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sábado, 19 de abril de 2014

Artigo especial. Evangelho e Espiritismo


Marcus de Mario
Rio de Janeiro, RJ
marcusdemario@gmail.com

O trabalho de Kardec na elaboração de O Evangelho segundo o Espiritismo e a transformação do pensamento religioso da humanidade

Marcus De Mario

Após o lançamento de O Livro dos Espíritos (1857) e O Livro dos Médiuns (1861), um novo desafio surgia no horizonte, convidando Allan Kardec para mais uma empreitada de vulto: analisar, interpretar e dar vida aos ensinos de Jesus por meio da visão espírita sobre o ser e a vida. Era, em verdade um desafio, desentranhar o pensamento vivo do modelo e guia da humanidade dos textos evangélicos, sem cair na tentação de fazer teologia, ou seja, um estudo formal, acadêmico, da religião.

Mais ainda, pois Kardec estaria defendendo a face religiosa do Espiritismo, desdobrando as consequências morais de sua filosofia, mas sem, com isso, criar uma nova religião, apenas destacando que a doutrina espírita também é religião, não no sentido formal de dogmas, formalismos e rituais, mas no amplo sentido da religiosidade que apresenta o parâmetro da fé raciocinada.

Estudioso igualmente das questões religiosas, tendo escrito diversos artigos e análises críticas através da Revista Espírita sobre as religiões católica e protestante, em textos que mostravam seu amplo conhecimento, sua argúcia, e municiado por amplas abordagens dos Espíritos Superiores, deu então início à obra que teria sua edição definitiva no ano de 1864, e que obteve por título O Evangelho segundo o Espiritismo.

Inicialmente teve que escolher a tradução francesa mais fiel aos originais, a mais aceita pelo clérigo católico, assim como pelos pastores protestantes. Escolheu a tradução de Sacy, muito conhecida e utilizada na época. Mas esse foi apenas o início do projeto. A vida e obra de Jesus é vasta. Muitos estudos já haviam sido publicados. As interpretações variavam. As discussões teológicas eram intermináveis. Por onde começar? O que destacar? Seguindo as orientações dos benfeitores espirituais, elegeu por conteúdo da obra o que é universal, inatacável e essencial para o progresso do homem: os ensinos morais de Jesus.

Como informa na apresentação do livro, evitava assim entrar no terreno das polêmicas, dedicando-se exclusivamente a mostrar a visão espírita sobre os ensinos morais do Mestre e sua aplicação às diversas circunstâncias da vida. Não ia escrever um livro de discussão teórica, mas um manual prático, um roteiro muito útil para que o homem conseguisse, através do entendimento mais profundo do Evangelho, encontrar respostas para as causas das aflições e o melhor caminho para encontrar a paz e a felicidade, tanto nesta existência quanto na continuidade da vida após a morte.

Advertido pelos Espíritos, Allan Kardec sabia que céus e terras iriam tremer. Que seu nome seria excomungado pelas lideranças católicas, que o livro seria colocado no índice de livros proibidos, que muitos espíritas não compreenderiam a faceta religiosa da doutrina, mas nada disso importava, pois sabia que O Evangelho segundo o Espiritismoera obra inadiável, necessária, um marco na transformação da cultura religiosa da humanidade. Então, colocou-se em ação.

Leu e releu os Evangelhos. Classificou as passagens por temas. Juntou as narrativas dos evangelistas. Os capítulos foram surgindo e os textos explicativos, sempre alicerçados nos princípios da existência de Deus, da imortalidade da alma, do intercâmbio entre desencarnados e encarnados e da lei de evolução através da reencarnação, foram sendo elaborados. Ao mesmo tempo, Kardec recebia de centenas de grupos espíritas espalhados pela França e demais países, mensagens dos espíritos sobre os mais diversos temas dos ensinos de Jesus. Teve então início uma segunda etapa da elaboração do livro: escolher dentre essas mensagens as que melhor se encaixavam nos temas de cada capítulo.

Foram horas, dias, semanas e meses consumidos na elaboração do projeto. Pelo menos dois anos exaustivos de trabalho regular, isso em meio a correspondências, edições mensais da Revista Espírita, viagens de propaganda do Espiritismo através de palestras, reuniões semanais da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, numa gama variada de tarefas que absorviam boa parte de seu precioso tempo, mas que ele organizava com método, extraindo de cada hora o máximo possível em produção.

