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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Artigo especial. Aspectos biográficos de Allan Kardec e o “Evangelho segundo o Espiritismo”


Sérgio Thiesen
Rio de Janeiro, RJ
sergiothiesen@gmail.com

Em 25 de março de 1856, Allan Kardec encontrava-se em seu escritório a compulsar comunicações e a preparar “O Livro dos Espíritos”, quando ouviu repetidos golpes contra a parede; procurou a causa das pancadas, sem nada descobrir, e voltou ao trabalho. Sua esposa, ao voltar à casa pelas dez horas, ouviu os mesmos ruídos; ambos reiniciaram as pesquisas, sem lograr nenhum resultado. O casal residia à Rua dos Mártires no 8, nos fundos do segundo andar.

8 Rue des Martyrs

“No dia seguinte, escreve Kardec, como era dia de sessão em casa do Sr. Baudin, relatei o caso e perguntei por uma explicação.
Pergunta: Ouviste o que acabei de contar; podeis dizer-me qual é a causa dessas pancadas, que se produzem com tanta persistência? – Resposta: Era o teu Espirito familiar;
Pergunta: Com que intuito manifestava-se ele dessa maneira? Resposta: Queria entrar em comunicação contigo;
Pergunta: Poderíeis dizer-me quem é ele e o que quer de mim? - Resposta: Podes perguntar-lhe diretamente, porque ele está aqui;
Pergunta: Meu Espírito familiar, quem quer que sejais, agradeço-vos ter vindo visitar-me; quereis dizer-me quem sois? - Resposta: Para ti, o meu nome será A Verdade e todos os meses estarei aqui, durante um quarto de hora à tua disposição.
Pergunta:  Ontem, ao bater enquanto eu estava trabalhando, tínheis algo especial a me dizer?
Resposta: O que eu tinha que te dizer relacionava-se com o trabalho que estavas fazendo; o que escrevias não me agradava, e eu queria que cessasses.
Comentário: Eu estava justamente escrevendo a respeito dos meus estudos sobre os Espíritos e as manifestações.
Pergunta: A vossa desaprovação referia-se ao capítulo que estava escrevendo ou ao conjunto do trabalho? -  Resposta: Referia-se ao capítulo de ontem; relê-o hoje à noite, descobrirás os teus erros e os corrigirás.
Pergunta: Eu não estava mesmo muito satisfeito com esse capítulo; por isso, hoje o refundi; está agora melhor? - Resposta: Está melhor, mas ainda não está bom. Lê da terceira à trigésima linha e encontrarás um grave erro.
Pergunta: Rasguei o que tinha feito ontem! - Resposta: Não tem importância! O que rasgaste não impede que o engano persista; lê outra vez e perceberás.
Pergunta: O nome de Verdade que assumiste tem alguma relação com a verdade que procuro? – Resposta: Talvez; pelo menos é um guia que te protegerá e te ajudará.
Pergunta: Posso evocar-vos em minha casa? - Resposta: Sim, para que eu te ajude pelo pensamento; mas quanto a respostas escritas em tua casa não as poderás conseguir por muito tempo ainda.
Pergunta: Poderíeis vir mais que uma vez por mês? - Resposta: Sim, mas apenas prometo uma vez por mês até nova ordem.
Pergunta: Tendes animado alguma personalidade conhecida neste mundo? - Resposta: Já te disse que, para ti, eu era a Verdade; este nome para ti quer dizer discrição; não saberás nada mais por enquanto” (“Obras Póstumas”, Allan Kardec, páginas 273-275, 26 a edição FEB)
Buscamos esse diálogo notável entre o Espírito de Verdade e Rivail quando do primeiro encontro entre eles em contexto de trabalho, que daria ensejo à Codificação, no ano que precedeu o surgimento do Espiritismo. Ele revela os desígnios secretos da Providência, pois, a partir dali, apesar de incontáveis espíritos de escol que somariam esforços, ditando comunicações ou inspirando o insigne Allan Kardec, ficava definido que as bases do Espiritismo estavam lançadas sob a égide da Verdade e em nome da Verdade. Além disso, esse Espírito era o próprio Cristo anunciando o Consolador que prometera nos enviar, há dois mil anos. A meticulosa e direta supervisão do Divino Mestre na elaboração do Espiritismo, se patenteava aos nossos olhos.
Alguns dias depois, exatamente em 30 de abril, Allan Kardec dirige-se como de costume, à Rua Tiquetone, na casa do Sr. Roustan, a fim de assistir a uma reunião espírita, tendo, como médium a Srta. Japhet (Ruth-Céline Japhet – 1837-1885. Nesta sessão, muito íntima, pois que não comportava mais do que sete ou oito pessoas, a médium lançou mão da cesta com bico e passou a escrever espontaneamente:
