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terça-feira, 5 de abril de 2011

“Espiritismo pode impulsionar renascimento da fraternidade e calor humano no Japão”

Tomoh Sumi

“Agradecemos as palavras de consolação e a força. Espero que o povo não esqueça a esperança e a fé neste momento. Como espírita, creio que temos de enfrentar a situação com calma e fé e procurar ser útil diante das dificuldades que chegam até nós. Muita oração e ação na hora necessária. Acredito que a Doutrina possa ajudar muito meu país”

Ismael Gobbo

Tomoh Sumi nasceu em 1964, na cidade de Shimonoseki, Província de Yamaguchi-ken, no Japão, e lá permaneceu até os 5 anos, quando a família se mudou para Chiba-ken. Um ano depois foi para Sidney, na Austrália, onde ficou 3 anos e meio. “O convívio com os australianos trouxe a base da minha facilidade de conviver com os estrangeiros, o que mais tarde me ajudou muito”, lembra.

Aos 9 anos Sumi voltou para o Japão, seguiu seus estudos e, aos 18 anos, entrou na Universidade Sofia, em Tóquio, no Departamento de Língua Portuguesa, onde se formou em Letras. Seu interesse era o de aprender uma língua estrangeira, além de inglês, e trabalhar fora do Japão. “Hoje entendo que nada é por acaso. Fui programado para esta missão, a de levar as palavras de Jesus e a Doutrina ao país”, revela. Dos quatro anos na faculdade, um deles foi feito no Brasil, na Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), em sistema de intercâmbio cultural entre as duas faculdades. Conforme lembra, na época nem sabia o que era o Espiritismo, só pensava em samba e pagode, “mas, graças a Deus, consegui dominar o Português o suficiente para mais tarde participar do Movimento Espírita”.

O Espiritismo chegou à vida de Sumi por meio da mulher, Sônia Maria Luna Sumi, que o incentivou a praticar o Evangelho no Lar. “Casamos em 1989 e fomos morar em Moçambique. Um ano depois fomos para Maputo, onde ela começou a participar dos trabalhos de uma casa espírita, mantida desde a época da colônia portuguesa. Meu interesse nessa época cresceu.”

De volta ao Japão, em 1991, e ansiosa para continuar com os trabalhos espíritas em seu país, Sônia fundou a Comunhão Espírita Cristã Francisco Cândido Xavier, em Tóquio. “Na época, comecei a participar aos poucos dos estudos, apoiando os trabalhos que ela fazia, mas ainda não me aprofundava tanto nos estudos. No ano seguinte, fiquei três meses em Madri, na Espanha, e tive a felicidade de receber Teodoro Lausi Sacco, presidente da FEESP daquela época, e sua mulher, bem como Durval Ciamponi e a esposa. Eles ficaram na minha casa para participar do Congresso Internacional de Espiritismo. O convívio com eles deixou algo profundo em mim e me despertou um interesse maior no Espiritismo. Fui convidado a participar um dia do congresso e vi que não tinha ninguém do Japão. Foi então que percebi que eu tinha de fazer alguma coisa para divulgar o Espiritismo no meu país. Voltando da Espanha, comecei a traduzir O Evangelho Segundo o Espiritismo para o japonês e a estudar mais a Doutrina com minha mulher.”

Com o passar do tempo, o número de frequentadores da Comunhão foi aumentando e, em 2000, as reuniões, que antes aconteciam num apartamento, foram transferidas para uma sala alugada em Chiba.

A entrevista que publicamos abaixo foi feita quase um mês antes da tragédia que se abateu sobre o Japão. Mas, na semana de 18 de março, Tomoh Sumi voltou a falar com a Folha Espírita, desta vez sobre a referida tragédia.

Folha Espírita – Como você vê os últimos acontecimentos ocorridos no Japão e o que acredita que possa acontecer daqui em diante?

Tomoh Sumi – A dificuldade pode aumentar ainda, mas a solidariedade entre o povo também se fortalecerá. Poderá mostrar pelo exemplo ao mundo inteiro a possibilidade de se recuperar das situações desesperadoras com coração unido. Mais de 400 mil pessoas estão desabrigadas hoje. Todos do país estão querendo ser útil para o próximo.

FE – Os frequentadores dos centros espíritas japoneses são só imigrantes brasileiros?

Sumi – A maior parte é de brasileiros residentes no Japão. São os nikkeis, mas também há os familiares de japoneses ou aqueles que estão no país pela profissão. Também existem muitos peruanos e outros de países da América Latina.

FE – Qual a proporção de brasileiros e japoneses?

Sumi – Noventa por cento são brasileiros, 5% latinos de língua espanhola e 5% japoneses. A parte japonesa não é fixa. Há muitas crianças, filhos de brasileiros que nasceram aqui no Japão e não falam português. Daí a necessidade de instruir essas crianças em japonês. Mas também faltam os adultos que sabem falar japonês. E os pais muitas vezes não conseguem explicar as coisas em japonês para seus filhos.

FE – Vocês desenvolvem quais atividades na casa espírita?

Sumi – A grande maioria das pessoas que chega à Comunhão tem problemas de distúrbio da mediunidade. Falta de conhecimento e estresse fazem as pessoas baixarem sua vibração e abrirem a possibilidade de perder o equilíbrio espiritual. Primeiramente, as pessoas passam pelo atendimento fraterno e, de acordo com as necessidades, são dirigidas para tratamentos espirituais.

FE – Quem se interessa mais, entra nos cursos...

