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terça-feira, 5 de abril de 2011

Energia nuclear é a melhor alternativa?

ENTREVISTA PUBLICADA NA FOLHA ESPÍRITA

ABRIL, 2011

Humberto Werdine no escritório da ONU

Comecei minha vida profissional como engenheiro júnior, na construção da primeira usina nuclear brasileira, em Angra dos Reis (RJ), onde permaneci até atingir o posto máximo de diretor da usina nuclear Angra 1. Quando a usina nuclear Angra 2 estava em fase final de construção, fui transferido, mas tive a oportunidade de ajudar a trazer essa usina à plena operação e o privilégio de ser seu primeiro diretor chefe.

Como a vida sempre nos apresenta novos caminhos, em 2001, tive a honra de ser convidado para trabalhar em Viena, Áustria, na Organização das Nações Unidas (ONU), como especialista sênior de Segurança Nuclear, num cargo diplomático na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Foram sete anos especiais, quando tive a oportunidade de visitar, gerenciar treinamentos e realizar inspeções nas diversas usinas nucleares em países como a Rússia, Irã, China, Coreia, Índia, Armênia, dentre outros. Atualmente, trabalho como diretor de Desenvolvimento de Projetos de Novas Centrais Nucleares de uma empresa multinacional espanhola, razão pela qual eu e minha família vivemos em Madri. Como veem, a energia nuclear faz parte da minha vida.

As pessoas sempre tiveram muito medo de usinas atômicas, por fazerem associação, incorretamente, por falta de conhecimento técnico, com a bomba atômica - o que é totalmente compreensível -, mas o termo correto é usina nuclear. Com o acidente recente de Fukushima, no Japão, todos voltaram a criticar, condenar essa tecnologia de geração de eletricidade.

O que aconteceu no Japão não pode e não deve ser minimizado, mas, como tudo na vida, deve ser visto com cuidado. É preciso analisar as causas de tudo, as consequências dos erros cometidos e, principalmente, aprender com cada um deles. Não existe nenhuma tecnologia de geração de energia que seja 100% segura e quem diz o contrário está totalmente equivocado. Todas possuem seus riscos e se aprimoram com erros. O que temos de fazer como engenheiros é reduzir esses riscos.

Quando ocorrem catástrofes, é natural que se tente apontar responsáveis, mas, no caso do Japão, há certa transferência de valores, pois, no meio de tanta devastação, somente se questionam os efeitos nos problemas ocorridos nas usinas. Infelizmente, as mortes no Japão devem chegar a 20 mil pessoas. Mas quantas delas são provenientes do acidente nuclear de Fukushima? Nesse sentido, até eu ter produzido este texto, no término de março, só uma morte estava registrada, havia duas pessoas desaparecidas, que poderiam estar mortas, e outras poucas dezenas feridas.

Como nenhuma obra de Engenharia é projetada para fazer frente a terremotos seguidos de tsunamis dessas magnitudes, todas as instalações industriais, refinarias e indústrias químicas na região foram totalmente colapsadas e destruídas, com milhares de mortes, e o consequente efeito no meio ambiente é, no momento, muito difícil de se calcular, mas, certamente, é enorme.

Os efeitos nas usinas foram devastadores, pois alguns dos reatores estão destruídos. Não houve explosão nuclear, conforme noticiado, pois esses reatores não explodem – fisicamente, isso é algo impossível de ocorrer. É algo totalmente distante do acidente ocorrido em 1986, em Chernobyl, na Ucrânia, cujo projeto era completamente diferente deste do Japão e de todos os reatores que existem no mundo nuclear, com exceção de alguns ainda operando na Rússia, mas que foram revisados e apresentam agora mais segurança.

