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segunda-feira, 28 de abril de 2014

Artigo especial. 150 anos de O evangelho. Os bastidores da obra

ARTIGO PUBLICADO ORIGINALMENTE NO
JORNAL CORREIO FRATERNO.
Silvio Divino de Oliveira *
Nosso objetivo com este texto, fruto de  pesquisa em torno dos registros que marcaram a publicação de O evangelho segundo o espiritismo, em abril de 1864, na cidade de Paris, é destacar a marcante assistência espiritual junto a Allan Kardec, inspirando-o na concepção do plano e na organização da terceira obra básica da doutrina, cujo sesquicentenário comemoramos em 2014.
Data de 1863 os poucos relatos existentes em documentos, relacionados à redação e publicação da obra Imitação do evangelho. O codificador diz ter guardado segredo sobre o trabalho realizado, inclusive fazendo sigilo absoluto sobre o título do livro, a tal ponto que o próprio editor, sr. Didier, só veio a conhecê-lo no momento da impressão.
Esse título, como sabemos, foi posteriormente modificado, conforme Kardec descreve: "Mais tarde, por efeito de reiteradas observações do mesmo sr. Didier e de algumas outras pessoas, mudei-o para O evangelho segundo o espiritismo,"1 fato que demonstra o caráter aberto de Allan Kardec diante das sugestões procedentes.
Sem dúvida, o título que passou a vigorar e chegou aos nossos dias é bem mais significativo e adequado. O termo ‘imitação’ fora usado naturalmente com o sentido de semelhante ou de concordante com os ensinos evangélicos. Todavia, a palavra poderia ser entendida, também, no sentido pejorativo como falsificação.
Em 9 de agosto de 1863, em Ségur,2 o ilustre professor dirigiu perguntas a um espírito amigo, que se manifestou através do sr. d'A..., arguindo-o sobre a nova obra em que trabalhava. Lembremos que ele guardava discrição sobre o seu conteúdo e o médium nada sabia. A resposta­ – que segue em parte abaixo –, portanto, não podia ser fruto de ideias preconcebidas do medianeiro:

