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sábado, 22 de janeiro de 2011

Por que faz bem orar?

Entrevista com

Daniel Gómez Montanelli para

FOLHA ESPIRITA, março, 2008

Ismael Gobbo igobi@uol.com.br

Como nos ensinam os benfeitores espirituais, a prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar Nele; é aproximar-se Dele; é pôr-se em comunicação com Ele. Sempre que oramos com sinceridade obtemos uma resposta real e transformante!

DANIEL GÓMEZ MONTANELLI

“Ao nos aproximarmos de Deus ocorre uma transformação interior, onde o silêncio e a paz harmonizam o corpo e a mente. Esse estado de espírito pode, também, ter ação e permitir transformações exteriores”

Daniel Gómez Montanelli, licenciado em Psicologia pela Universidade de Buenos Aires, tem pós-graduação em Medicina Psicossomática e Psicossociooncologia e Cuidados Paliativos. Diretor da Fundação Allan Kardec, é também secretário da Federação Médico Espírita da Argentina e membro associado da Parapsychological Association*. Abaixo, ele fala sobre a prece e o poder que ela exerce sobre o nosso corpo e espírito e, portanto, da nossa aproximação com Deus:

FE- Qual o significado da prece?

Daniel Montanelli - A Doutrina Espirita nos traz informações muito valiosas em relação ao tema. A resposta à pergunta de número 5 de “O Livro dos Espíritos” assinala que todos os homens trazem consigo o sentimento intuitivo da existência de Deus, e a de número 621 consigna que a lei de Deus está escrita na consciência. Com as duas assertivas, o Mundo Espiritual Superior estabeleceu os fundamentos ontológicos e psicológicos da presença de Deus no homem, antecipando-se aos aportes filosóficos de Martin Buber e Gabriel Marcel e à Psicologia Analítica de Carl G. Jung, à Psicossintese de Roberto Assaglioli e à Logoterapia de Viktor E. Frankl, dentre outros. Por isso, como ensinam os benfeitores espirituais, a prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar Nele; é aproximar-se Dele; é pôr-se em comunicação com Ele, como encontramos na questão 659 de O Livro dos Espíritos. Em síntese, como diz o psicólogo espanhol Antonio Blay, um dos pioneiros da Psicologia Transpessoal, a oração só pode surgir quando existe esta intuição de que o real é realmente o real, de que o transcendente é realmente o transcendente e que todo nosso “eu” está imerso nesta realidade. A oração é o meio pelo qual estabelecemos uma relação consciente, deliberada e voluntária com Deus. É dirigir nossa afetividade até onde a intuição tem assinalado. Por isso, como dita a questão 658 da obra basilar, “a prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo coração”.

FE- Quais as contribuições da prece na vida do ser humano?

Montanelli – No Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XXVII, está expresso que podemos orar por nós mesmos, por outras pessoas, pelos vivos e pelos mortos. E, na resposta à questão 659 de O Livro dos Espíritos, os Espíritos Superiores esclarecem que pela prece podemos nos propor a três coisas: louvar, pedir e agradecer. Quanto à última informação, entendemos não se referirem os espíritos apenas aos três tipos de prece, mas, também, a uma sequência lógica que resume toda a psicologia da oração. Louvar, porque é o sentimento que brota espontâneamente na relação eu-tu de que fala o filósofo Martin Buber; pedir porque é a expressão da nossa sinceridade, daquilo que sentimos ser importante para nós; mim e, agradecer, como reconhecimento frente à resposta que recebemos de Deus. No dizer do psicólogo transpessoal Antonio Blay, ao nos aproximarmos de Deus, ocorre uma transformação interior, onde o silêncio e a paz harmonizam o corpo e a mente. Esse estado de espírito pode, também, ter ação e permitir transformações exteriores.

FE- O que seriam essas transformações exteriores?

