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segunda-feira, 7 de abril de 2014

Sesquicentenário de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” 04-1864 / 04-2014



 Allan Kardec Codificador do Espiritismo  e  Edição francesa de O Evangelho Segundo o Espiritismo

Artigo especial

Doutrina dos Espíritos. Codificação de Allan Kardec,
Religião de fé, razão e luz
Altamirando Carneiro
São Paulo, SP
O século 19 é denominado O Século das Luzes, pois foi nele que houve um grande desenvolvimento das artes, da ciência, da cultura. Neste século, surgiu em 18 de abril de 1857 (data da primeira edição de O Livro dos Espíritos), a Doutrina Espírita, codificada na França por Allan Kardec. Nessa época, Paris, a capital francesa, a então Cidade Luz, era o fulcro pensante do século 19.
         Mas o Espiritismo, a Terceira Revelação,  como as revelações anteriores (Moisés e Cristo), não surgiu abruptamente. Lembremo-nos que as ideias cristãs foram pressentidas muitos séculos antes de Jesus, com Sócrates e Platão,  precursores da Doutrina Cristã e do Espiritismo. Jesus complementou  os Dez Mandamentos, as chamadas Leis de Deus, recebidos (as) por Moisés no Monte Sinai, ao passo que   o Espiritismo deu a interpretação racional aos ensinamentos de Jesus.
         A mediunidade e os chamados “fenômenos espíritas” (não porque sejam próprios do Espiritismo,  mas porque é o Espiritismo que os estuda, sem ideias preconcebidas), fizeram parte do dia a dia de pioneiros como Emmanuel Swedenborg, Edward Irving, Andrew Jackson Davis, Irmãs Fox, dentre outros.
         Até meados do século seis, todo o Cristianismo acreditava na reencarnação, proclamada há milênios antes da Era Cristã como fato incontestável, norteador dos princípios da Justiça Divina, mas o segundo Concílio de Constantinopla, em 553 d. C., realizado em Istambul, na Turquia, em decisão política, para atender as exigências do Império Romano, resolveu abolir tal convicção, substituindo-a  pela ressurreição (da carne),  que contraria todo o princípio da Ciência, pois admite a volta do Ser, no suposto juízo final, no mesmo corpo já desintegrado em todos os seus elementos constitutivos.
         A Luz maior da Doutrina Espírita -    Ao longo do tempo, conforme as convenções humanas, surgiram várias concepções, como: 1) o materialismo, o qual afirma que a inteligência do homem é um produto da matéria. Os gozos materiais são as únicas coisas reais e desejáveis e viver cada um para si é o melhor, enquanto aqui estivermos. 2) a doutrina panteísta, para a qual a alma, independente da matéria, é extraída, ao nascer, do todo universal, individualiza-se em cada ser durante a vida e volta, por efeito da morte, à massa comum.  3-a)  a doutrina deísta, com os deístas independentes, que crêem em Deus, admitem todos os Seus atributos como Criador, contudo, tendo estabelecido as leis gerais que regem o Universo, funcionam por si sós e Deus não mais se ocupa delas. Sendo assim, nada temos que agradecer ou pedir Deus. 3-b) os deístas providenciais, que crêem na existência e no poder criador de Deus, na origem das coisas e na intervenção incessante de Deus na criação, a Ele oram e não admitem o culto exterior e o dogmatismo. 4) a doutrina dogmática, a qual diz que a alma é independente da matéria. Criada por ocasião do nascimento, sobrevive e conserva a individualidade após a morte e desde esse momento, tem irrevogavelmente determinada a sua sorte, sendo nulos os progressos anteriores. 5) a Doutrina Espírita, a qual diz que o princípio inteligente é independente da matéria. A alma individual preexiste e sobrevive ao corpo. O ponto de partida é o mesmo pa ra todas as almas, não havendo exceções. As almas são criadas simples e ignorantes e estão sujeitas à lei do progresso.
A Doutrina Espírita se   assenta nos pilares básicos: a existência de Deus, a reencarnação ou pluralidade das existências, a pluralidade dos mundos habitados, a intercomunicação entre os dois planos da vida, o Código de Moral do Evangelho do Cristo.
         A concepção da existência de Deus, inata no homem, bem como a certeza do Espírito imortal, faz parte do pensamento de filósofos que impulsionaram a cultura do século 19. Immanuel Kant assinala que a consciência é a voz de Deus no homem. E demonstra que a lei moral é a possibilidade mais profunda de nosso ser, e a realização de nossa verdadeira destinação. René Descartes, ao chegar à célebre conclusão: “penso, logo existo”, afirma que o pensamento é algo mais certo que a matéria corporal, e descobre a realidade do Espírito. Hegel escreveu a Fenomenologia do Espírito, onde traça a história pela qual a consciência humana elevou-se das representações mais elementares de Deus à sua representação filosófica adequada.
         Entre vozes dissonantes, Friedrich Nietzsche proclamou a morte de Deus, mas Voltaire foi preciso quando afirmou que não acreditava nos deuses feitos pelos homens, mas sim no Deus que fez os homens.   
