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quarta-feira, 4 de maio de 2011

Elias Barbosa: 76 anos de trabalho incansável

Cândida e Elias. Um casamento de quase 50 anos

Ismael Gobbo / Rose Dutra

Elias Barbosa nasceu em Monte Carmelo (MG), em 12 de julho de 1934, mas foi registrado no mês seguinte, no dia 4. Filho de pais humildes e trabalhadores, teve mais sete irmãos e, ainda na infância, começou a trabalhar ajudando a produzir lenha na chácara de sua avó materna para ganhar uns trocados e colaborar com o sustento da casa.

Segundo Cândida Flávia de Oliveira Barbosa, viúva do médico, escritor e estudioso da Doutrina Espírita, que desencarnou em 31 de março de 2011, vítima de traumatismo craniencefálico, ele foi um homem exemplar, e a família só tem palavras de gratidão pelo que representou em suas vidas. “Ele foi o homem da minha vida. Com meus pais aprendi muito, mas durante os quase 50 anos de casamento, reconheci nele as maiores qualidades que um ser humano pode reunir. Ele sempre foi muito presente. Um exemplo de esposo, pai, sogro, avô e bisavô. Não tenho palavras para descrever a falta física que ele nos fará, mas apenas física, porque espiritualmente ele está e estará sempre conosco”, comenta.

Em entrevista à Folha Espírita, Cândida Flávia fala sobre a trajetória de Elias, desde os seus 15 anos, quando já havia lido toda a obra Kardequiana. Revela como aconteceu a amizade que uniu Elias Barbosa e Chico Xavier durante quase 50 anos. Ressalta que, fisicamente, ele estava com a saúde sob controle. O que o entristecia eram os acontecimentos mundiais evidenciando que parte da humanidade tem substituído os mais nobres sentimentos por atos que denotam ganância e egoísmo. Seu corpo foi velado no Centro Administrativo e Educacional da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e sepultado em túmulo ao lado do mausoléu do amigo Chico Xavier, no cemitério São João Batista.

Folha Espírita – Dona Cândida, como foi a trajetória acadêmica e profissional do dr. Elias?

Cândida Flávia de Oliveira Barbosa – Quando terminou o curso ginasial, já com o pensamento em estudar Medicina, Elias resolveu fazer o curso de contabilidade, porque na sua cidade, Monte Carmelo, ainda não existia o curso científico. Por ocasião do falecimento de um amigo de infância, Elias escreveu o poema “Elegia”, que foi lido na rádio local. Por uma feliz coincidência, estava na sua cidade natal o professor e então deputado federal Mário Palmério. Ao ouvir o poema, o professor quis logo conhecê-lo. Em conversa com amigos comuns, soube que Elias tinha vontade de fazer o curso médico. Palmério convidou-o para trabalhar no Colégio Triângulo Mineiro, em Uberaba, tendo a possibilidade de fazer o curso científico, preparando-se, porque até então ainda não existia a Escola de Medicina em Uberaba, que seria fundada por Palmério poucos meses depois. Ele morou, a convite do professor, em uma das dependências de suas escolas (onde hoje é o Campus Centro da Uniube). Assim que concluiu a faculdade, foi convidado para lecionar naquela escola. Sempre no caminho do aprimoramento, foi para São Paulo, onde fez especialização em Farmacologia e Terapêutica Experimental, e lecionou até a sua aposentadoria.

FE – Em quais hospitais o dr. Elias Barbosa trabalhou? Quem são os grandes amigos de profissão?

Cândida – Ele trabalhou no Sanatório Espírita de Uberaba durante mais de 30 anos, como médico assistente, especializando-se, a partir daí, em Psiquiatria. Fez ali grandes amigos, alguns já residentes também no Plano Espiritual, como os doutores Ignácio Ferreira, Adroaldo Modesto Gil, Antônio Joaquim, Maria Modesto Cravo e Manoel Roberto, entre muitos outros.

FE – Como a senhora o conheceu?