Sumi – Na reunião pública, temos palestras com os temas de alto interesse pelos frequentadores, e estudamos O Livro dos Espíritos e o Evangelho. Temos sessão de passes, tratamentos espirituais. Curso mediúnico e atendimento aos sofredores ocorrem em grupos fechados. Estamos no início da evangelização infantil. Aqui a maior dificuldade é o idioma e o espaço físico.

FE – Existe algum tipo de trabalho de assistência social?

Sumi – Desde 1993, no último domingo de cada mês, nós temos o trabalho de distribuição de alimentos e roupas, kit de higiene, remédios para os sem-teto. Atendemos hoje por volta de 400 a 450 pessoas em cada atividade, que dormem nas estações de trem, parques ou nos corredores de shoppings. O local que visitamos é Guinza e estações de Tóquio e Ueno. Em cada distribuição, levamos mensagens de otimismo, orações, temas de evangelho.

FE – Quais os beneficiários e suas origens?

Sumi – A maioria dos beneficiários está desempregada pela idade (50 a 70 ou mais). É do interior e chegou à cidade em busca de emprego, mas por uma razão ou outra não conseguiu. Há os que brigaram com a família, tiveram problemas de saúde, dívidas, etc. Homens são maioria, há poucas mulheres. No Japão não existem crianças nas ruas.

FE – O Movimento Espírita é organizado, sob direção de algum órgão unificatório, por exemplo?

Sumi – Não temos nenhum órgão unificatório, mas estamos começando a ter melhor comunicação entre os grupos espíritas no Japão. Como a distância entre os grupos é grande e a maioria das pessoas trabalha durante a semana, não é fácil manter contatos entre os grupos.

FE – Qual a sua participação no Conselho Espírita Internacional?

Sumi – Estamos cadastrados no CEI. Tivemos representantes participando nos congressos algumas vezes no passado. Em 2010, tivemos dois representantes, Rogerio Schmitt e Mauro Pumar, no congresso em Valência.

FE – Existe dificuldade de aceitação do Espiritismo pelos japoneses?

Sumi – Para os japoneses, a dificuldade é ter Jesus como modelo porque no Japão a cultura não é cristã. O país é mais ou menos politeísta e acredita na espiritualidade como mundo de “deuses”. Existe a base para aceitar a reencarnação, mas não há ligação com a elevação espiritual, como explica o Espiritismo. Talvez o Japão tenha perdido a educação religiosa e espiritual depois da Segunda Guerra Mundial.

FE – Seria em razão da cultura, tradições ou resistência mesmo aos preceitos doutrinários espíritas? Reencarnação, pluralidade dos mundos habitados e comunicabilidade dos espíritos são dogmas aceitos no Japão?

Sumi – No país, existem muitos heróis na história que, pela honra, terminaram sua vida por meio do suicídio. Os kamikazes – homens-bomba – morreram pelo imperador que, na Segunda Guerra Mundial, era considerado um “deus”. Hoje, ainda existe pena de morte no Japão. Existe muito aborto. O país entende morte cerebral como morte clínica. Tudo dificulta o povo a aceitar o que é 100% puro e bom, que é a justiça de Deus. Mas, ao mesmo tempo, sendo o único país a ter sofrido pela bomba atômica, existe o desejo de manter a paz do mundo. Culturalmente, médiuns sempre tiveram respeito e importantes funções. No Budismo e no Xintoísmo há trabalhos de doutrinação, mas como exorcismo praticado pelas igrejas. Acho que a dificuldade de aceitação da Doutrina Espírita é igual em qualquer parte do mundo.

FE – A língua ainda consiste em problema relevante para vocês? Pode nos falar de seu trabalho de tradutor de obras espíritas?

Sumi – Hoje temos O Livro dos Espíritos, O Evangelho Segundo o Espiritismo e Céu e Inferno publicados em japonês, mas os tradutores não são espíritas, com exceção do tradutor de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Há necessidade de se traduzir e publicar mais informações e obras espíritas.

FE – Quais as formas de divulgação que vocês utilizam?

Sumi – Mandamos mensagens espíritas traduzidas por internet. Temos a página http://www.spiritism.jp/ em português e em japonês.

FE – Como funcionam as traduções de palestras, programas de rádio, TV, etc. quando os oradores são de outros países?

Sumi – Quando eu participo, faço a tradução. Português, espanhol, inglês e japonês. Temos muitos recursos em português, mas falta de capacidade para transmitir aos japoneses.

“A maioria das pessoas ainda não entende que o Espiritismo é o caminho seguro da nossa felicidade. Pensa que é uma solução das dificuldades terrenas e, por isso, se aproxima na hora da dificuldade, mas se afasta quando ela passa”

“Falta ainda nas pessoas o entendimento da Doutrina como mudança de paradigma. É preciso entender que não se trata de questão cultural ou acadêmica, mas de uma lei universal. Nossa meta é tentar criar um núcleo com os japoneses além das atividades que continuamos com os brasileiros”

“O Japão tem um número elevado de suicídios. São mais de 30 mil casos por ano, que têm por causa a falta de educação espiritual, de religiosidade e o materialismo demasiado no país. Muitos idosos vivem isolados da família. Espero que a divulgação da Doutrina Espírita no Japão crie um movimento que faça renascer a fraternidade e o calor humano entre as pessoas”

Grupo se reúne na Comunhão Espírita Cristã

Francisco Cândido Xavier, em Tóquio, para

Trabalho de assistência social.

Júlia Nezu e Tomoh Sumi quando do

lançamento da edição do ESE em japonês em 12/2006

Mulheres preparam bolinhos de arroz “Onigiri” para distribuir aos sem-teto

Outras informações sobre a Comunhão Espírita Cristã e demais casas espíritas no Japão no link http://www.spiritism.jp/br/index.php/grupos-espiritas

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