Richard Simonetti
· Quem peca, contra si peca; quem comete injustiça, a si agrava, porque a si mesmo perverte.
· É da perfeição moral usar cada dia como se fosse o último, sem comoções, sem torpores, nem fingimento.
· Olha para ti mesmo; é em ti mesmo que se encontra a fonte do bem, uma fonte inextinguível desde que a explores sempre.
· O melhor modo de vingar-se de um inimigo é não se assemelhar a ele.
· Não vivas como se devesses viver milhares de anos. Pende sobre ti o inevitável. Enquanto vives e tanto quanto possível faze-te homem de bem.
· Depois de haveres feito o bem a um homem, que queres ainda? Não te basta haver praticado uma ação conforme a tua índole e queres, além disso, um galardão, como se os olhos tivessem que ser pagos porque enxergam e os pés porque andam?
· A discórdia tem três inconvenientes: o tédio, a impaciência e a perda de tempo.
· Mais penosas são as conseqüências da ira do que as suas causas.
Belas orientações, não é mesmo, leitor amigo?
Cada uma delas constitui, por si, todo um roteiro em favor de uma existência digna e feliz, preparado por um pensador que diríamos ter bebido nas fontes da mais pura sabedoria.
Consta de um livro, Meditações, escrito há perto de dezoito séculos.
Seu autor tinha o mais improvável dos cargos para um filósofo: imperador romano!
Isso mesmo! Um dono do Mundo, mais poderoso em seu tempo do que o presidente dos Estados Unidos, na atualidade.
Trata-se de César Marco Aurélio Antonino Augusto, ou como seria conhecido pela posteridade, Marco Aurélio (121-180).
Nascido em Roma, filho de abastada família, sua grande vocação era a filosofia. Aos onze anos adotou o manto singelo dos cínicos, passou a alimentar-se frugalmente e a dormir sobre duro catre.
Renunciava ao mundo para dedicar-se à filosofia.
Não tardou muito e viu-se na contingência de renunciar à filosofia para cuidar do mundo, exercitando um poder que não lhe interessava, imposto pelos fados, algo que só o Espiritismo explica.
Há compromissos assumidos pelo Espírito ao reencarnar, cobrados à medida que se desenrola o fio de seu destino.
***
Platão cogitara de um Estado perfeito, governado por um filósofo. Com poderes absolutos e recursos materiais, esse governante poderia realizar tal utopia.
Roma, rica e poderosa, apresentava promissoras perspectivas nesse particular.
Marco Aurélio seria o sonhado governante capaz de exercitar a sabedoria na condução dos negócios, realizando o ideal do filósofo grego.
Nomeado imperador no ano 161, governaria Roma até sua morte. Nesses dezenove anos, segundo muitos historiadores, o grande império viveu sua fase áurea, sob a batuta desse governante que só queria ser filósofo.
Marco Aurélio consolidou a administração centralizada, dando unidade ao Império, e estabeleceu princípios de hierarquia bem definidos. Diríamos que azeitou as engrenagens de Roma.
Por outro lado, preocupou-se com uma aplicação mais humanitária das leis.
Diante de uma rebelião vencida, determinou:
Que voltem os banidos às suas casas; que sejam restituídas aos proscritos as s uas propriedades. Eu desejaria, apenas, poder chamar de entre os mortos as pobres vítimas que já sofreram essa pena.
Não obstante, esteve longe de realizar a utopia de Platão.
Para sua desdita, foi muito mais um guerreiro, envolvido em intermináveis guerras para reprimir povos bárbaros que insistiam em invadir as províncias romanas e as traições que constituíam tradição no comportamento dos prepostos romanos.
Foi vitorioso como comandante das forças armadas, mas acabou em vã filosofia ao envolver-se com atrocidades para defender os interesses de Roma.
Embora pessoalmente afável e justo, iniciou cruel movimento de perseguição aos cristãos, cujos princípios, que enfatizavam a mansuetude, pareciam perigosos para a estabilidade do império. Assim, determinou que fossem crucificados seus líderes.
No entanto, confessava:
Eu, humilde filósofo, sempre acariciei a ambição de nunca fazer mal a ninguém.
***
Marco Aurélio exprimiu de forma dramática esse terrível dualismo que caracteriza o Homem, mesmo missionários em trânsito pela Terra.
Raros conseguem superar as limitações de seu tempo.
Deixam-se envolver pelo mal, embora venham à Terra para as realizações do Bem.
Há sempre sombras nas biografias mais ilustres.
Somente um Espírito irradiou luzes, incessantemente:
Jesus, o missionário divino, preposto de Deus, filósofo supremo, sábio dos sábios, que exemplificou a suprema filosofia:
A renúncia de nós mesmos em favor do bem comum, a exprimir-se no empenho de servir.
Busto do Imperador Marco Aurélio
Museu Arqueológico de Istambul. Foto Ismael Gobbo
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