         O progresso moral distanciou-se cada vez mais do progresso científico. Se observarmos o progresso da Humanidade, vemos que em todas as épocas o progresso moral sempre marchou atrás do progresso material, no que para nós cristãos, o progresso material deve sempre andar lado a lado com o progresso moral. Somos como os pássaros, temos duas asas: a asa da moral e a asa do conhecimento, que devem sempre andar lado a lado.
         Retornemos  às várias concepções surgidas na Terra. Como dissemos no primeiro parágrafo, a Doutrina Espírita surgiu em 18 de abril de 1857, em Paris, França, com a primeira edição de O Livro dos Espíritos,   com 501 perguntas de Allan Kardec e as respostas dos Espíritos, com comentários, em negrito, do Codificador. A segunda edição, de 16 de março de 1860, foi reestruturada e aumentada por Kardec, com 1.019 questões, sob a orientação do Espírito de Verdade, que desde a elaboração da primeira edição já o avisara que ela  não podia conter tudo.
         Os “fenômenos espíritas” com os quais a Europa já estava familiarizada, principalmente através dos fenômenos das mesas girantes, que não passavam de meros divertimentos nos salões sociais, assumiam séria conotação, provocando reações do mundo todo.
         A segunda parte do livro Obras Póstumas, publicado em 1890 com escritos deixados por Allan Kardec, capítulo A minha primeira iniciação no Espiritismo, registra estas palavras do Codificador:
         “Compreendi, antes de tudo, a gravidade da pesquisa que ia empreender; percebi naqueles fenômenos a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da Humanidade, a solução que eu procurava em toda a minha vida. Em suma, toda uma revolução das ideias e das crenças.”
         Depois de O Livro dos Espíritos, vieram: O Livro dos Médiuns – janeiro de 1861; O Evangelho Segundo o Espiritismo – 29 de abril de 1864; O Céu e o Inferno – agosto de 1865; A Gênese – janeiro de 1868.
            O Evangelho Segundo o Espiritismo completa em abril deste ano  de 2014, cento e cinquenta a nos de luz. Conforme disse Allan  Kardec, trata-se do desenvolvimento dos tópicos religiosos de O Livro dos Espíritos, e representa um manual de aplicação moral do Espiritismo.
            Sobre  esta portentosa obra  da Codificação Espírita, o livro Obras Póstumas registra uma comunicação de 9 de agosto de 1863, em que destacamos o trecho: “Este livro de doutrina terá influência considerável. Tu atacas as questões capitais e não somente o mundo religioso encontrará nele as máximas, que lhe são necessárias, mas a vida prática das nações obterá excelentes instruções”.
            Posteriormente, a comunicação de 14 de setembro de 1863 registra: “Com esta obra o edifício começa a destacar-se e já se pode entrever a cúpula desenhando-se no horizonte. Continua pois sem impaciência e sem fadiga; o monumento será concluído a seu tempo”.
Nesse cenário,  Allan Kardec lança em 1º. de janeiro de 1858, a Revista Espírita, que circulou até o ano de 1869, e em 1º.  de abril de 1858  a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, o primeiro Centro Espírita do mundo. Contrariando os procedimentos da época, em que as manifestações das “mesas girantes” eram praticadas nos salões das residências burquesas, Kardec entendia que as reuniões espíritas deveriam ser efetuadas em instituição especialmente criada com esse objetivo, para evitar a frivolidade e a interferência de contingências da vida privada dos participantes.
         Tarefa difícil e complexa - Na página final da Revista Espírita, de 1858, Kardec notificou:
         “Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Fundada em 1º. De abril de 1858 e autorizada por portaria do Sr. Prefeito de Polícia, conforme aviso de S. Ex., o sr. Ministro do Interior da segurança geral, em data de 13 de abril de 1858”.
         No capítulo XXX do O Livro dos Médiuns, o Codificador relaciona os 29 artigos que tratam dos objetivos e fins da entidade: da constituição, dos sócios, da administração, das sessões e de outras disposições. Em dois anos, a Sociedade contava com 87 sócios efetivos pagantes, entre cientistas, literatos, artistas, médicos, engenheiros, advogados, magistrados, membros da nobreza, oficiais do Exército e da Marinha, funcionários civis, empresários, professores, artesãos. O número de visitantes chegava a quase mil e quinhentas pessoas por ano.
         Kardec, que desempenhava o cargo de presidente desde a fundação da entidade. Cansado pelo excesso de trabalho e aborrecido com querelas administrativas, por várias vezes manifestou o desejo de renunciar, mas aconselhado pelos mentores espirituais, continuou no exercício da presidência até a sua desencarnação.
         O Codificador era rigoroso no cumprimento das disposições estatutárias e na disciplina das atividades. Exigia de todos os participantes muita seriedade, fato que contribuiu para dar muita credibilidade à instituição e aos seus pronunciamentos, pois Kardec era extremamente austero nos pareceres emitidos e nunca permitiu que a Sociedade se tornasse meio de controvérsias e debates estéreis.