“Quando a hora soar, não vos importareis; somente aliviareis os vossos semelhantes; individualmente havereis de magnetizá-los a fim de curá-los. Depois, cada qual no seu posto, porque todos serão necessários, pois que tudo será destruído, sobretudo por um instante. Não haverá religião, e uma será necessária, mas verdadeira, grande, bela e digna do Criador. Os primeiros fundamentos já estão colocados. Quanto a ti, Rivail, esta é a tua missão”.
“Já faz seis anos que o Espiritismo doutrinário foi fundado. Sociedades nasceram por toda parte. Em Tour, em Lyon, em Bordeaux, em Argel. Também no exterior, em Turim, Bruxelas e Esmirna. A situação do Espiritismo é satisfatória”, declara Allan Kardec. “Encontram-se espíritas em todas as camadas da sociedade: intelectuais, aristocratas, burgueses e operários. Mesmo nas prisões, convertem-se os criminosos, graças à grande lei moral do Espiritismo”.
Esta lei acaba precisamente de ser escrita por Kardec em seu livro “Imitação do Evangelho segundo o Espiritismo”. Mais tarde foi modificado o título, suprimindo-se a palavra Imitação.
Allan Kardec, que acabava de completar sessenta anos, decide partir para a Suíça, em viagem de repouso. Visita esse país que, em sua infância, revelou-lhe pela primeira vez o papel importante da Natureza em sua pureza. Dirige-se sucessivamente a Neuchâtel, Berna, Zimmerwald, lago de Thoun, Interlaken, Lausanne, Genebra e certamente, Yverdun.
É com seus olhos de iniciado que Allan Kardec se lembra do menino Denizard Rivail, discípulo de Pestalozzi. Pensa também que a vida do ser humano nunca se realiza satisfatoriamente se, à atividade profana e social, não se acrescenta um mínimo de espiritualidade, capaz de tudo transformar.
Volta a Paris, mas segue logo para Bruxelas e Antuérpia, a fim de conversar com os espíritas da Bélgica. Ali, perante as homenagens que lhe são tributadas, o notável educador continua a mostrar-se modesto.  Lembra “os desígnios da Providência e que o papel confiado a ele é o de instrumento obediente. “É uma tarefa que aceitei com alegria e que me esforço por desempenhar dignamente, rogando a Deus que me dê, as forças necessárias para cumpri-la de acordo com a sua santa vontade”.
De volta a Paris, Allan Kardec contribui para a subscrição a favor das vítimas do incêndio de Limoges, pois este homem nunca se mostra indiferente às desgraças que se abatem sobre os seus irmãos do seu país e do exterior.
“O Evangelho segundo o Espiritismo” continuava o seu caminho, se tornando conhecido dos espíritas, como terceiro livro da codificação, na sequência natural das publicações do pentateuco. A obra que vinculava definitivamente a novel doutrina aos ensinamentos do Cristo Jesus.
O Espiritismo , sabemos,  não tem o caráter isolado de uma filosofia, de uma ciência ou de uma religião,  porque é, ao mesmo tempo, religião, filosofia e ciência. É simultaneamente revelação divina e obra de cooperação dos Espíritos humanos desencarnados e encarnados. Tem a característica singular de ser impessoal, complementar e progressivo; primeiro, por não ser fruto da revelação de um só Espírito, nem o trabalho de um só homem; segundo, por ser a complementação natural, expressa e lógica das duas primeiras Grandes Revelações Divinas (a de Moisés e a do Cristo); terceiro, porque, como bem disse Kardec, ele jamais dirá a última palavra. É ciência, porque investiga, experimenta, comprova, sistematiza e conceitua leis, fatos, forças e fenômenos da vida, da natureza, dos pensamentos e dos sentimentos humanos. É filosofia, porque cogita, induz e deduz ideias e fatos lógicos sobre as causas primeiras e seus efeitos naturais; generaliza e sintetiza, reflete, aprofunda e explica; estuda, discerne e define motivos e consequências, comos e porquês de fenômenos relativos à vida e à morte. É religião, porque de suas constatações científicas e de suas conclusões filosóficas resulta o reconhecimento humano da Paternidade Divina e da irmandade universal de todos os seres da Criação, estabelecendo, desse modo, o culto natural do amor a Deus e ao próximo.

