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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O Servo do Centurião

Richard Simonetti

richardsimonetti@uol.com.br

Mateus, 8:5-13

Lucas, 7:1-10

Nenhum país se submete passivamente ao invasor. Este precisa manter o chamado exército de ocupação. É a garantia de domínio do mais forte, a espoliar o mais fraco.

Experientes nesse sentido, os romanos estendiam suas tropas invencíveis por três continentes, impondo a presença indesejável, numa convivência conturbada, marcada por revoltas e rebeliões.

Pior com os judeus.

Orgulhosos de sua nacionalidade, com pretensões de povo escolhido, os descendentes de Abraão consideravam inadmissível aquela situação.

Nutriam indisfarçável repulsa por seus dominadores.

Contatos, apenas se inevitáveis. Exigiam, posteriormente, rituais de purificação, como quem desinfeta as mãos após lidar com algo pestilento.

***

Em face dessa animosidade, foi com surpresa que os apóstolos observaram um centurião aproximar-se de Jesus.

Retornavam a Cafarnaum, após o inesquecível Sermão da Montanha, nas proximidades da cidade, quando Jesus traçara as diretrizes básicas do comportamento cristão para edificação do Reino de Deus.

Centurião era o oficial romano que comandava a centúria, destacamento militar composto de cem soldados.

O militar falou, respeitosamente:

Senhor tenho em casa um servo que está de cama, com paralisia, sofrendo horrivelmente.

Como sempre, Jesus respondeu com brandura, ainda que diante de um inimigo da raça:

Irei vê-lo.

O centurião adiantou:

– Senhor, eu não sou digno de que entres na minha casa; mas, dize uma só palavra e meu servo será curado, pois também eu, apesar de sujeito a outrem, digo a um dos meus soldados que tenho às minhas ordens: vai ali, e ele vai; e a outro: vem cá, e ele vem; e a meu servo: faze isso, e ele faz.

Singular o comportamento daquele preposto de César.

Demonstrou invulgar interesse por simples servo e se dispôs a pedir auxílio a um judeu, embora sabendo da aversão que aquele povo altivo nutria pelos romanos.

Podendo ordenar que seus soldados conduzissem Jesus à sua presença, preferiu ir ao seu encontro e, renunciando às prerrogativas do cargo, falou-lhe com humildade.

Suas ponderações revelam um espírito sensível, dotado de fé, fato digno de admiração, principalmente por tratar-se de um pagão.

E libera Jesus do constrangimento de ir à sua casa.

Observando tão grande convicção, proclamou Jesus:

Em verdade, em verdade, vos afirmo que nem mesmo em Israel encontrei semelhante fé. Também vos digo que muitos virão do Oriente e do Ocidente, e sentar-se-ão no Reino dos Céus com Abraão, Isaac e Jacó, enquanto que os filhos do Reino serão lançados nas trevas exteriores. E ali haverá choro e ranger de dentes.

Abraão, Isaac e Jacó foram os patriarcas mais importantes do povo judeu.

A proclamação de que os filhos de outras terras estariam com eles, enquanto muitos judeus enfrentariam estágios de sofrimento, é significativa.

Com desassombro, Jesus empenhava-se em modificar arraigadas concepções da raça.

Exclusivistas, os judeus julgavam-se detentores das preferências divinas, situando por desprezíveis as convicções alheias.

***

A intolerância religiosa é absurdo inconcebível.

Se a finalidade da religião é nos conduzir a Deus; se o Criador é o pai de todos nós, por que cultivar desentendimentos em nome da crença?

Deus não tem preferências!

Somos todos seus filhos.

Infelizmente, o Cristianismo, após três séculos de pureza, seguiu idêntico caminho, embora Jesus deixasse claro, nesta passagem, que seus discípulos viriam do Oriente e do Ocidente, isto é, seriam sempre e unicamente aqueles que vivenciassem seus ensinamentos, não importando nacionalidade, raça ou crença.

***

Encerrando o diálogo, Jesus disse ao centurião:

– Vai, e como creste, assim seja feito.

Mateus informa:

Naquela mesma tarde o servo do centurião foi curado.

Usando de seus prodigiosos poderes Jesus surpreendia seus seguidores com uma cura à distância.