Assim surgiu o esquema do livro, seguido em cada capítulo: primeiro, a(s) passagem(s) evangélica; segundo, os comentários e explicações de Kardec; terceiro, as mensagens dos amigos espirituais. Tudo ordenado e concatenado com lógica e, ao mesmo tempo, envolvido pelo sentimento sublime do amor, numa obra que faz vibrar as fibras mais íntimas da alma.

O lançamento de O Evangelho segundo o Espiritismo, conforme informações de ordem espiritual, representava o golpe de misericórdia nas falsas ideias teológicas, que haviam colocado Jesus como um ser místico, inacessível à compreensão da maioria, envolto em mistérios divinos. O livro vinha esclarecer muitas passagens de seus ensinos, que somente com a chave da imortalidade da alma e da reencarnação podiam ficar compreensíveis. Uma obra de fôlego, ao mesmo tempo de fácil leitura, onde o “amai-vos uns aos outros” e o “fazei ao próximo somente o que quereis que o próximo vos faça” ficam ao alcance de todas as inteligências.

Então Kardec proclama a bandeira de todo espírita: “fora da caridade não há salvação”, e demonstra que o espírita deve sempre utilizar da fé raciocinada, afinal “fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão face a face em todas as épocas da humanidade”.

Nada querendo para si, reconhecendo que apenas havia feito o trabalho por assim dizer material de organizar o livro, proclama Allan Kardec na introdução da obra:

“Não será pela opinião de um homem que se produzirá a união, mas pela unanimidade da voz dos Espíritos. Não será um homem, e muito menos nós que qualquer outro, que fundará a ortodoxia espírita. Nem será tampouco um Espírito, vindo impor-se a quem quer que seja. É a universalidade dos Espíritos, comunicando-se sobre toda a Terra, por ordem de Deus. Este é o caráter essencial da doutrina espírita, nisto está a sua força e a sua autoridade. Deus quis que a sua lei fosse assentada sobre uma base inabalável, e foi por  isso que não a fez repousar sobre a cabeça frágil de um só”.

O Cristianismo é universal, impondo-se a todas as épocas, a todos os homens e a todas as circunstâncias. É a verdade que transcende as culturas humanas, a qual tende a ser reconhecida por todos os povos, até porque os mestres locais, como Buda, Confúcio, Maomé e outros, foram emissários da grande verdade, consubstanciada pelos ensinos de Jesus. E o Espiritismo, que é o Consolador Prometido, vem avivar esses ensinos e esclarecer muitos deles, até então mal interpretados. Portanto, Cristianismo e Espiritismo se conjugam, se harmonizam, se completam.

Com O Evangelho segundo o Espiritismo o pensamento religioso da humanidade entra numa nova etapa, a era do espírito que as clarinadas dos Espíritos, por toda a Terra, anunciam. O homem, o ser no mundo, vem sendo preparado, geração a geração, para colocar o amor em ação, superando atavismos pretéritos, na realização da transformação moral de si mesmo e da humanidade. Com o Espiritismo tudo fica mais fácil, e com essa monumental obra que completa 150 anos de existência, não temos mais desculpas para dar no adiamento dessa missão, pois reconhecemos, em definitivo, que “a cada um é dado segundo as suas obras”, e que depois da morte, que é apenas do corpo, seremos responsabilizados pelos rumos da sociedade humana, pois dela fazemos parte e nela temos o dever de viver da forma mais moralizada e espiritualizada que nos seja possível.

Marcus De Mario é Educador, Escritor. Palestrante. Colaborador da Rádio Rio de Janeiro. Diretor do Instituto Brasileiro de Educação Moral.
Jesus,  em quadro de Maria Tereza Braga, e,  Allan Kardec, Codificador do Espiritismo
Retrato de Louis-Isaac Le Maistre de Sacy (1613- 1684)  por Philippe de ChampaigneImagem:  http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Louis-Isaac_Le_Maistre_de_Sacy.jpg

Página do Novo Testamento publicada por Louis-Isaac Lemaistre de Sacy em 1667. Allan Kardec se utilizou da
tradução de Sacy no trabalho para elaborar  “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.

Edição francesa (7ª) de O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec,
lançado em abril de 1864. Imagem: internet
Sócrates e Platão. Museu do Louvre, Paris, França. Fotos Ismael Gobbo
Logo na introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec coloca um
 resumo da doutrina de Sócrates e de Platão,  precursores da idéia cristã e do Espiritismo. 
Edição brasileira de O Evangelho segundo o Espiritismo
Ponte das Artes, sobre o Rio Sena com o  Instituto de França ao fundo. Paris. Foto Ismael Gobbo
Em Paris Allan Kardec  codificou o Espiritismo.

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