No terreno da filosofia religiosa, a obra libertadora do Espiritismo já é mais do que evidente. Reconceituou as antigas noções de céu, inferno, purgatório e limbo; de anjos e demônios; de bem e de mal; de ressurreição e de penitência; de amor e de trabalho; de riqueza e de cultura; de beleza e de progresso; de liberdade e de justiça. Aos desvalidos e aos doentes, aos solitários e aos tristes, aos pobres e aos perseguidos, aos injustiçados e aos aflitos, a todos renovou as esperanças num Pai Justo e Bom, num futuro sem fim, numa bem-aventurança eterna e sem limites, mas merecida e conquistada no dever bem cumprido, no trabalho bem feito, na paz da consciência limpa e na fraternidade operosa e desprendida. Esta é, por sinal, a face mais bela da missão do Espiritismo: — consolar, enxugar lágrimas, semear as flores divinas da esperança. Por isso, o próprio Cristo, que o prometeu e o enviou, chamou-o Consolador. Ele realmente anima e conforta, ajuda e retempera. Traz-nos de volta, redivivos, os nossos mortos queridos; mantém acesos os nossos ideais, mesmo quando as nossas condições atuais de existência não nos permitem realizá-los de pronto. Revela-nos afetos antigos, de inestimável valor, dos quais nos esquecêramos no tempo...Foi por essa razão que o Espiritismo nasceu visceralmente ligado ao Evangelho de Jesus, do qual não se pode nunca separar. Se não fosse apostolicamente cristã, a Doutrina Espírita careceria de sentido. Seus fundamentos são o Amor e a Justiça; sua finalidade é o Bem — fonte única da verdadeira felicidade.
Ao celebrarmos este ano, os 150 anos da primeira edição da obra “O Evangelho segundo o Espiritismo”, que possamos agradecer, não somente a Kardec, mas a todos os espíritos encarregados pelo Divino Mestre de nos abençoar com a riqueza de seu conteúdo. Bem como aos médiuns missionários da época, que, como áureos fios condutores, instrumentalizaram a prodigiosa e fecunda presença daquele que conhecemos, desde João Batista (João, 1:29) e Isaías (9:6) como o Cordeiro de Deus, o Príncipe da Paz.
São quatro as biografias de Allan Kardec:
1)      A de Henri Sausse, médium e contemporâneo de León Denis e de Pierre-Gaëtan Leymarie, publicada em 1896. “Biographie d´Allan Kardec” (Biografia de Allan Kardec), é talvez até hoje uma das principais fontes de consulta para os que pretendem conhecer a vida do Codificador.
2)      “La Vie et l’Oeuvre d’Allan Kardec” (Vida e Obra de Allan Kardec), de André Moreil, publicada em Paris em 1961, traduzida por Miguel Maillet e publicada em português em 1986, editora Edicel.
3)      A de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, meu pai, publicada em 1973, pela FEB, em 3 volumes, com o título “Allan Kardec – meticulosa pesquisa bibliográfica”. Referência para os pesquisadores e estudiosos, a mais completa e detalhada, repleta de ilustrações.
4)      A de Marcel Souto Maior, “Kardec – a biografia”, Editora Record, de 2012.
Allan Kardec, Codificador do Espiritismo.
(Lião,  03/10/1804 – Paris 31/03/1869)
. Óleo sobre tela por Nair Camargo, São Paulo, Brasil. Foto Ismael Gobbo
Allan Kardec em idade de 15 anos. Imagem desenvolvida em computador por Marisa Cajado
  (Guarujá, SP) a partir de imagens conhecidas de  Kardec em idade mais avançada.
Memorial a Pestalozzi em Zurique, Suíça.
Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec) estudou no Instituto dirigido por
Pestalozzi, em Yverdum, Suíça, dos 11 aos 18 anos.
As cinco obras básicas da Doutrina Espírita assinadas por Allan Kardec
Selo brasileiro comemorativo do centenário de morte de Allan Kardec
(31/03/1869 – março 1969)

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