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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Integração dos modelos terapêuticos na perspectiva evolucionista

Entrevista com André Luiz Peixinho

Publicada na Folha Espírita em julho de 2008

Por Ismael Gobbo igobi@uol.com.br

Medinesp 2007 – 150 anos em busca da integração corpo-mente-espírito

O médico André Luiz Peixinho, 56 anos, é graduado também em Filosofia e Psicologia, neste caso, com especialização em Psicologia Clínica, mestrado em Medicina Interna e doutorado em Educação. Atualmente, é professor adjunto da Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública. No Medinesp, o congresso da Associação Médico-Espírita, ocorrido em junho de 2007, ele tratou do tema Integrando os Modelos Terapêuticos numa Perspectiva Evolucionista, sobre o qual conversou com a Folha Espírita:

Quais os modelos terapêuticos que devem ser integrados, para atender a saúde das pessoas, levando-se em consideração o espírito?
André Luiz Peixinho - Considero que é importante integrar, primeiro, as áreas do conhecimento, ou seja, a filosofia, a ciência, a religião e a arte. Se fizermos isso, veremos que em todos os campos existe um modelo terapêutico que leva em consideração o espírito. Precisamos aproveitar todas as experiências humanas e, na verdade, alinhá-las conforme o estágio evolutivo em que elas se encontram. A partir daí, então, devemos escolher os modelos que são mais adequados para cada situação, para cada pessoa, e para cada momento cultural e histórico. Então, todos os modelos hoje existentes, mesmo os fragmentários, podem servir, desde que contenham uma idéia diretora e organizadora das suas propostas.

Por que muitos profissionais ainda resistem a essa integração?
Peixinho - Em primeiro lugar, porque cada um, ao trabalhar num determinado modelo, acostuma-se a ver a sua realidade como se fosse um todo. Então, define o mundo a partir de sua própria experiência, generalizando indevidamente. Este parece ser o motivo principal da resistência encontrada. Além disso, a comunicação entre os modelos ainda é difícil porque eles quase são incomensuráveis, isto é, lidam com realidades diferentes.

Dentro de uma perspectiva evolucionista, é possível prever qual será o modelo terapêutico mais utilizado no futuro?
Peixinho - Eu não diria qual o modelo terapêutico, mas qual a idéia diretora que organizará os diferentes modelos terapêuticos. Uma das características é que ela leve em consideração que o ser humano é, ao mesmo tempo, um ser coletivo, porque é humano, e, ao mesmo tempo, individual, singular e único, porque está em fase evolutiva diferente. Uma segunda característica é considerar relevante a multidimensionalidade do ser humano. Há aspectos da saúde que são biológicos, sociais, psicológicos, afetivos, de um modo geral; há aspectos que são espirituais, mediúnicos, interexistenciais, palingenésicos. O modelo que conseguir integrar o maior número de dimensões e suas práticas terá mais chance de sucesso.

O senhor acredita que os livros do professor de Física Quântica, Amit Goswami, têm trazido contribuição importante para essa integração? Que acrescentaria à contribuição dele?
Peixinho - Ele faz uma abordagem a partir da Física Quântica que desafia os profissionais da área de Saúde a praticarem a sonhada integração dos modelos. Isso é de extrema relevância, partindo de alguém que é de fora do campo, e constitui uma visão auxiliar muito importante. Ele consegue lidar, por exemplo, com a Medicina Ayurvédica, com a Homeopatia, a Acupuntura e com a Medicina Alopática. Não é a totalidade das possibilidades terapêuticas, mas é um significativo avanço tentar identificar uma estrutura comum para atuar com esses modelos. Além disso, falta uma perspectiva evolucionista na integração dos modelos supramencionados.

O senhor tem feito palestras procurando difundir e aplicar o novo paradigma que visa à saúde do ser humano integral. Acredita que tem havido avanços na aceitação desse modelo?
Peixinho - É claro, acredito que tem havido muitas modificações culturais. Hoje, o tema espiritualidade já é estudado numa rede universitária; já temos algumas brechas na própria legislação, nos currículos de Medicina, de modo que o que falta agora é uma implementação, uma organização prática, para demonstrar a sua própria validade. Esse é o atual estágio em que estamos tentando nos organizar, lá na Bahia, com a instituição que fundamos, denominada Sociedade Hólon (SH).