A explosão que vimos pela televisão, na Usina de Fukushima, ocorreu devido à reação entre o gás Hidrogênio, produzido pela alta temperatura do combustível nuclear que estava sem resfriamento, e o Oxigênio encontrado no ar. Foi dramático. Os procedimentos que devem ser realizados nesta situação, e os técnicos japoneses os estão fazendo, são o de resfriar os combustíveis encontrados no reator com água do mar até que as bombas projetadas para essa atividade possam voltar a operar. E, quando o resfriamento normal for obtido, o nível de radiação baixará consideravelmente. Em pouco tempo, não serão mais encontrados resíduos radioativos no ar.

Outro ponto importante que devemos saber é que as usinas de Fukushima foram projetadas para suportar um terremoto de valor 8, na Escala Richter, e conseguiram suportar um terremoto de quase 9, sem muitos problemas. Em relação ao tsunami, elas foram projetadas para ondas de 7 metros de altura, o maior histórico da região. E o que ocorreu? As ondas tinham quase 14 metros! A inundação dos equipamentos de geração de energia elétrica de emergência da usina foi total, impedindo sua operação e a usina, já desligada automaticamente pelos sinais de proteção contra terremoto, necessitava agora de água de resfriamento, o que não ocorreu devido à inoperabilidade das bombas de refrigeração de emergência!

É importante dizer que, de todas as instalações industriais na região, somente as 14 usinas nucleares ali instaladas resistiram ao terremoto e ao tsunami e se desligaram automaticamente. Todas as outras instalações industrias foram totalmente destruídas. Dessas 14 usinas nucleares, os problemas de resfriamento ocorreram em quatro unidades, das seis de Fukushima Daichi. E, no momento em que escrevo estas notas, as informações que chegam do Japão confirmam que o resfriamento está sendo restabelecido (ainda de maneira não convencional), as taxas de dose de radiação estão caindo, mas o cenário ainda não é tranquilizador. Espera-se que, em poucas semanas, a alimentação elétrica de emergência esteja já restabelecida e, com isso, as bombas de resfriamento possam ser ligadas normalmente, fazendo com que as condições plenas de segurança sejam alcançadas. Os técnicos japoneses já estão quase chegando a esse ponto.

Lições de Fukushima

Sempre aprendemos com os acidentes. E as lições de Fukushima não poderão ser esquecidas nunca. Lembram-se do acidente de Bophal, da Union Carbide, na Índia? E da recente contaminação do mar devido ao vazamento de óleo da BP, no Golfo do México? Vocês sabiam que, se uma represa se romper, o tsunami que gerará destruirá e matará centenas ou milhares de pessoas? Nem por isso se deixará de produzir produtos químicos, de se extrair petróleo, nem de construir represas para gerar eletricidade. Certamente essas tecnologias se aprimoraram ainda mais, pela incorporação das lições desses trágicos eventos.

O Japão não pode viver sem energia nuclear, não há como. O país tem mais de 50 usinas, produzindo cerca de 30% de toda sua necessidade elétrica. É um dos países industrializados que estão trabalhando seriamente na diminuição das emissões de contaminantes na atmosfera e, para isso, as usinas nucleares são fundamentais e necessárias. Hoje, o mundo fala muito de efeito estufa, mudança do clima, contaminação carbônica, etc. Isto é um fenômeno real, em que a contaminação de CO2 na atmosfera terrestre está se acumulando e destruindo a camada de Ozônio que protege a Terra da irradiação daninha do sol. A única maneira de interromper esse fenômeno é reduzir a liberação desse gás na atmosfera. E um dos maiores contribuintes para a liberação de CO2 é a geração de eletricidade por meio de gás, carvão e petróleo. Dessa forma, temos de substituir essas fontes! Mas como? Com as energias não poluidoras, as chamadas alternativas, que são as provenientes da água, do vento, das marés, do sol, e das nucleares!

De todas as energias, as únicas que podemos utilizar em grandes pacotes de potência, por 24 horas do dia, todo o ano, são as hidráulicas e as nucleares. Todas são importantes e devem ser desenvolvidas e implementadas. Mas não há ventos onde e quando necessitamos, nem durante as 24 horas do dia, nem faz sol todo o tempo. E as usinas das marés, alguém pode perguntar. Na realidade, ainda estão muito incipientes em seu desenvolvimento.

