RICHARD SIMONETTI
Lucas; 18:15-17
Marcos, 10:13-16
Mateus, 19:13-15
Jesus transmitia suas lições, preparando os corações para o Reino de Deus, quando algumas crianças foram colocadas à sua frente, a fim de que as abençoasse.
Era costume entre os judeus que os homens santos ministrassem suas bênçãos – uma evocação da proteção divina sobre crianças e adultos.
O ato de abençoar enraizou-se no Cristianismo, estendendo-se ao próprio relacionamento familiar, envolvendo pais e filhos.
Não são poucos os que guardam, no tesouro das recordações mais ternas da infância, expressões assim:
– A “bença”, pai!
– Deus te abençoe, filho!
– A “bença”, mãe!
– Deus te abençoe, filho!
A criançada podia dormir tranqüila!
Estava presente a proteção divina, evocada pelos pais!
Gente com mania de originalidade contesta o ato de abençoar , sob a alegação de que tende a estabelecer barreiras entre pais e filhos. O que abençoa situa-se acima daquele que é abençoado. Isso inibiria a comunhão afetiva.
Levada às últimas conseqüências essa orientação, deveríamos eliminar toda disciplina no lar, porquanto, qualquer iniciativa dos pais nesse sentido representaria o exercício de indébito autoritarismo, a erguer barreiras entre eles e os filhos.
Ah, esses doutos!
Quando o cérebro se desliga do coração, perde o rumo e envereda por estranhos caminhos.
Raciocínios dessa natureza inibem uma das mais belas manifestações de afetividade no lar:
Os filhos que pedem a bênção de seus pais.
Os pais que abençoam seus filhos.
***
Os discípulos aborreceram-se com a presença das crianças, mas Jesus os conteve:
– Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o Reino de Deus. Em verdade vos digo que aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, de modo algum entrará nele.
Abraçando os pequenos, abençoou-os, impondo-lhes as mãos. Situava, assim, as crianças, como o símbolo das condições necessárias ao ingresso no Reino de Deus.
Bem, em princípio, uma perguntinha:
Onde fica?
Se você não sabe, leitor amigo, não se preocupe.
Em outra passagem evangélica (Lucas, 17:21), o próprio Mestre informa:
– O Reino de Deus está dentro de vós.
Então, não se trata de local geográfico, na Terra ou alhures.
É um estado de consciência!
O Céu está em algum recanto, em nosso universo interior.
Obviamente, o inferno também.
Diríamos que são realizações pessoais, condicionadas ao que pensamos e fazemos.
***
Uma senhora vivia desolada e infeliz!
Dizia-se mal amada…
O marido não lhe dava atenção; os filhos a desrespeitavam; os vizinhos eram invejosos; o pessoal de sua igreja agia com falsidade; sua vida, um tormento!
Quando desencarnou, por uma questão de afinidade, ela, que cultivava um inferno em seu coração, viu-se em região de sofrimentos.
Ali, mais que nunca, sentia-se infeliz.
Mal amada…
Reclamava que Deus não lhe ouvia as orações. Via-se cercada de gente atormentada; revoltava-se contra o destino ingrato, mergulhada num oceano de aflições…
Depois de muito sofrer, brilhou em seu coração uma réstia de humildade. Lavou o coração com lágrimas contritas, implorando a complacência divina.
Imediatamente foi socorrida por benfeitores espirituais que a levaram para estágio reparador, em maravilhosa colônia espiritual.
Ali vivia uma comunidade feliz e ajustada, que observava integralmente o Evangelho, cultivando os valores do Bem.
A senhora esteve satisfeita… por algum tempo .
Em breve caiu nos tormentos a que se habituara.
Mal amada…
Ninguém lhe dava atenção…
Havia falsidade nas pessoas…
A ladainha de sempre!
Vivendo em autêntico paraíso, permanecia no inferno que sustentava em si mesma.
***
Em Velho Tema, Vicente de Carvalho (1866-1924) exprime essa arraigada condição humana: a incapacidade de sermos felizes por não valorizarmos o que a vida nos oferece.
Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos,
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim; mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.
Onde estivermos, na Terra ou no Além, sustentaremos o céu ou o inferno, construído na intimidade de nosso ser com as ferramentas do cérebro e do coração, tendo por material o que pensamos e sentimos.