Montanelli – Ao dizer isso, não estamos falando só de uma mudança psicológica, em virtude de um estado mais ou menos elevado de consciência, mas, também, de um efeito exterior sobre as pessoas, os fatos e as situações que são estranhos ao nosso modo de ser consciente. A melhor resposta é quando possibilitamos que Deus se expresse sem travas através de nós. Deus não pode ser modificado; mas, sim, a sua expressão através do nosso eu, pois tudo o que nós vivemos é expressão Dele. Todavia, se em nosso interior algo estiver fechado, sua expressão não pode ser livre e total. Pelo contrário, expressa-se de maneira distorcida, e essa distorção é o que nós chamamos de problema. Abrir-se a Deus é abrir nosso canal à fonte, para que Ele, com seu poder e sua inteligência, expresse-se de modo direto, por nosso intermédio. É essa canalização direta com Deus que enseja a cada um de nós transformar muitos dos nossos problemas. Deus pode, dessa forma, penetrar mais e mais no recôndito de nossa consciência, constituindo isso a base de toda transformação humana.

FE- É ai que entra a oração?

Montanelli - A oração é o ato fundamental através do qual Deus entra, ativamente, em nossas vidas. Com o fluxo inspirativo, que provém Dele, colocamo-nos no rumo certo de nossas aspirações superiores. Porque, como diz O Livro dos Espíritos, na questão 660, aquele que ora com fervor e confiança se faz mais forte contra as tentações do mal. Para ele, Deus envia os bons espíritos a fim de assisti-lo, o que nos faz lembrar do “orai e vigiai” ressaltado por Jesus. No momento da prece, a pessoa recebe energias de natureza superior que a auxiliam na superação dos automatismos inferiores, cultivados em vidas passadas, na sua caminhada de auto-iluminação. O espírito Santo Agostinho, no Capítulo XXVII de O Evangelho Segundo o Espiritismo, quando fala sobre a oração, a coloca como filha primeira da fé a nos conduzir ao caminho que nos leva a Deus.

FE- O que as pessoas buscam ou deveriam buscar na prece?

Montanelli - Sabemos que o primeiro e grande mandamento é o “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito”, mas ainda não temos consciência da grandeza desse ensinamento, porque não temos a autoconsciência desenvolvida. Não sabemos ainda eleger o que realmente importa para nossas almas. O nosso amado mestre Jesus foi conclusivo ao afirmar que “quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a sua vida por minha causa, este a salvará”. A oração de petição não deve ser, portanto, aquela que impõe a Deus a nossa maneira de ver as coisas. Se entendemos Deus como o Ser Absoluto, que está acima de tudo e de todos, automaticamente, passamos a valorizá-Lo. Enquanto estivermos fixados, porém, tão-somente naquilo que queremos, orando e pensando só nisso, estaremos colocando as coisas sem importância no lugar de Deus.

FE- Então precisamos ser mais criteriosos em nossas preces?

Montanelli - Quando me dirijo a Deus e expresso o desejo de algo que para mim é importante, mas sentindo que Deus é Deus e me desprendo do que desejo, permito que Ele penetre em mim. Se eu retiver, porém, dentro de mim, coisas que não são importantes, elas acabam se tornando um véu ou um substituto da realidade, que impede a minha real comunicação com o Criador. Ao falar com Deus, não devo simplesmente fazer pedidos, mas demonstrar que estou atento a Ele. Com isso, produz-se em mim um estado de elevação que torna possível à energia de nível superior expressar-se, através de minha personalidade, em todos os níveis. Essa é a base da oração de petição e a consequente resposta.

FE- A prece deve ser um hábito natural?

Montanelli - A oração precisa ser uma expressão natural, sincera e espontânea do sentimento da criatura para com o Criador. Orar é religar. Agora, se pensamos na evolução em termos de transcendência do eu e de identificação com o Eu Superior ou com a presença de Deus que há dentro de nós, acho que essa necessidade de religação espontânea vai fazendo da oração um hábito natural.

FE- O fato de a prece estar atrelada a questões religiosas faz com que muitos cientistas a vejam como algo milagroso e não terapêutico?

