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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Realidade fisiológica e realidade espiritual

ENTREVISTA COM DÉCIO IANDOLI JÚNIOR

PUBLICADA NA FOLHA ESPÍRITA, AGOSTO 2007.

Ismael Gobbo igobi@uol.com.br

Médico formado pela Universidade São Francisco, em Bragança Paulista (SP), Décio Iandoli Júnior é cirurgião geral e especialista em Cirurgia do Aparelho Digestivo. Possui doutorado em Medicina pela Universidade Federal Paulista – Escola Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM). É professor titular da cadeira de Fisiologia dos cursos de Biologia, Fisioterapia e Farmácia da Universidade Santa Cecília (Unisanta) e ministra a disciplina de Envelhecimento e Espiritualidade, no curso de Gerontologia na mesma universidade. É o atual vice-presidente da Associação Médico-Espírita de Santos (AME-Santos) e membro atuante da AME-Brasil e AME-Internacional. Colaborador do Centro Espírita Dr. Luiz Monteiro de Barros, em Santos (SP), é também autor dos livros Fisiologia Transdimensional, Ser Médico e Ser Humano, A Reencarnação como Lei Biológica e Um Homem no Fundo do Espelho, seu último lançamento. Além disso, apresenta o programa Ciência e Espiritualidade, pela TV Mundo Maior da Fundação Espírita André Luiz e pela TV CEI na internet.

FE - O que podemos chamar de realidade fisiológica e realidade espiritual?
Iandoli - A realidade fisiológica é essa reconhecida pela Neurofisiologia e que está na dependência do estímulo do meio ambiente e da resposta do sistema nervoso, o que, num estudo mais profundo, vai nos levar a entender que é uma realidade "construída" pelo nosso córtex cerebral. Já a realidade espiritual é a do plano extrafísico, está em outra dimensão. Eu coloco em Fisiologia Transdimensional, meu primeiro livro, a teoria do Dr. William Tyller, que mostra, matematicamente, essas duas dimensões, que seriam a dimensão espaço-tempo positivo e a espaço-tempo negativo. O que ocorre é que, segundo alguns estudos de neuroimagem funcional, essa realidade espiritual não depende de interpretação cortical, ou seja, ela é percebida de forma direta pelo cérebro, circunstância que a torna mais "real" que a percepção fisiológica que costumeiramente chamamos de "realidade".

FE - A ciência comprovou a realidade material?
Iandoli - Sim, pelo conhecimento da interação que há entre nosso cérebro e o meio ambiente em que vivemos, e por constatar que os estímulos recebidos geram interpretação e resposta. Entretanto, essa realidade material não é exatamente como imaginávamos, e a Física, desde Einstein, tem percebido isso.

FE - Como explicar o interesse da ciência pela realidade espiritual?
Iandoli - Por conta do esgotamento do paradigma materialista, ou seja, conhecemos com certa profundidade a Neurofisiologia e ainda não conseguimos explicar a consciência nem a mente apenas pela vertente fisiológica. Com isso, temos de redirecionar o escopo das pesquisas buscando olhar para outros horizontes. E, nesse sentido, é o paradigma espiritualista que se nos apresenta.

FE - De que maneira a realidade espiritual pode interferir na fisiológica?
Iandoli - Acredito que essa interferência aconteça o tempo todo, na medida em que a realidade fisiológica, a da interpretação, é comandada pela consciência, ou melhor, pelo espírito, em verdade o responsável por esse processo de interpretar. Assim, não podemos duvidar da constância dessa interferência e, com ela, podemos responder o porquê de sermos tão diferentes uns dos outros, já que cada um de nós tem a sua realidade espiritual calcada no grau evolutivo respectivo, respondendo de forma diferenciada mesmo quando submetidos aos mesmos estímulos e vivendo idênticas situações.

FE - Como e quando isso ocorre?
Iandoli - Acredito que acontece dentro da perspectiva de que o "eu", ou seja, a nossa personalidade, o nosso princípio inteligente, determina a nossa realidade material. Podemos encaixar a teoria quântica nesse tipo de pensamento e, então, concluiremos até que a realidade espiritual tem interferência mais significativa sobre a fisiológica do que esta em relação àquela. No entanto, o que realmente ocorre é uma interação, uma integração, motivo pelo qual encarnamos, para experimentar a vivência corporal, entre estímulos, reações e aquisição de conhecimentos e vivências que nos possibilitam o progresso espiritual. Creio que os momentos mais marcantes dessas ocorrências são quando nos encontramos mais abertos à inspiração e à intuição, circunstâncias mais ou menos comuns a todas as pessoas. No médium, a constatação se torna mais óbvia em face da própria ação da faculdade mediúnica, porém não podemos imaginar que alguém tenha deixado de experimentar esse fenômeno pelo menos uma vez na vida com as alterações neuroendócrinas naturalmente advindas desse tipo de ocorrência.