***
Para ingressar na recôndita região de nosso universo interior, onde está o Reino de Deus, é preciso uma senha.
Ser como as crianças – revela Jesus.
Há algo inerente à natureza infantil que devemos imitar para abrir as portas do paraíso interior.
A senha se compõe de duas virtudes.
· Pureza.
A criança não é maliciosa, não vê o mal no comportamento alheio, não se compraz com a maledicência, não guarda mágoas, desconhece a hipocrisia. É capaz de relacionar-se com qualquer pessoa, independente da cor, raça, nacionalidade, religião, posição social…
· Simplicidade.
A criança não se sente infeliz por morar em singela cabana. Diverte-se tanto com um pau de vassoura feito cavalo, quanto o faria o menino rico num palácio, movendo-se em patinete motorizada.
Para entrar no Reino de Deus, na intimidade de nós mesmos, é preciso resgatar a criança que fomos, aprisionada na teia das ambições, dos vícios e das mazelas.
Evidentemente, não é fácil.
Como diz André Luiz, contra a pálida réstia de luz do presente, simbolizada pelo desejo de melhorar, há montanhas de trevas do passado.
Proclama o apóstolo Paulo (Romanos, 7:19):
O bem que eu quero, não faço.
O mal que não desejo, esse eu faço.
Temos visto esse filme, no desdobrar de múltiplas existências.
Mudam os cenários, mas o enredo é sempre o mesmo:
Começamos a vida como “mocinhos”, dispostos a mudar o mundo.
Terminamos como “bandidos”, comprometidos por vícios e mazelas.
É preciso produzir um filme diferente, nos estúdios da Vida.
Perseverar nos bons propósitos…
Lutar contra nossas tendências inferiores…
Conservar fidelidade ao Bem…
Cultivar ideais que nos permitam sustentar a simplicidade e a pureza dos verdes anos.
“Mocinhos”, jamais “bandidos”.
Bem-aventurados, jamais mal amados.
No Céu, ainda que enfrentando as agruras da Terra.
Lucas; 18:15-17
Marcos, 10:13-16
Mateus, 19:13-15
Jesus transmitia suas lições, preparando os corações para o Reino de Deus, quando algumas crianças foram colocadas à sua frente, a fim de que as abençoasse.
Era costume entre os judeus que os homens santos ministrassem suas bênçãos – uma evocação da proteção divina sobre crianças e adultos.
O ato de abençoar enraizou-se no Cristianismo, estendendo-se ao próprio relacionamento familiar, envolvendo pais e filhos.
Não são poucos os que guardam, no tesouro das recordações mais ternas da infância, expressões assim:
– A “bença”, pai!
– Deus te abençoe, filho!
– A “bença”, mãe!
– Deus te abençoe, filho!
A criançada podia dormir tranqüila!
Estava presente a proteção divina, evocada pelos pais!
Gente com mania de originalidade contesta o ato de abençoar , sob a alegação de que tende a estabelecer barreiras entre pais e filhos. O que abençoa situa-se acima daquele que é abençoado. Isso inibiria a comunhão afetiva.
Levada às últimas conseqüências essa orientação, deveríamos eliminar toda disciplina no lar, porquanto, qualquer iniciativa dos pais nesse sentido representaria o exercício de indébito autoritarismo, a erguer barreiras entre eles e os filhos.
Ah, esses doutos!
Quando o cérebro se desliga do coração, perde o rumo e envereda por estranhos caminhos.
Raciocínios dessa natureza inibem uma das mais belas manifestações de afetividade no lar:
Os filhos que pedem a bênção de seus pais.
Os pais que abençoam seus filhos.
***
Os discípulos aborreceram-se com a presença das crianças, mas Jesus os conteve:
– Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o Reino de Deus. Em verdade vos digo que aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, de modo algum entrará nele.
Abraçando os pequenos, abençoou-os, impondo-lhes as mãos. Situava, assim, as crianças, como o símbolo das condições necessárias ao ingresso no Reino de Deus.
Bem, em princípio, uma perguntinha:
Onde fica?
Se você não sabe, leitor amigo, não se preocupe.
