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sábado, 2 de janeiro de 2010

A CASCA GROSSA


Richard Simonetti
richardsimonetti@uol.com.br

Aquele que não pode cumprir os deveres de pai não tem o direito de sê-lo. Não há pobreza, nem trabalhos, nem respeito humano, que o dispensem de alimentar seus filhos e de educá-los ele mesmo.

Qualquer pessoa, com uma dose mínima de bom senso, subscreveria a idéia acima. Indiscutível a responsabilidade dos pais no cuidado dos filhos. Curiosamente, o autor dessa frase nunca experimentou a preocupação de constituir um lar, nem assumiu responsabilidades relacionadas com a paternidade. Relacionou-se durante muitos anos com uma criada, que lhe deu cinco filhos. Surpreendentemente, ele os encaminhava a um orfanato, conforme nasciam, sob alegação de que não tinha condições para cuidar deles.

Certamente não cogitava das frustrações da mãe, já que em sua opinião a vocação natural da mulher era servir o homem. Diz o mesmo autor: A rigidez dos deveres relativos aos dois sexos não é nem pode ser a mesma. Quando a mulher se queixa a respeito da injusta desigualdade que o homem impõe, não tem razão; essa desigualdade não é uma instituição humana ou, pelo menos, obra do preconceito, e sim da razão; cabe a quem a natureza encarregou do cuidado com os filhos a responsabilidade disso perante o outro.

Tal disposição não seria indesejável, do ponto de vista machista, mas certamente uma péssima idéia para as feministas militantes. Estou falando de um dos grandes vultos da literatura francesa, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que exerceu enorme influência em vários setores da cultura no seu tempo, e exerce ainda hoje.

O pensador francês foi uma usina de idéias. Em O Emílio, imagina a educação de um jovem, voltada para a Natureza, com menos racionalização e conceitos professorais, evitando impor condicionamentos ao aprendiz. É nesse livro que faz a observação com a qual abrimos estes comentários, contraditada por seu comportamento.

Rousseau avançaria em outros setores, com destaque para a atividade religiosa. Para ele a verdadeira religião está no amor ao belo e ao Bem. Idealizava um Cristianismo simples e natural, depurado de dogmas e exterioridades.

Curioso esse descompasso entre teoria e prática, que marca muitos pensadores, mesmo aqueles que se destacam pela sua contribuição em favor do progresso humano, como Rousseau.

É bem o faça o que eu falo, não o que eu faço. O apóstolo Paulo tem uma observação genial (Romanos, 7:19): Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço.

Uma idéia marcante no pensamento de Rousseau exprime essa contradição, justificando, aparentemente, seu próprio comportamento. Afirma ele: O homem nasce bom; é a sociedade que o corrompe. Embora desejando o Bem, acaba seguindo os caminhos que o meio social lhe impõe.

Sabemos, à luz da Doutrina Espírita, que não é assim. Bons todos o somos, como sugere Rousseau, mas em potencialidade.

Somos filhos de Deus, criados à sua imagem e semelhança. Portanto, a bondade é algo inerente à nossa filiação divina. Programados para a bondade, somente ela nos faz felizes e ajustados.

Dirá você, leitor amigo, que alguns devem ter nascido com defeito de fabricação, já que o mal prevalece em seu comportamento. Ocorre que, embrionária em nós, a bondade está revestida pela casca grossa de nossas imperfeições.

O somatório desse revestimento grosseiro sustenta a selva sombria das misérias humanas.

Não obstante, há indivíduos que conservam suas virtudes, mesmo quando pressionados pelo ambiente. Neles o Bem já não é embrionário, entranhando-se em sua personalidade e refletindo-se em seu comportamento, mesmo em circunstâncias adversas, mesmo enfrentando situações condicionantes.

Espíritos como Rousseau trazem contribuições marcantes, revelando atilada inteligência e apreciável percepção, mas, longe da perfeição, cometem autênticas derrapadas nos caminhos a que se propõem, comprometendo-se em desvios lamentáveis.

Esses percalços são superados à medida que o Espírito evolui, desbastando a casca grossa. A bondade, inerente à nossa filiação divina, acabará por prevalecer, mesmo sob influências negativas que ainda caracterizam a sociedade humana.

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