Hoje, a energia elétrica produzida por essas fontes tem alto custo de produção e os governos subsidiam uma boa percentagem, pois, de outra forma, o preço da eletricidade que pagamos todo mês teria um aumento insuportável para os cidadãos. Mesmo assim, a energia é cara e esse é o preço que os governos e, portanto, nós, os cidadãos, pagamos para que essas fontes alternativas possam se tornar cada vez mais viáveis.

Em relação às grandes hidráulicas, elas estão cada vez mais distantes do centro de consumo, seu licenciamento ambiental é cada vez mais difícil, pela grande área a ser inundada, e nem todos os países têm essa possibilidade, muito menos o Japão. Então, as usinas nucleares vêm sendo a solução mais oportuna, com projetos cada vez mais seguros, com sistemas de segurança cada vez mais sofisticados.

Destruição silenciosa

O acidente de Fukushima é um desastre para a indústria nuclear. Como foi o acidente de TMI 2, nos Estados Unidos, em 1979, e o de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986. A indústria nuclear aprendeu muito com esses eventos e acontecerá o mesmo com o de Fukushima. A indústria nuclear sairá desse evento muito mais robusta, apesar do forte golpe que sofrerá nos primeiros meses pós-Fukushima. Não há como ser diferente, pois, como expliquei, o maior desastre que está ocorrendo diariamente é a destruição silenciosa e impune da camada de ozônio que protege o nosso planeta das irradiações daninhas do sol. E para essa proteção, hoje, só existem as energias alternativas, dentre elas a nuclear, que é a mais potente.

Agora, infelizmente, os catastrofistas estão brandindo o slogan antinuclear. É compreensível, pelo desconhecimento que possuem do assunto. Também os políticos estão utilizando a ignorância natural deste tema para dizer não às novas usinas nucleares ou mesmo a todas as nucleares. É fácil de entender, pois pensam nas próximas eleições e não nas próximas gerações. Aliás, isso é o que distingue um político de um estadista. O Brasil e o mundo estão necessitando de estadistas para que as próximas gerações não paguem o alto preço das decisões equivocadas de agora. Não podemos deixar que a histeria do desconhecimento leve a decisões cujas consequências serão sentidas pelos nossos netos, bisnetos ou por nós, ao reencarnarmos, quando o sol estiver queimando o ar que respiramos por falta da camada de ozônio, destruída pelos gases de carbono que lançamos na atmosfera.

A indústria nuclear, somente como informação adicional, está desenvolvendo um reator baseado no que ocorre no sol, que nos aquece e nos dá vida, ou seja, a fusão nuclear. Esse reator é chamado de International Thermonuclear Experimental Reactor, ou Iter, e deverá ter seu protótipo operando por volta de 2050. Esse tipo de reator nuclear deverá substituir e aposentar não só os reatores nucleares a fissão (os atuais), mas também as várias outras fontes convencionais e algumas alternativas. Ele não produz rejeitos, utiliza a água como combustível e produz o gás hélio como subproduto, que é o gás de cozinha que conhecemos. Uma maravilha, mas que vai levar várias dezenas de anos até que possamos utilizá-lo comercialmente.

Alguns leitores poderão concluir que sou um defensor da indústria nuclear e essas pessoas não estarão equivocadas. É que o Espiritismo me ensinou a ter uma fé raciocinada e a Engenharia me demonstrou a lógica cartesiana onde 2 + 2 = 4! Raciocínio e lógica juntos.

*Humberto Werdine é especialista em energia nuclear

h.werdine@gmail.com

Folha Espírita

www.folhaespírita.com.br

Ficheiro:Fukushima-1.JPG

Central Nuclear de Fukushima. Foto: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Fukushima-1.JPG


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