Cândida – Eu o conheci na mineira Sacramento, minha terra natal, em 1º de novembro de 1955, data em que se comemora o aniversário de desencarnação de Eurípedes Barsanulfo. Em fevereiro de 1956, minha família mudou-se para Uberaba, e logo nos encontramos na Mocidade Espírita. Daí para o namoro foi um passo. Casamo-nos em 25 de janeiro de 1964, tivemos cinco abençoados filhos: Eliana (casada com Fernando), Ricardo, Luciana (casada com Paulo), Cláudio (casado com Carla) e Renato. Temos oito netos: Ana Amélia, Anelise, Arthur, Ísis, Henrique, Letícia, Lívia e Natália, e dois bisnetos: Anna Clara e Gabriel.

FE – Como era o dr. Elias na intimidade do lar, na convivência com a família?

Cândida – Um verdadeiro companheiro de todas as horas, um pai de família exemplar, sempre muito presente na nossa vida, apesar dos inúmeros afazeres. Só temos palavras de gratidão por tudo o que ele representou.

FE – Ao que consta, ele conheceu a Doutrina ainda menino. Como isso ocorreu?

Cândida – Elias nasceu em berço espírita e, desde muito pequeno, já gostava de frequentar as reuniões no centro, inclusive os trabalhos de desobsessão, pois naquela época não havia restrição. Aos 15 anos ele já havia lido toda a obra kardequiana e muitos outros livros da Doutrina. Foi – e com certeza continuará sendo – um grande estudioso da Doutrina Espírita, sempre pautando a sua vida em Jesus e Kardec.

FE – Como foi a aproximação do dr. Elias com Chico Xavier?

Cândida – Como orador da União Estudantil Uberabense, em 1955, ele fez com os colegas uma excursão a Belo Horizonte. Com muita vontade de conhecer Chico Xavier, procurou entrar em contato com os espíritas da cidade e recebeu o convite para ir com eles até Pedro Leopoldo. Foi a sua maior alegria. Interessante que, ao chegar lá e cumprimentá-lo, o nosso querido Chico fez belas referências à genitora de Elias, sem nem mesmo conhecê-la. Daí para a frente, nasceu uma profunda amizade entre os dois.

FE – Quais as lembranças desse encontro com o médium?

Cândida – Eu não assisti ao encontro, mas, pelo que Elias me contava, foi inesquecível. Chico já era para ele um exemplo de humildade, de caráter, de índole ilibada e, sobretudo, de homem caridoso, desprendido de coisas materiais e completamente tomado pelo amor incondicional ao próximo. Conhecer e ser amigo de Chico Xavier por quase cinco décadas, sem dúvida, foi marcante para o Elias e toda a nossa família. Chico frequentou a nossa casa por muito tempo, sendo que ele elegeu a terça-feira para sempre estar conosco. Nesses encontros, Chico e Elias conversavam sobre vários assuntos, entre eles a Literatura, que os aproximava ainda mais.

FE – A senhora poderia nos relacionar os livros de Elias Barbosa espíritas e não espíritas?

Cândida – Não espíritas são apenas os livros de trovas que ele escreveu para as nossas filhas, quando elas completaram 15 anos. Os demais são espíritas: Estamos Vivos, Entre Duas Vidas, Gabriel, Horas de Luz, Quem São, Enxugando Lágrimas, Vitória, Claramente Vivos, Irmã Vera Cruz, Presença de Chico Xavier, No Mundo de Chico Xavier e Humberto de Campos e Chico Xavier: A Mecânica do Estilo. E ele sempre fez questão de doar os direitos autorais ao Instituto de Difusão Espírita (IDE). Seu objetivo, a exemplo de Chico Xavier, nunca foi o de enriquecer com a publicação de livros, mas de divulgar os preceitos da Doutrina. Elias organizou, também, a Antologia dos Imortais, publicada em 1963, Trovadores do Além e O Espírito de Cornélio Pires, estudando o estilo de cada poeta quando na Terra e depois da desencarnação. De 1974 a 2002, foi revisor das obras completas de Allan Kardec, num total de mais de 4 mil páginas, para o Instituto de Difusão Espírita, e colaborador dos cinco volumes da Revista Espírita e também do Anuário Espírita, desde o número 1, de 1964.

FE – Com quais órgãos de imprensa ele colaborou escrevendo artigos durante esses anos todos?

