Pedro Leopoldo e fazer gravações com personalidades importantes da cidade, como médicos, engenheiros, advogados, políticos e figuras populares, que gravaram mensagens com suas importantes experiências. Com isso, o acervo atinge cerca de 11 mil fotos, documentos, 800 fitas cassetes gravadas, fitas de vídeo de diversas festas e solenidades realizadas na cidade, como carnaval, Semana Santa, as festas do “Boi Manta” e de Congado, desfiles cívicos e muitos outros acontecimentos que ocorreram na cidade. O acervo conta também com considerável quantidade de objetos antigos, vários deles relacionados a Chico Xavier.

FE- Você tem algum plano para o futuro do acervo?

Leão - O nosso pensamento é de remasterizar as fitas de vídeo e cassete em CD e DVD. Todavia, é um trabalho que não posso garantir que seja levado adiante no curto prazo porque envolve grande dispêndio financeiro do qual presentemente não disponho. Penso também em editar um livro com fotos e textos da trajetória de Chico Xavier em Pedro Leopoldo, abrangendo o período de 1910 a 1959. Só precisamos do aporte de recursos para fazer o projeto deslanchar”.

FE - Ninguém patrocina o trabalho?

Leão - Já faz dez anos que venho recebendo um patrocínio único da Unimed de Pedro Leopoldo, de forma consecutiva. É essa ajuda que deu e dá sustentação para que possa produzir o material de divulgação e exposição, bancando fotografias, papel, álbuns, dentre outras coisas. A Unimed, além do patrocínio, reservou espaço para o Memorial Chico Xavier em sua sede. Essa colaboração é importantíssima, ou melhor, é imprescindível para o desenvolvimento do trabalho de pesquisa. Espero poder continuar contando com ela para manter e, quiçá, dar mais amplitude às exposições, ao memorial e concretizar a publicação do livro a que me referi.

FE – Como conheceu e como avalia a importância de Chico Xavier para Pedro Leopoldo?

Leão - O meu primeiro contato com o Chico se deu quando eu contava com aproximadamente 20 anos. Eu estava naquela efervescência da juventude e namorando, circunstâncias que, de certa forma, não me faziam perceber sua importância. Ele freqüentava muito a casa de meu pai, que era motorista de praça, e o levava para viajar ou visitar a periferia. Inclusive, meu pai fez várias fotos de Chico Xavier que fazem parte do acervo. Passado algum tempo é que fui entendendo quem era realmente Chico Xavier e o que ele representava para Pedro Leopoldo. Descobri, como muitos, que ele era uma pessoa fora do comum.

FE - Em janeiro completaram-se 50 anos da ida de Chico de Pedro Leopoldo para a Uberaba. Como era a cidade com Chico e, depois, sem ele?

Leão - Só para você ter uma idéia, na época do Chico em Pedro Leopoldo, ou seja, há 50 anos, a cidade contava, entre pousadas, pensões e hotéis, com aproximadamente oito unidades. Hoje conta com apenas dois hotéis. Pedro Leopoldo com o Chico Xavier era outra. Às segundas e sextas-feiras, a cidade ficava tomada por centenas de visitantes, que vinham para assistir às sessões no Centro Espírita “Luiz Gonzaga, para receber uma mensagem, um conforto ou apenas conhecer o Chico. Pela rua São Sebastião toda se via automóveis vindos de todos os cantos do país. E, também do exterior, Chico Xavier recebia visitantes. Um deles foi o famoso professor Pietro Ubaldi, em 1951, que, na ocasião, recebeu noticias da mãe, em italiano, através do Chico. Outra visita ilustre foi a do jornalista Clementino de Alencar, de O Globo, no primeiro semestre de 1935. Na companhia de um fotografo, ele assistia às reuniões, fazia entrevistas, fotografava e enviava quase diariamente as matérias para a sede do jornal, no Rio de Janeiro. Esse valioso material com ilustrações interessantes foi inserido no livro Notáveis reportagens com Chico Xavier, editado pelo IDE, de Araras, SP.

FE - Dona Cidália nos disse que o Sr. fazia gravações para o Chico. Quais?

Leão - Eu fiz, ao longo do tempo, muitas gravações para o Chico, sobretudo de músicas, que dona Cidália, sua irmã, enviava para Uberaba. Em compensação, ganhei um grande presente dele. Quando Chico esteve na casa dela, acho que em janeiro de 1982, pedi à Cidália que intercedesse junto a ele para gravar para mim a poesia Alma Gêmea, que está no livro Há Dois Mil anos. Ele disse para a irmã: “perfeitamente”. E fez a gravação pausadamente. Essa relíquia foi remasterizada em CD pelo amigo Oceano Vieira de Melo, da Versátil Home Vídeo, a quem reitero agradecimentos.

