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sábado, 5 de fevereiro de 2011

Parnaso de Além-Túmulo em tese de mestrado na Unicamp

Alexandre Caroli Rocha

Foto Alexandre Favarin, Campinas, SP

Entrevista com Alexandre Caroli Rocha por

Ismael Gobbo igobi@uol.com.br

Publicada na Folha Espírita,

Fevereiro de 2008 - Edição número 402

O primeiro livro de Chico Xavier, Parnaso de Além-Túmulo, uma antologia mediúnica com 259 poemas de 56 autores de Língua Portuguesa, completou, no ano passado, 75 anos. A obra foi objeto de estudo de um mestrado em Literatura na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 2001. Seu autor, Alexandre Caroli Rocha, pesquisa atualmente, na mesma universidade, os livros de Chico Xavier assinados por Humberto de Campos e Irmão X. Abaixo, Rocha, que participa do Grupo de Estudos Espíritas da Unicamp, fala sobre sua pesquisa:

Folha Espírita : Qual sua formação acadêmica?
Alexandre Caroli Rocha : Graduei-me em Letras, na Unicamp, onde concluí o mestrado, em 2001. Atualmente, curso o doutorado.

FE : O que o levou a discorrer sobre o livro Parnaso de Além-Túmulo em sua dissertação de mestrado?
Rocha : Durante meu curso de Letras, ganhei de presente um exemplar do Parnaso de Além-Túmulo. Aos poucos, o livro foi me instigando. Como teriam sido produzidos todos aqueles poemas? Eles são atribuídos a 56 escritores mortos: alguns são poetas consagrados da Língua Portuguesa, outros são pouco conhecidos ou mesmo anônimos. Escrever convincentemente poemas à maneira desse ou daquele poeta demanda não apenas talento especial, mas muita leitura e muita técnica; no entanto, no prefácio do livro, Chico Xavier dizia que os versos eram psicografados e que ele não havia despendido esforços intelectuais para escrevê-los. Fui me interessando pelo tema e fiquei surpreso ao saber que, embora tão lida e comentada no Brasil, havia raríssimos estudos sobre literatura mediúnica nas universidades. Foram mais ou menos esses os fatores que me motivaram a estudar o primeiro livro de Chico Xavier em minha pesquisa de mestrado, que foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

FE : Quais pontos destaca de sua pesquisa?
Rocha : Vou mencionar dois pontos. A primeira edição de Parnaso de Além-Túmulo (1932) era bem menor do que a edição definitiva (1955). Antes desta, a cada nova edição o volume ia crescendo; novos poemas e novos autores eram acrescentados e alguns poemas foram suprimidos. Havia também revisões, igualmente atribuídas aos autores espirituais; era uma obra em construção. Ora, esse processo sugeria que alguém estava encaminhando a antologia para alguma direção, visto também que, no mesmo período, outros livros de poemas psicografados por Chico Xavier foram publicados. Haveria, assim, um planejamento particular ao Parnaso, que demorava a chegar em sua forma definitiva? Ou se tratava de um acúmulo aleatório de poemas? Analisando o histórico das edições, cheguei à conclusão de que sua versão final pretendeu abranger, sob a forma poética, os principais temas de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.

FE : E quem seria o mentor desse plano editorial?
Rocha : É uma questão complicada... Acho que as duas principais referências que esclarecem boa parte das questões editoriais dos livros de Chico Xavier publicados pela Federação Espírita Brasileira (FEB) são Testemunhos de Chico Xavier (FEB, 1986), organizado por Suely Caldas Schubert, e o recente Deus Conosco (Vinha de Luz, 2007), atribuído a Emmanuel e organizado por Wanda A. Joviano e Geraldo Lemos Neto. Normalmente, Emmanuel, por escrito, através de Chico, tomava as decisões editoriais, que não eram definitivas ou impositivas. Chico as repassava para o presidente da FEB da época (1943-1970), Antonio Wantuil de Freitas, que quase sempre as acatava. As diretrizes para o Parnaso de Além-Túmulo também foram atribuídas a Emmanuel.

FE : Você iria destacar o segundo ponto da pesquisa...
Rocha : Pois é, o Parnaso de Além-Túmulo possui duas linhas de força: o seu núcleo temático, que aponta a O Livro dos Espíritos, e sua tentativa de combinar conteúdos espiritualistas (os quais representam uma novidade em relação à obra de grande parte dos poetas mencionados na antologia) com a reprodução das vozes poéticas peculiares dos autores a quem os versos são atribuídos. Como se percebe, um trabalho de extrema dificuldade. Quanto aos poemas que analisei, foi possível constatar que existe um extraordinário domínio, por parte de quem os concebeu, das particularidades poéticas dos escritores a quem são imputados.

FE : Como ter acesso à pesquisa?
Rocha : Está disponível na internet, na biblioteca digital da Unicamp. O título é A Poesia Transcendente de Parnaso de Além-Túmulo. Deve-se digitar http://libdigi.unicamp.br/. E depois parnaso. Outro site que recomendo a quem se interessar por pesquisas com temáticas espiritualistas é http://www.hoje.org.br/site/artigos.php

FE : Na tese de doutorado que prepara também enfocará a literatura mediúnica?
Rocha : Desta vez, estudo os livros que Chico Xavier atribuiu a Humberto de Campos e a Irmão X. Um dos objetivos da pesquisa é tentar entender quais foram os procedimentos textuais utilizados na série mediúnica que procuraram fundamentar essa atribuição de autoria. A história dessa produção é incrível: de 1935 a 1944 Chico Xavier atribuiu a Humberto de Campos a autoria de cinco livros. Naquela época, Humberto era um dos escritores mais conhecidos e lidos no Brasil. Em 1944 sua família entrou na Justiça, requerendo os direitos autorais da obra mediúnica ou alguma punição aos seus responsáveis. No ano seguinte, por causa do processo, o nome Humberto de Campos deixou de aparecer como autor da série; com Lázaro Redivivo, surgia o Irmão X. Em várias narrativas do livro, de forma alegórica, o autor discute o processo judicial de 1944.

FE : Há muitos trabalhos acadêmicos que abordam temas espíritas no Brasil?
Rocha : Embora tenha crescido nas últimas três décadas, o número de trabalhos acadêmicos que abordam temas espíritas, por enquanto, é baixíssimo. Surgiram algumas teses em Ciências Humanas e Ciências Médicas, como as de Emerson Giumbelli, Sandra Stoll, Magali Oliveira, Bernardo Lewgoy, Angélica Almeida, Jáder Sampaio, Ana Catarina Elias, Frederico Leão e Alexander Moreira de Almeida, entre outras. Acredito que o Brasil pode ser um excelente laboratório para o desenvolvimento de pesquisas com temáticas espíritas, em especial sobre os mais diversos aspectos da mediunidade. Material de pesquisa é o que não falta.

Analisando o histórico das edições, cheguei à conclusão de que sua versão final pretendeu abranger, sob a forma poética, os principais temas de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec.

Imagem FEB

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