Richard Simonetti
Podemos definir a metáfora, em sua expressão mais simples, como “sentido figurado”.
Alguns exemplos:
· os verdes anos – a juventude.
· outono da vida – a meia idade.
· um touro – muito forte.
· uma fortaleza – ânimo firme.
· uma estrela – atuação destacada.
Em A República, Platão (428-348 a.C.), coloca nos lábios de Sócrates (470-399 a.C.), interessante metáfora, relacionada com nossa visão da realidade.
Numa caverna vivem seres humanos.
Ali nasceram. Dali nunca saem.
Estão acorrentados, em tal disposição, que só podem observar o que está à sua frente.
Por trás deles arde uma fogueira.
A luz do fogo projeta sombras na parede.
É tudo o que vêem.
Seu mundo é feito de sombras.
A caverna simboliza as limitações impostas pelos sentidos e pela ignorância. Impedem as pessoas de ver o mundo real, que Platão chama universo das idéias.
A fogueira é a experiência sensorial que pouco ilumina, projetando sombras de ilusão nas paredes existenciais.
Alguém desenvolve a sensibilidade, supera a ignorância, conquista o saber – deixa a caverna.
Num primeiro momento, deslumbra-se com a luz solar, a visão gloriosa da Natureza.
Lamenta o tempo perdido, o comprometimento com as sombras…
Decide ajudar os companheiros com sua experiência.
Não é bem recebido.
Não acreditam nele. Julgam que está delirando. Hostilizam-no.
Aconteceu com o próprio Sócrates, condenado à morte pela pretensão de ensinar os homens a enxergar além das sombras.
***
Observando a metáfora de Platão sob outro ângulo, podemos situar a caverna como nosso confinamento na matéria densa, a partir da reencarnação.
O corpo físico, pesado grilhão, impõe-nos inúmeras limitações. Inibe nossas percepções tão intensamente que não conseguimos sequer imaginar a vida nos planos etéreos, embora venhamos de lá.
É tudo muito nebuloso, denso, sombrio…
Há duas maneiras de superar as sombras da caverna:
A primeira, por impositivo da Natureza:
A morte.
Pode não ser interessante.
Se partirmos sem preparo, fatalmente a vida espiritual nos ofuscará, perturbando-nos. Seremos como sonâmbulos que falam e ouvem, alienados da realidade.
A segunda, por exercício da vontade:
O conhecimento.
É bem melhor.
Enxergamos melhor a partir do empenho por ampliar nossos horizontes, buscando as luzes da espiritualidade para definir de onde viemos, por que estamos aqui e para onde vamos.
Então veremos como somos de verdade, não como supomos ser, na pálida visão de sombras.
E nos habituaremos à claridade para que não nos ofusquemos quando chegar a hora de deixar a caverna.
***
Diz Sócrates:
No mundo do conhecimento, a idéia do bem aparece por último e é percebida apenas com esforço; mas, quando percebida, torna-se claro que ela é a causa universal de tudo que é bom e belo, o criador da luz e o senhor do sol neste mundo visível.
Em Jesus temos conceituação esclarecedora a respeito do assunto:
Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. (João, 8:32).
É preciso deixar a caverna da ignorância que nos impõe sombras de ilusão.
Tudo o que quiserdes que os homens voz façam, fazei-o assim a eles. ( Mateus, 7:12).
Esta a mais eficiente iniciativa – trabalhar pelo bem comum.
Quando o fazemos acuramos nossos olhos para uma visão objetiva da realidade, com muito mais clareza e propriedade do que as mais sofisticadas elucubrações filosóficas.
A Doutrina Espírita não faz por menos, como recomenda o Espírito Verdade, em O Evangelho Segundo o Espiritismo (capítulo VI):
Espíritas, amai-vos, este o primeiro mandamento.
Convite ao esforço do Bem.
Instruí-vos, este o segundo mandamento.
Convite ao aprendizado incessante.
Oportuno, em relação ao assunto, perguntarmos a nós mesmos:
Em que posição estou na caverna terrestre?
Ilustração da Alegoria da Caverna
Imagem: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Plato%27s_allegory_of_the_cave.jpg
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