Que é a Sociedade Hólon?
Peixinho - A Sociedade Hólon é uma entidade sem fins lucrativos que desenvolve práticas profissionais com base na visão de mundo centrada no espírito. Por isso, atua em saúde e educação, por meio de seus centros de trabalho, todos eles voltados para a formação de estudantes de graduação e pós-graduação em parceria com universidades. Hoje, concentramos nossos esforços no Complexo Comunitário Vida Plena, que serve a uma comunidade de duas mil pessoas, no Centro de Estudos Universitários, que realiza diversos cursos de transdisciplinaridade aplicada, e o Centro de Aperfeiçoamento da Pessoa, com atividades de autoconhecimento e percepção espiritual. Recentemente, publiquei o livro A Face Eterna do Ser, uma coletânea de artigos populares que enfoca o pensamento espírita e suas contribuições para o conhecimento transdisciplinar, baseado no espírito, que fundamenta as atividades da SH.

Você vem falando sobre a necessidade de o médico levar em conta o diagnóstico psíquico do paciente e não apenas as sintomatologias físicas. Isso tem sido usudo por muitos médicos?
Peixinho - Não, evidentemente, pois a maioria dos médicos trabalha em sua especialidade. Quando esses profissionais trabalham com exames psíquicos, são psiquiatras, e com os exames médicos biológicos, são clínicos, de um modo geral. O que estamos tentando fazer é reconstruir o exame médico para que os estudantes da atualidade tenham acesso a uma abordagem integrada, como hoje já recomenda o Ministério da Saúde, ou seja, um exame biopsicossocioambiental, pelo menos.

O registro do diagnóstico psíquico pode fazer parte do prontuário do paciente, ao lado das anotações dos sintomas físicos?
Peixinho - Em algum momento, esse registro vai se tornar comum. Tanto as observações e informes mediúnicos de sensitivos como também as experiências de variações da consciência do próprio paciente serão de muita utilidade. Isso vai demandar um certo tempo, mas entendo que os espíritas poderão ser um grupo de pacientes que facilite isto, até porque reconhecem tais informações como válidas. Quando forem pacientes, poderão permitir que se integre a base mediúnica no sistema diagnóstico, no sistema informacional, o que, sem dúvida, me faz antever um avanço significativo na qualidade da atenção à saúde.

Você acha que a mediunidade curadora deve ser incentivada, nas nossas casas espíritas, pela formação de grupos que visitem enfermos para orar e aplicar passes?
Peixinho - Já existe uma base científica, inclusive fora do meio espírita, para justificar esse tipo de prática. A teia de relações humanas melhora a qualidade de vida das pessoas. As terapêuticas espirituais e a elevação espiritual dos pacientes seguramente são causa de bem-estar, de aceitação do sofrimento, afora os resultados de melhora psicofísica, já relatados na literatura especializada. Então, nesse aspecto, penso que isso já está justificado. Entretanto, há um campo que ainda não foi muito bem explorado, que é o da pesquisa interexistencial com produção diagnóstica, exames complementares, dentre outras. Seria interessante que nós, espíritas, tivéssemos, por exemplo, de alguma sorte, interlocutores-consultores que orientassem a terapêutica para uma visão evolutiva, para uma visão reencarnacionista, até porque algumas doenças orgânicas já são uma terapêutica para disfunções espirituais ou perispirituais. Essas informações melhorariam significativamente nosso cuidado com as pessoas.

Tanto o senhor como muitos conferencistas internacionais falam em educação para a morte. Acredita que seria bom os médicos terem essa visão?
Peixinho - Penso que a educação para a morte não deve ocorrer apenas quando o evento esteja em vias de acontecer, porque, nessa circunstância, há pouco tempo para aprendizagem. Parece-me que o tema deve fazer parte dos currículos educacionais, de um modo geral. A morte é um evento esperado, variando para mais ou menos tempo. E, é claro, que ela desperta muita ansiedade, muita angústia existencial, num mundo que é eminentemente corporal e egóico. Assim, a educação para a morte deve ser voltada para o bem viver, processo do qual a morte é uma conclusão. Claro que atender os pacientes que chamamos de doentes terminais já é significativo, porém deveria ocorrer bem mais precocemente.

Quais as contribuições mais importantes da Sociedade Hólon na produção de um modelo integral de atenção à saúde?
Peixinho - No estágio atual de sua organização, a Sociedade Hólon trabalha em algumas ações específicas preliminares. Entre elas, destacamos: um modelo de anamnese biopsicossocioespiritual, com uma equipe interdisciplinar, num centro de saúde da família; um grupo de pesquisa anímica e mediúnica para identificar sensitivos com capacidade diagnóstica e terapêutica; e um núcleo de estudos sobre saúde e transdisciplinaridade, para analisar os modelos de promoção, prevenção, terapia e reabilitação, e definição de um modelo integrativo.

* O e-mail de André Luiz Peixinho é andrepeixinho@bol.com.br

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