FE - A música era o prazer predileto de Chico?

Leão - Ele era apaixonado por musica. Lembro-me que o Chico sempre passava na hora do almoço em uma loja de eletrodomésticos daqui de Pedro Leopoldo, a “Radiolândia”, onde sempre havia uma radiola funcionando. Quando ele aparecia por lá para ouvir músicas, eu aproveitava e ia ouvir também. Um dia ele chegou para o dono da loja, Antonio Rafael, que faleceu em janeiro deste ano, e lhe disse: “Oi Nonô Rafael, coloque para mim os Prelúdios de Liszt que eu estou doido para ouvir isso hoje”. E nós ouvimos com ele. Era costume o Chico e alguns amigos, após o término das reuniões, irem para a casa de André Luiz, seu irmão, para tomar um lanche. Isso acontecia lá pela uma, duas da madrugada. Como eu morava em frente à casa do André, na rua Benedito Valadares, tinha a oportunidade de ouvir as músicas e as deliciosas gargalhadas do Chico. Sempre que ia fazer suas psicografias, Chico pedia música, como se pode comprovar no DVD do programa Pinga Fogo, da TV Tupi, do qual ele participou.

FE O senhor acha que Chico Xavier sofreu alguma pressão do clero para deixar Pedro Leopoldo?

Leão - Corre a lenda aqui que o Padre Sinfrônio Torres de Freitas, que ficou na cidade por mais de 40 anos, teria sido um dos responsáveis pela saída de Chico de Pedro Leopoldo. Não creio, e explico: no dia da inauguração da Praça Chico Xavier, em 15 de novembro de 1980, Chico fez um discurso extraordinário que eu tive a felicidade de gravar na integra com meus equipamentos. Gravei os discursos de todos os oradores. O Chico, na sua fala, nos deu uma lição de vida contando toda a sua trajetória por Pedro Leopoldo. Num dos trechos de seu discurso falou: “Agradeço a presença do Padre Sinfrônio Torres de Freitas, pastor das almas de Pedro Leopoldo”. Quando ele disse isso, uma estrondosa salva de palmas ocorreu. Logo depois dos discursos, Chico foi para a casa de sua irmã, Luiza Xavier, a mais velha, e num dos quartos recebia os visitantes que o vinham cumprimentar. Formou-se uma grande fila e nela pude divisar, meio espantado, a presença de três irmãs de caridade de Pedro Leopoldo, com seus hábitos, para cumprimentá-lo. Pode ser que alguns não gostassem do trabalho do Chico, mas posso afiançar que ele tinha amigos e simpatizantes em todos os redutos religiosos.

FE - Além de fotos, quais os materiais do Chico o senhor tem para expor?

Leão - Temos bastante coisa. Em 1998, aqui, em Pedro Leopoldo, com patrocínio da prefeitura, foi realizada uma exposição em seis grandes salas, na Escola São José, retratando a cidade desde o seu inicio até aquele ano de 1998. Uma das salas foi exclusivamente para Chico Xavier. Nela colocamos a máquina de escrever, que ele usava na Fazenda Modelo, pertencente ao meu acervo; a cadeira na qual ele se sentava para psicografar no Centro Espírita Luiz Gonzaga, hoje exposta no Memorial; o livro de pontoda Fazenda Modelo, em que Chico assinava entrada e saída ao serviço; lápis que usou nas psicografias; óculos, a xícara de chá de seu uso, dentre outros. A particularidade da sala é que fizemos também um serviço de som com gravador auto-reverse, que reproduzia mensagens na voz do Chico. Então, as pessoas viam os objetos que pertenceram ao Chico e ouviam a sua voz. Como já frisei, parte desse acervo se encontra exposto no Memorial Chico Xavier instalado na sede da Unimed de Pedro Leopoldo. Precisamos de um espaço maior, se possível exclusivo, para darmos mais destaque a tudo aquilo que temos do inesquecível Francisco Cândido Xavier.




Chico (dir) recebe dama da alta sociedade paulistana (1941)

Arquivo Geraldo Leão



Fábrica de Tecidos Cachoeira Grande: primeiro emprego de Chico

Arquivo Geraldo Leão




Rua São Sebastião e o Centro Espírita Luiz Gonzaga, prédio branco, à direita,
mais próximo da igreja matriz Arquivo Geraldo Leão


Memorial “Chico Xavier” na sede da Unimed, em Pedro Leopoldo, MG

Foto Ismael Gobbo



Médium (terno escuro) e colegas de trabalho na Fazenda Modelo Arquivo Geraldo Leão

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