         Allan Kardec realizou várias viagens a serviço da Doutrina Espírita, sendo que a viagem de 1862 foi a mais importante e mereceu do Codificador um opúsculo especial. Naquele ano, viajou por quase dois meses. Percorreu, de trem, 693 léguas e visitou 20 cidades. Nascido Denizard Hippolyte Léon Rivail, na cidade de Lion, na França, em 3 de outubro de 1804, estudou  no Instituto Yverdun, na Suíça, fundado e dirigido por João Henrique Pestalozzi.
         Aos 51 anos, era um educador consagrado na França e autor de diversos livros sobre a educação. Bacharel em ciências e letras, falava e escrevia o alemão, o inglês, o espanhol, o italiano e o holandês.
Casado com a professora Amèlie Gabrielle Boudet, desencarnada em 21 de janeiro de 1883, Allan Kardec desencarnou em 31 de março de 1869, pela ruptura de um aneurisma.
         No capítulo XXIII do livro A Caminho da Luz, (FEB), psicografado por Francisco Cândido Xavier, Emmanuel registra:
         “A tarefa de Allan Kardec era difícil e complexa. Competia-lhe reorganizar o edifício desmoronado da crença, reconduzindo a civilização às mais profundas  bases religiosas”.
         E o volume III da obra Allan Kardec (pesquisa bibliográfica e ensaios de interpretação )- FEB, de Zeus Wantuil e Francisco Thiesen, anota:
         “Observando, comparando e julgando os fatos, sempre com cuidado e perseverança, concluiu (Allan Kardec) que realmente eram os Espíritos daqueles que morreram a causa inteligente dos efeitos inteligentes e deduziu as leis que regem esses fenômenos, deles extraindo admiráveis consequências  filosóficas e toda uma doutrina de esperança, de consolações e de solidariedade universal.”
         Espiritismo, ideia de muitos – Em editorial da revista Reencarnação, editada pela Federação Espírita do Rio Grande do Sul – número 407, 2º. Semestre de 1993, Jason de Camargo diz:
         “O Espiritismo, amparado na fé raciocinada e fundamentada nas leis naturais, acompanha o progresso da ciência e se consolida como uma Doutrina desprovida de dogmas, interpretações pueris e fanatismo religioso. Inequivocamente, dedicou profundos estudos sobre esses temas. Procurou retirar as concepções ainda mitológicas existentes e possibilitou uma nova visão de mundo para todas as criaturas, iniciando, justamente, por Deus – a questão primeira d’O Livro dos Espíritos”.
         No item Influência do Espiritismo no Progresso, do capítulo VIII (Lei do Progresso) – Livro Terceiro – As Leis Morais, de O Livro dos Espíritos – questão 798, Allan Kardec pergunta:
         “O Espiritismo se tornará uma crença comum ou será apenas a de algumas pessoas?”       
         Os Espíritos respondem:
         “Certamente ele se tornará uma crença comum e marcará uma nova era na História da Humanidade, porque pertence à Natureza e chegou o tempo em que deve tomar lugar nos conhecimentos humanos. Haverá, entretanto, grandes lutas a sustentar, mais contra os interesses do que contra a convicção, porque não se pode dissimular que há pessoas interessadas em combatê-lo, umas por amor-próprio e outras por motivos puramente materiais. Mas os seus contraditores, ficando cada vez mais isolados, serão afinal forçados a pensar como todos os outros, sob pena de se tornarem ridículos.”
         Em Obras Póstumas, há o registro da posição de Kardec sobre o intolerante Auto-de-fé de Barcelona, que ocorreu  em 9 de outubro de 1861, quando foram queimados em praça pública, em Barcelona, 300 volumes enviados pelo Codificador ao livreiro Maurício Lachâtre. Quando o fogo consumiu os 300 volumes, o padre e seus bispos se retiraram,  cobertos pelas vaias e as maldições dos numerosos assistentes, que gritavam: Abaixo a Inquisição! Em seguida, numerosas pessoas se aproximaram da fogueira, e recolheram as suas cinzas.
         Diz Kardec:
         “Podem queimar livros, mas não se queimam ideias; as chamas das fogueiras as superexcitam, em vez de extingui-las. Ademais, as ideias estão no ar, e não há Pirineus bastante elevados para detê-las; e quando é grande e generosa uma ideia, encontra milhares de corações dispostos a almejá-la.”
         Como a fênix, com o Auto-de-fé de Barcelona, das cinzas nasceu a Luz! Como o Cristianismo, o Espiritismo é uma ideia verdadeira, que prevalecerá. Já se vê que o Espiritismo venceu e vencerá, com os homens, sem os homens e apesar dos homens.

(Texto recebido em email de Altamirando Carneiro, São Paulo, SP)
As cinco obras básicas da Doutrina Espírita assinadas por Allan Kardec
Jardim das Tulherias, o obelisco egípcio na  Praça da Concórdia  e o Arco do Triunfo ao fundo.
Paris, França. Foto Ismael Gobbo


Paris, França, a cidade berço do Espiritismo.  Foto Ismael Gobbo.
A trajetória do Rio Sena desde a região de Bercy, no alto, até a Ponte das Almas, abaixo,  á esquerda

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