***

O episódio evoca tema fascinante – a intercessão, a possibilidade de intervir por alguém em suas limitações, dores e dificuldades.

Aparentemente contraria a Lei de Causa e Efeito, segundo a qual colhemos de conformidade com a semeadura.

Se alguém está doente ou enfrenta problemas para resgatar dívidas e evoluir, será lícito ajudá-lo?

Ponderação razoável, mas imperioso não esquecer:

A justiça divina impõe que cada um receba conforme suas obras, mas a divina misericórdia determina que todos os sofrimentos sejam amenizados na hora do resgate.

Aqui entra a intercessão, em que nos situamos por instrumentos da ação misericordiosa de Deus.

***

Obviamente, o alcance da intercessão também está subordinado à Lei de Causa e Efeito.

Alguém é muito rico.

Propõe-se a ajudar um amigo com câncer.

Mobiliza os melhores recursos da Medicina. Despende uma fortuna com sofisticados tratamentos.

No entanto, a doença evolui inexoravelmente.

Meses depois, o doente desencarna, cumprindo penoso resgate do pretérito.

Apesar de ampla e poderosa, a intercessão pouco valeu.

Os recursos mobilizados proporcionaram-lhe conforto, amenizaram suas dores, mas ele passou pelo que tinha de passar, atendendo às sanções da Lei Divina.

***

Invertamos a situação.

O intercessor é pobre.

Sem recursos, mas com boa vontade, com sacrifício de suas economias, compra um medicamento feito de ervas, vendido em cidade distante, para tratamento do câncer.

O doente toma o remédio e obtém milagrosa cura.

A ajuda oferecida foi mínima, mas inteiramente assimilada, transformando-se em veículo de sua recuperação, isto porque o paciente possuía méritos que lhe conferiam a possibilidade de cura.

No episódio evangélico conjugaram-se a intercessão do centurião, o merecimento do servo e os prodigiosos poderes de Jesus.

***

O leitor amigo estará matutando:

De que vale o esforço por ajudar alguém, se o aproveitamento estará condicionado ao seu merecimento?

Mas é justamente por não sabemos dos méritos alheios que somos chamados a fazer o melhor por aqueles que nos rodeiam.

Se as circunstâncias nos colocam em posição de ajudar, seja o pobre, o doente, o amigo, o familiar, certamente ele foi encaminhado até nós para que o socorramos.

Ainda que impossibilitados de livrá-lo do carma, ainda que seja impossível retirar-lhe a cruz, poderemos colocar abençoada almofada sobre seus ombros.

***

Há que se considerar, ainda, algo sumamente importante:

O exemplo.

Impossível dar aos criminosos confinados numa prisão o benefício que mais almejam – a liberdade.

Estão pagando por seus crimes.

No entanto, podemos prepará-los para um futuro melhor, sensibilizando-os com a nossa visita, as manifestações de solidariedade, o convite ao estudo e à oração, o empenho por melhorar sua existência e minorar seus padecimentos.

Por mais endurecido e impenitente seja o indivíduo, não resistirá à força do Bem, quando estivermos dispostos a exercitar bondade com ele.

A Justiça Divina impõe educativo resgate àquele que se envolve com o mal.

Mas Divino Amor, que ajuda sempre, sem questionar méritos, influirá decisivamente na sua redenção.

Considerando a posição da Terra há dois mil anos, uma prisão de segurança máxima (jamais um prisioneiro daqui escapou), onde resgatamos débitos contraídos pelo egoísmo, não merecíamos a presença de Jesus.

Ainda assim, o Mestre veio.

Veio para nos ensinar o altruísmo, que transforma a prisão em abençoado lar.

***

Há que se considerar, ainda, que também estamos sob a regência da Lei de Causa e Efeito.

Não nos compete, portanto, inquirir se o necessitado merece a ajuda que lhe prestamos.

Convém fazer o melhor por ele, acumulando créditos espirituais que amenizem nossas provações e favoreçam glorioso futuro para nós.

Os benefícios que estendemos ao próximo é investimento de bênçãos para nós.

Jesus assim enfatizou, ao proclamar (Mateus, 16:27):

… a cada um segundo as suas obras.


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