Montanelli - O Dr. Curlin, professor assistente de Medicina da Universidade de Chicago, e cols. Em recente artigo (1) demonstraram que as opiniões dos médicos sobre a influência da religião e da espiritualidade dependem de suas crenças religiosas. Segundo Curlin, os médicos que não são religiosos afirmam que seus pacientes não trazem à tona temas religiosos ou espirituais e pensam que a religião afeta suas vidas de forma negativa. E os médicos que são religiosos afirmam que seus pacientes trazem à luz temas religiosos e que a religião tem uma influencia positiva. Por essa razão, há alguns cientistas que questionam a pesquisa sobre a prece e até acham que não se deveriam utilizar os fundos públicos para esse tipo de investigação. Mas, para esses que não crêm, fica mais difícil explicar a eficácia da oração intercessora. Nesses casos, os pacientes ignoram que as pessoas estão orando por eles, e mesmo assim melhoram. E essa melhora não pode ser explicada pelo efeito placebo.

FE- É verdadeira a informação de que já existem centenas de trabalhos científicos sobre prece publicados, todos eles demonstrando ações benéficas sobre a saúde humana?

Montanelli - Na verdade, não poderia responder-lhe com certeza sobre o número de trabalhos publicados, embora possa dizer que se trata de um número bem expressivo porque há notícias deles em vários sites como Medline, PubMed, PsycInfo. Para falarmos em termos numéricos, tudo depende do período de tempo que estamos considerando. Por exemplo, quando se faz uma revisão bibliográfica para se fazer uma pesquisa, geralmente se consideram os últimos cinco anos. Se o que a gente quer fazer é uma revisão histórica, então, podem se pegar períodos muito mais longos. O que eu posso dizer é que, segundo a PubMed, que é a base de dados da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos, de 2000 a 2007 foram feitas sete revisões bibliográficas e quatro metanálises. Tanto as revisões como as metanálises, que são estudos estatísticos sobre os resultados obtidos nas pesquisas, abrigam um grande volume de casos.

FE- Você poderia detalhar um pouco mais essas pesquisas?

Montanelli – Na década de 70, o Dr.Herbert Benson, cardiologista e diretor do Instituto Mind-Body da Universidade de Harvard (EUA), estudando a resposta do corpo quando se realizam diferentes práticas como oração cristã, meditação transcendental, biofeedback, hipnoses, treinamento autógeno e relaxamento progressivo, descobriu que o corpo reagia do mesmo modo em todos os casos, reação que ele denominou como resposta de relaxamento. Segundo Benson, todas as formas de oração produzem uma resposta de relaxamento que combate o estresse, acalma o corpo e promove a cura. Existem dois grandes estudos, que são considerados como referências sobre a eficácia da oração intercessora na saúde coronária, dentro da literatura biomédica. O cardiologista Randolph Byrd fez o primeiro estudo clinico sobre a oração a distância no Hospital Geral de São Francisco, em 1988. Ele dividiu 393 pacientes cardíacos em dois grupos. Um grupo recebeu orações sem saber, enquanto que o outro não. Os pacientes pelos quais não se rezou necessitaram de mais cuidados e foram mais propensos a sofrerem complicações. Os mesmos resultados foram obtidos em uma pesquisa realizada por Harris e cols., em 1999. Posteriormente, fizeram muitos estudos com resultados favoráveis no tratamento de afecções do coração, aids, artrite reumatóide, entre outras doenças, incluindo experimentos semelhantes sobre animais e plantas. Uma revisão bibliográfica publicada em 2005, por Coruh e cols., revelou que a oração intercessora pode melhorar índices do êxito da fertilização in vitro, diminuir o tempo de internação no Hospital, a duração da febre em pacientes sépticos, aumentar a função imune, melhorar a artrite reumatóide e reduzir a ansiedade. A atenção freqüente nos serviços religiosos melhora provavelmente comportamentos de saúde. Por outra parte, a oração intercessora pode diminuir resultados adversos em pacientes com enfermidade cardíaca. Em síntese, a atividade religiosa pode melhorar resultados da saúde”.

Referências:

“Parapsychological Association é um organismo fundado por J.B.Rhinepara agrupar os parapsicólogos de todo o mundo, com sede nos Estados Unidos.

Farr A. Curlin, MD, Assistant Professor of Medicine, University of Chicado.

1- Farr A. Curlin, MD; Sarah A. Sellergren, MA; John D. Lantos, MD; Marshall H. Cin, MD, MPH Physicians’ Observations and interpretations of the influence of Religions and Spirituality on Health publicado nos Archives of Internal Medicine, Vol. 167 N. 7, April 9, 2007.

www.folhaespirita.com.br

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