Cândida – Eu não tenho como precisar todos, porque, ao longo da vida, Elias escreveu muito e era convidado para escrever por veículos de comunicação de várias partes do País. Aos 15 anos, trabalhando como contínuo na Prefeitura de Monte Carmelo, passou a escrever crônicas que eram lidas na rádio local e poemas que eram publicados em jornais de Monte Carmelo e da região, depois denominada Alto do Paranaíba. Por volta dos 16 anos, foi correspondente dos periódicos O Estado de Minas, O Diário de Minas e O Diário, jornais de Belo Horizonte, enviando notícias do progresso da cidade de Monte Carmelo. Escrevia e colaborava com informativos do Ministério da Agricultura, pasta que tinha Chico Xavier como um de seus funcionários. Já escreveu artigos publicados por jornais e revistas de diversas cidades. Em Uberaba, foi convidado pelo Jornal da Manhã, do Grupo JM de Comunicação, para ser articulista fixo, e desde 2005 seus artigos eram publicados semanalmente, aos domingos. Não era raro, também, recebermos ligações de internautas pedindo autorização para usar os artigos em trabalhos acadêmicos e/ou relacionados ao Espiritismo, bem como para que eles fossem disponibilizados em sites. Elias jamais se negou a autorizar porque sua finalidade sempre foi de ajudar os outros. Se entre os leitores havia um que se sentia beneficiado com aquela abordagem, Elias já se dava por satisfeito.

FE – Como estava o mestre Elias Barbosa ultimamente?

Cândida – Estava bastante decepcionado com acontecimentos no mundo, mostrando o crescimento dos sentimentos que ele mais desprezava, como a ganância, ambição, inveja e, acima de tudo, o egoísmo. Ele demonstrava certa desesperança de que pudesse ver situações em que imperassem os verdadeiros valores da vida, como a caridade, a honestidade e o amor pleno pelo próximo, pela família. Fisicamente, ele estava com a saúde um pouco debilitada, especialmente no que se refere ao coração, mas sob controle. Elias era incansável. Ele não conseguia parar de clinicar, por ver seus pacientes ainda precisando de cuidados dele, e era comum atender telefonemas longos para ajudar os pacientes a superar uma ou outra frustração. Fora a tristeza com a visível decadência de parte da humanidade, Elias estava bem, amoroso com a família e, acima de tudo, um porto seguro para todos que o procuravam em busca de uma palavra de amizade, conforto ou de aconselhamento para uma ou outra fase da vida.

FE – A sua desencarnação foi uma surpresa?

Cândida – Sim. Jamais imaginávamos que uma queda numa escada pudesse levá-lo a ficar no Centro de Terapia Intensiva (CTI). Tínhamos esperança de que ele se recuperasse. Avisei meus filhos e outros familiares que moram fora com a convicção de que seria apenas uma fase de cuidados e repouso para que ele retomasse sua vida e suas atividades normais. Entretanto, não era isso o que estava escrito. Ao mesmo tempo, era doloroso imaginar que se ele se recuperasse do coma, ficaria sem fala e com movimentos comprometidos. Ele não merecia isso. Sempre foi um homem muito ativo, um intelectual. E Deus, mais uma vez, foi generoso, e entendeu que deveria poupá-lo de ficar totalmente dependente. Já tivemos notícia de que Elias está bem, ao lado de inúmeros amigos e pronto para continuar o seu trabalho, agora se sentindo moço, ágil, leve e feliz.

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“Já tivemos notícia de que Elias está bem, ao lado de inúmeros amigos e pronto para continuar o seu trabalho, agora se sentindo moço, ágil, leve e feliz”





Legenda: Chico Xavier e Elias Barbosa na FEB, Rio de Janeiro, em 22 de dezembro de 1972; Dr. Elias Barbosa e a esposa dona Cândida Flávia; Dr. Elias e d. Cândida com netas gêmeas; Dr. Elias com o volume do Anuário Espírita 2010; Alípio González, Dr. Elias Barbosa e André Luiz Ruiz; o sepultamento de Dr. Elias em Uberaba, MG; Dr. Elias, d. Cândida e os filhos: Ricardo, Eliana, Renato, Luciana e Cláudio. (Fotos do acervo da família)

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