Em outra passagem evangélica (Lucas, 17:21), o próprio Mestre informa:
– O Reino de Deus está dentro de vós.
Então, não se trata de local geográfico, na Terra ou alhures.
É um estado de consciência!
O Céu está em algum recanto, em nosso universo interior.
Obviamente, o inferno também.
Diríamos que são realizações pessoais, condicionadas ao que pensamos e fazemos.
***
Uma senhora vivia desolada e infeliz!
Dizia-se mal amada…
O marido não lhe dava atenção; os filhos a desrespeitavam; os vizinhos eram invejosos; o pessoal de sua igreja agia com falsidade; sua vida, um tormento!
Quando desencarnou, por uma questão de afinidade, ela, que cultivava um inferno em seu coração, viu-se em região de sofrimentos.
Ali, mais que nunca, sentia-se infeliz.
Mal amada…
Reclamava que Deus não lhe ouvia as orações. Via-se cercada de gente atormentada; revoltava-se contra o destino ingrato, mergulhada num oceano de aflições…
Depois de muito sofrer, brilhou em seu coração uma réstia de humildade. Lavou o coração com lágrimas contritas, implorando a complacência divina.
Imediatamente foi socorrida por benfeitores espirituais que a levaram para estágio reparador, em maravilhosa colônia espiritual.
Ali vivia uma comunidade feliz e ajustada, que observava integralmente o Evangelho, cultivando os valores do Bem.
A senhora esteve satisfeita… por algum tempo .
Em breve caiu nos tormentos a que se habituara.
Mal amada…
Ninguém lhe dava atenção…
Havia falsidade nas pessoas…
A ladainha de sempre!
Vivendo em autêntico paraíso, permanecia no inferno que sustentava em si mesma.
***
Em Velho Tema, Vicente de Carvalho (1866-1924) exprime essa arraigada condição humana: a incapacidade de sermos felizes por não valorizarmos o que a vida nos oferece.
Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos,
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim; mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.
Onde estivermos, na Terra ou no Além, sustentaremos o céu ou o inferno, construído na intimidade de nosso ser com as ferramentas do cérebro e do coração, tendo por material o que pensamos e sentimos.
***
Para ingressar na recôndita região de nosso universo interior, onde está o Reino de Deus, é preciso uma senha.
Ser como as crianças – revela Jesus.
Há algo inerente à natureza infantil que devemos imitar para abrir as portas do paraíso interior.
A senha se compõe de duas virtudes.
· Pureza.
A criança não é maliciosa, não vê o mal no comportamento alheio, não se compraz com a maledicência, não guarda mágoas, desconhece a hipocrisia. É capaz de relacionar-se com qualquer pessoa, independente da cor, raça, nacionalidade, religião, posição social…
· Simplicidade.
A criança não se sente infeliz por morar em singela cabana. Diverte-se tanto com um pau de vassoura feito cavalo, quanto o faria o menino rico num palácio, movendo-se em patinete motorizada.
Para entrar no Reino de Deus, na intimidade de nós mesmos, é preciso resgatar a criança que fomos, aprisionada na teia das ambições, dos vícios e das mazelas.
Evidentemente, não é fácil.
Como diz André Luiz, contra a pálida réstia de luz do presente, simbolizada pelo desejo de melhorar, há montanhas de trevas do passado.
Proclama o apóstolo Paulo (Romanos, 7:19):
O bem que eu quero, não faço.
O mal que não desejo, esse eu faço.
Temos visto esse filme, no desdobrar de múltiplas existências.
Mudam os cenários, mas o enredo é sempre o mesmo:
Começamos a vida como “mocinhos”, dispostos a mudar o mundo.
Terminamos como “bandidos”, comprometidos por vícios e mazelas.
É preciso produzir um filme diferente, nos estúdios da Vida.
Perseverar nos bons propósitos…
Lutar contra nossas tendências inferiores…
Conservar fidelidade ao Bem…
Cultivar ideais que nos permitam sustentar a simplicidade e a pureza dos verdes anos.
“Mocinhos”, jamais “bandidos”.
Bem-aventurados, jamais mal amados.
No Céu, ainda que enfrentando as agruras da Terra.
Livro: Setenta Vezes Sete
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