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domingo, 9 de outubro de 2011

Auto de Fé de Barcelona

Texto publicado no jornal Folha Espírita

São Paulo, outubro de 2011

Wellington Balbo

Na Idade Média a Igreja fundou o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, com o objetivo de combater o mal – entenda-se mal como todos aqueles que discordavam das ideias eclesiásticas – de modo a manter o poder sob seu guante sem qualquer tipo de questionamento ou intromissão. Todos que se atrevessem a não se curvar ante as “verdades” impostas pela Igreja eram julgados e condenados à fogueira ou sofriam penas das mais diversas, tais como: confisco de bens, privação do ofício, multas, prisão perpétua, etc.

E, na Santa Inquisição, o Auto de Fé constituía-se em evento promovido com grande pompa. Sua realização dava-se em espaço público ou privado em que os condenados eram, não raro, queimados vivos enquanto a população assistia àquele filme de horror impetrado em nome de uma fé cega e fanática.

E assim foi o caso do Auto de Fé de Barcelona, ocorrido em 9 de outubro de 1861, no qual, por ordem do bispo daquela cidade, foram queimados em praça pública 300 livros espíritas enviados por Allan Kardec ao livreiro Maurício Lachâtre.

Allan Kardec tratou do assunto na Revista Espírita de novembro de 1861, elencando as obras que lamentavelmente foram tragadas pelo fanatismo inconcebível daquele bispo. Ei-las, conforme enumera o codificador:

· A Revista Espírita, diretor Allan Kardec;

· A Revista Espiritualista, diretor Piérard;

· O Livro dos Espíritos, Allan Kardec;

· O Livro dos Médiuns, Allan Kardec;

· O que é o Espiritismo, Allan Kardec;

· Fragmentos de sonata ditada pelo Espírito Mozart;

· Carta de um católico sobre o Espiritismo, pelo Dr. Grand;

· A História de Joana d’Arc, ditada por ela mesma à srta. Ermance Dufau;

· A realidade dos Espíritos demonstrada pela escrita direta, pelo Barão de Guldenstubbé.

No intento de sepultar as vozes da espiritualidade, os ferrenhos adversários do Espiritismo não se deram conta de que queimavam apenas papéis. As ideias já haviam sido lançadas e nenhuma fogueira seria capaz de queimar as realidades trazidas pelos imortais e codificadas por Allan Kardec.

Aliás, Kardec colocou a questão para apreciação de seu guia espiritual e obteve a seguinte resposta: “Uma perseguição tão ridícula e atrasada poderá fazer o Espiritismo progredir na Espanha.”

O Auto de Fé de Barcelona tornou-se uma das grandes propagandas do Espiritismo em solo espanhol, pois tamanha intransigência foi a mola propulsora da curiosidade. Ora, todos querem manter contato com um objeto que foi proibido sem uma análise de seu conteúdo. Querem saber o que há ali de tão grave para ser sumariamente queimado. É assim nos dias de hoje, foi assim ontem. Tudo aquilo que é proibido aguça a vontade de se conhecer e experimentar.

Os inquisidores imprudentes acabaram por atiçar a vontade da população de conhecer mais sobre aquela doutrina que nascia, e Allan Kardec deixou registrado para a posteridade o comentário de que 9 de outubro de 1861 deveria ser uma data de festa comemorada por todos os espíritas, pois é a garantia do triunfo próximo.

Causa, entretanto, admiração o comportamento de Allan Kardec que novamente foge ao comum. Enquanto muitos em seu lugar buscariam a retaliação e a vingança, o notável codificador foi prudente e não se abalou com as injustiças cometidas. Confiante em Deus e nos Espíritos, seguiu adiante em sua missão sem deixar-se contaminar pela revolta e a reclamação. Se utilizaram as armas da intolerância contra Kardec, ele pagou com doce mensagem de amor pela humanidade que se traduziu em seu trabalho magnífico de interpretar para nós as lições dos imortais.

Wellington Balbo é professor universitário, membro da diretoria da USE Bauru e escritor espírita.

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