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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Comércio contestado

Richard Simonetti

richardsimonetti@uol.com.br

As cerimônias do culto judeu, em datas significativas, eram celebradas no famoso Templo de Salomão. No Pátio dos Gentios, muros adentro, onde se concentrava a multidão, fervilhava intenso comércio, com dezenas de barracas, assemelhando-se a um mercado agitado e barulhento. Eram vendidos bois, ovelhas, pombos para os sacrifícios, bem como incenso, óleo e outros apetrechos do culto. Vendia-se também comida.

Cambistas trocavam as moedas estrangeiras para os judeus residentes em outros países. As contribuições tradicionais deviam ser em siclos, a moeda corrente na Palestina. As estrangeiras tinham efígies pagãs. Usá-las seria uma heresia no recinto sagrado.

Previsivelmente, tratando-se do bicho homem, excessos e explorações eram cometidos por comerciantes e cambistas, tão interessados em encher suas bolsas de dinheiro quanto os peregrinos em cumprir seus deveres religiosos.

Dirigindo-se eles, disse Jesus, lembrando observações dos profetas Isaías (56:7) e Jeremias (7:11): – Está escrito: minha casa será chamada casa de oração. Vós, porém, a fazei covil de ladrões…

O episódio é relatado também pelos demais evangelistas, que o situam no final do apostolado de Jesus. João o coloca no início. Em seu favor temos o fato de que teria sido testemunha ocular. Estava com Jesus. Mateus seria convertido mais tarde. Marcos e Lucas não conviveram com ele.

Todos os evangelistas comentam que as afirmativas de Jesus foram precedidas de uma atitude chocante e insólita. João a descreve assim: …e tendo feito um azorrague de cordéis, expulsou a todos do templo, as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas e virou as mesas.

Este detalhe sempre me pareceu indigesto. Não consigo imaginar Jesus com um chicote na mão, derrubando bancas, espantado animais, semeando confusão. Fariam algo semelhante Mahatma Gandhi, Francisco de Assis, Chico Xavier?… Por que Jesus, acima de todos eles; muito mais que missionário – um preposto de Deus – haveria de fazê-lo?

Reações dessa natureza, ainda que inspiradas na indignação diante do erro, são próprias da imaturidade, que resvala facilmente para a agressividade. Jesus exaltava a mansuetude; ensinava a humildade e a brandura; advertia que a violência gera a violência; destacava que pessoas comprometidas com o erro precisam de orientação, não de retaliação. Longe do fiscal truculento era um médico das almas.

A sua missão era eliminar a maldade estimulando o bem, algo incompatível com a violência. Ninguém cura uma ferida pisando nela. Confrontemos essa suposta reação com sua serenidade diante do julgamento que deu início ao drama do calvário, situação incomparavelmente mais grave, que perpetrou flagrante e execrável injustiça. Concluiremos que Jesus jamais agiria como está registrado.

Considere, leitor amigo, que aquele comércio estava no contexto do culto. Favorecia os peregrinos. Se animais e aves eram usados no cerimonial, alguém devia fornecê-los. Se havia necessidade de trocar moedas, mister a presença dos cambistas. Entre advertir quanto aos excessos e agredir os comerciantes há um abismo.

É preciso observar, na análise do Evangelho, o joio dos interesses humanos misturado ao trigo das revelações. Durante séculos os textos evangélicos eram manuscritos. Nem sempre os copistas guardavam fidelidade aos originais, na base de quem conta um conto aumenta um ponto – ou o suprime.

Até que os textos definitivos fossem compilados, a partir do século V, inúmeras adulterações aconteceram. Provavelmente a suposta violência no templo tenha sido uma delas. Era importante para os teólogos dos primeiros séculos configurar a rejeição de Jesus àquelas práticas que não faziam parte do culto cristão.

Outro detalhe estranho: Jesus referir-se ao templo como a casa de Deus. A morada divina é o Universo. Deus está em toda parte, não apenas no interior de edificações consagradas ao culto. E o santuário sagrado onde devemos cultuar a divindade está em nosso próprio coração. Esse o pensamento de Jesus, que explicava: O Reino de Deus está dentro de vós (Lucas, 17:21).


Ficheiro:Jerusalem Modell BW 2.JPG

Modelo do Templo de Herodes exposto em museu de Jerusalém

Imagem: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Jerusalem_Modell_BW_2.JPG


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