"Esse livro de doutrina terá considerável influência, pois que explanas questões capitais, e não só o mundo religioso encontrará nele as máximas que lhe são necessárias, como também a vida prática das nações haurirá dele instruções excelentes."
Mais à frente, o manifestante amigo previne o codificador sobre a reação do clero:
"O clero gritará – heresia, porque verá que atacas decisivamente as penas eternas e outros pontos sobre os quais ele baseia a sua influência e o seu crédito. (...) O anátema secreto se tornará oficial e os espíritas serão repelidos, como o foram os judeus e os pagãos, pela Igreja Romana."
Sobre esta última previsão, relacionada à reação da Igreja Romana, ela realmente não se fez esperar. Tendo sido O evangelho publicado em abril de 1864, já no mês seguinte, em 1º de maio, os livros doutrinários foram colocados no famoso Index Librorum Prohibitorum (índice dos livros proibidos). Kardec comenta o fato na Revista Espírita de junho de 1864, dizendo que já era esperado e prevendo os bons efeitos daí advindos para a propaganda do espiritismo.
Da mensagem obtida em Ségur também vale destacar a última frase do generoso benfeitor. Para Allan Kardec deve ter sido muito confortadora e, para nós espíritas, realmente  significativa:
"Conta conosco e conta sobretudo com a grande alma do Mestre de todos nós, que te protege de modo muito particular." Trata-se de alusão clara a Jesus, que protegia particularmente o nobre missionário na gigantesca tarefa de trazer ao mundo a Terceira Revelação.
Ainda em Obras póstumas encontramos uma nota de Kardec, datada de 14 de setembro de 1863, em que ele informa:
"Eu solicitara para mim uma comunicação sobre um assunto qualquer e pedira que ela me fosse enviada para o meu retiro de Sainte-Adresse."3
Eis alguns trechos desse importantíssimo documento:
"Quero falar-te de Paris, embora isso não me pareça de manifesta utilidade, uma vez que as minhas vozes íntimas se fazem ouvir em torno de ti e que teu cérebro percebe as nossas inspirações, com uma facilidade de que nem tu mesmo suspeitas. Nossa ação, principalmente a do Espírito de Verdade, é constante ao teu derredor e tal que não a podes negar."
Na sequência do comunicado, o espírito informa que, segundo os seus conselhos ocultos, o plano da obra fora modificado ampla e completamente e comenta a situação de isolamento a que Kardec fora certamente aconselhado a buscar pelas venerandas entidades que o assistiam:
"Compreendes agora por que precisávamos ter-te sob as mãos, livre de toda preocupação outra, que não a da doutrina. Uma obra como a que elaboramos de comum acordo necessita de recolhimento e de insulamento sagrado."
Kardec descreve, em observação colocada ao final da mensagem, que de fato o plano da obra fora modificado, particularidade que o médium não poderia saber, uma vez que se encontrava em Paris e Kardec em Sainte-Adresse.
Importante comentário sobre a influência que o livro teria na vida prática das pessoas também é feito pela espiritualidade:
"Tenho vivo interesse pelo teu trabalho, que é um passo considerável para frente e abre, afinal, ao espiritismo a estrada larga das aplicações proveitosas, a bem da sociedade."
Ainda dessa mesma mensagem, relacionamos, para finalizar, este pensamento do comunicante, antevendo o futuro:
"Com esta obra, o edifício começa a libertar-se dos andaimes e já se lhe pode ver a cúpula a desenhar-se no horizonte. Continua, pois, sem impaciência e sem fadiga; o monumento estará pronto na hora determinada."
A palavra ‘monumento’ é uma referência indiscutível à dimensão da obra da codificação, a cujo término o mestre lionês dedicaria o resto de sua vida, concluindo a edificação como trabalhador plenamente aprovado.
No apêndice, inserido pela FEB ao final de Obras póstumas, foi reproduzido documento redigido por Allan Kardec com data de 20 de outubro de 1863, e que só muito tempo depois foi publicado na Revista Espírita de 1º de novembro de 1904, em que o nobre missionário faz menção a um fenômeno de clarividência, envolvendo diretamente os bastidores da elaboração de O evangelho.
Nessa página, o codificador registra que a senhorita V..., natural de Lyon, era dotada de uma notável segunda vista. Estando de passagem por Paris, procurou-o na sua residência, na Rua Sainte-Anne, onde apenas pôde avistar-se com sua esposa, uma vez que ele, após ter retornado de Sainte-Adresse havia se retirado para Ségur, a fim de dar continuidade ao trabalho da sua obra. Não podendo concretizar-se o encontro esperado, foi sugerido pela esposa Amélie Boudet que ela tentasse ver-lhe o marido, usando os seus dons, o que de fato ocorreu. Após recolher-se por um instante, a senhorita fez a seguinte descrição:
"– Sim, vejo-o; acha-se num aposento muito iluminado, no pavimento térreo; há ali três janelas... Oh!... e como tudo é alegre! A casa é circundada por jardins... por toda parte árvores e flores... Tudo respira calma e tranquilidade... Ele está sentado, próximo a uma janela, trabalhando... Está cercado por uma multidão de espíritos que lhe conservam a boa saúde... alguns há que parecem muito elevados, e o inspiram; um deles especialmente parece ser superior a todos os demais, sendo-lhes objeto de deferências."
Após esta descrição pormenorizada, Amélie perguntou-lhe se podia perceber a natureza do trabalho de que o seu marido se ocupava. A resposta não se fez esperar:
"– Um momento... Vejo um espírito que segura um livro de grandes proporções... abre-o e mostra-me o que se acha escrito... leio-o:Evangelho."
Kardec redige uma observação ao documento, confirmando a exatidão das descrições quanto ao ambiente físico em que ele trabalhava, enfatizando o acerto sobre a revelação da natureza do trabalho, ou seja, O evangelho, uma vez que não o revelara a ninguém. E termina dizendo:
"Tal fato constitui-se, para mim, numa prova do interesse que os espíritos tinham por esse trabalho, bem como da assistência que a mim dispensam e a minhas atividades."
Finalizo, reiterando a importância de O evangelho segundo o espiritismopara a codificação, obra primorosa em que fica evidenciado o aspecto da religiosidade da doutrina e a fidelidade de Kardec a Jesus, o espírito mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para servir-lhe como guia e modelo, conforme revelado na pergunta 625 de O livro dos espíritos. Toda a assistência e cuidados espirituais que cercaram a sua elaboração atestam-lhe a relevância e demonstram que os Espíritos do Senhor são verdadeiramente as virtudes dos Céus que vêm iluminar os caminhos e abrir os nossos olhos.

Trabalhador do C. E. Joana d'Arc, na cidade de Uberlândia, MG.


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1- Todas as citações foram extraídas de Obras póstumas, coletânea de escritos de Allan Kardec, elaborada e editada em Paris, no ano de 1890, por Pierre-Gaëtan Leymarie, edição em língua portuguesa da Federação Espírita Brasileira, 36ª edição, tradução de Guillon Ribeiro.

2- Ségur: local em Paris onde Kardec possuía uma propriedade que lhe oferecia maior tranquilidade para o trabalho. Na Rua Sainte-Anne localizava-se sua residência oficial, onde o codificador  frequentemente era  procurado.

3-Sainte-Adresse: comuna francesa na região administrativa da Alta-Normandia, no departamento Seine-Maritime. (dados obtidos na Internet). Deduzimos que Allan Kardec se refugiara nesta região litorânea, por algum tempo, atendendo a orientação espiritual, para elaborar o plano da sua obra sobre os Evangelhos.

(Publicação recebida em email do Correio Fraterno)
Correio Fraterno

Rio Sena e o Museu D’ Orsay. Paris, França. Foto Ismael Gobbo
Em Paris surgiu o Espiritismo Codificado por   Allan Kardec
Busto de Allan Kardec confeccionado pelo escultor D. Angel Texeira Brasero, em Mérida, Espanha.
O Espiritismo surgiu com O Livro dos Espíritos, assinado por Allan Kardec, e lançado aos 18 de abril de 1857.

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