FE - O que pode isso acarretar para a estrutura física?
Iandoli - Temos aí que considerar os dois lados da moeda. Pode propiciar equilíbrio e saúde, a homeostase, quando a interferência for benéfica e positiva, ou desencadear doença e desequilíbrio, quando esse tipo de interferência for maléfica, negativa.

FE - A realidade fisiológica pode interferir na espiritual?
Iandoli - Sim, e esse deve ser o motivo da encarnação. Se imaginássemos que a realidade fisiológica não interferisse nos padrões espirituais, não teria sentido estarmos encarnados. Na verdade, estamos defronte de uma via de mão dupla.

FE - Por que as filosofias e as religiões já interagem com a realidade espiritual de forma natural, enquanto a ciência ainda é resistente?
Iandoli - Eu creio que o homem pode procurar a verdade a partir de três caminhos: ciência, filosofia e religião. A religião como caminho único seria para os mais afoitos, aqueles que almejassem alcançar a Deus de forma rápida e experimentando a verdade de forma quase que instantânea. Porém, ela comete erros e nem sempre palmilha caminhos seguros. A ciência já seria a porta para os precavidos, ou seja, aqueles que precisam de uma informação segura e comprovada para poder construir o seu conhecimento. Poderíamos dizer que nesse diapasão ela não erraria, ou erraria pouco, mas com a perspectiva de avanços muito lentos provocando certo distanciamento de Deus. A filosofia vejo como aquela situada no meio termo, a que propicia a interação, porque fornece portas para a ciência e ao mesmo tempo orienta a religião pela razão e pela lógica. A grande vantagem do espírita é que encontra todos esses caminhos em um só, ou seja, a ciência, a filosofia e a religião a um só tempo na doutrina de Kardec, de sorte a não existirem mais três caminhos, mas, apenas um, que consegue integrar nossos conhecimentos e sentimentos e nos propicia caminhar para Deus com rapidez e segurança.

FE - Por que nós, encarnados, temos a facilidade de nos apegar tanto aos bens materiais?
Iandoli - É porque somos bombardeados constantemente pelos estímulos materiais e isso acaba condicionando o encarnado a ter sua atenção voltada para as coisas materiais. Acabamos elegendo isso como prioridade em nossas vidas.

FE - Nós fazemos um planejamento no mundo espiritual antes da nossa encarnação. O desvio seria por conta do esquecimento do passado?
Iandoli - Na minha maneira de ver, o grande mérito do encarnado na Terra, um mundo onde ainda prepondera o imediatismo pernicioso, é conseguir manter a sua sanidade espiritual diante dos apelos ilusórios do mundo materialista, a altivez diante das necessidades diversas e o esforço contínuo para não se desviar dos objetivos principais estabelecidos na espiritualidade e que a consciência sempre está a sinalizar, ainda que presente o esquecimento temporário do passado.

FE - Qual a mensagem que o senhor deixaria para o leitor em geral, particularmente aos espíritas, diante das escolhas equivocadas ou do desculpismo para deixar de fazer alguma coisa?
Iandoli - Eu não sou ninguém para ditar o que alguém deve ou não fazer, não tenho tal competência e ainda luto por meu próprio equilíbrio. Vou apenas dizer o que tenho tentado fazer. Procuro estudar o Evangelho e seu significado; busco, antes de dormir, fazer uma auto-avaliação para saber se cometi algum erro ou tomei algum caminho equivocado para tentar corrigi-los no dia seguinte; procuro me orientar com outras pessoas mais experientes que eu e, acima de tudo, colocar Jesus no meu coração.

FE - Pelo que aprendemos nas obras espíritas, esses equívocos mal resolvidos são as causas das nossas desilusões na chegada ao mundo espiritual...
Iandoli - Eu acho que se conseguirmos viver sem expectativas, seremos felizes. A expectativa é aquilo que achamos que o outro deve fazer ou aquilo que achamos que deva acontecer em nossas vidas para sermos felizes. Vivendo sob essa perspectiva, a pessoa certamente se decepcionará, porque nenhum de nós tem controle algum sobre o que está fora de nós mesmos. E a decepção trará maus resultados, porque, via de regra, faz emergir a mágoa e esta acaba fazendo brotar o ódio. Viver assim, sem expectativas, na minha opinião, equivaleria a fazer o máximo que pudermos pelos outros e por nós mesmos, sem esperar recompensa alguma, tal qual nos ensinou Jesus.

Agosto de 2007 - Edição número 396

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