POR GRATIDÃO SÉRGIO PAULO LIBERTA
JEZIEL (ESTEVÃO) NO PORTO DE JOPE,
EM ISRAEL.
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— Pois fase constar nos teus apontamentos que o escravo Jeziel, atacado de mal
desconhecido, contraído em Cefalônia, foi sepultado no mar, antes que a peste contagiasse
os tripulantes e passageiros. Para que o rapaz não se comprometa, instruí-lo-ei a respeito,
dando-lhe umas tantas ordens terminantes. Além disso, noto-o bastante enfraquecido para
resistir com êxito às crises culminantes da moléstia ainda em começo. Quem poderá garantir
que ele resistirá? Quem sabe morrerá ao abandono, no segundo minuto de liberdade?
O comandante e o feitor trocaram um olhar inteligente, de implícito acordo mútuo.
Depois de longa pausa, Sérvio concordou, dando-se por vencido:
— Está bem, seja.
O moço patrício estendeu a mão aos dois e murmurou:
— Por este obséquio ao meu dever de consciência, poderão sempre dispor em mim de um
amigo.
Daí a instantes, Sérgio acercou-se do jovem, semi-adormecido junto do seu camarote e já
tomado da febre em começo de explosão, dirigindo-lhe a palavra com delicadeza e bondade:
— Jeziel, desejarias voltar à liberdade?
— Oh! senhor, exclamou o jovem reanimando o organismo com um raio de esperança.
— Quero compensar a dedicação que me dispensaste nos longos dias da minha
enfermidade.
— Sou vosso escravo, senhor. Nada me deveis.
Ambos falavam o grego e, refletindo subitamente na situação de futuro, o patrício interrogou:
— Sabes o idioma comum da Palestina?
— Sou filho de israelitas, que me ensinaram a língua materna nos mais verdes anos.
— Então, não te será difícil recomeçar a vida nessa província.
E medindo as palavras, como se temesse alguma surpresa contrária aos seus projetos,
acentuou:
— Jeziel, não ignoras que te encontras enfermo, talvez tão gravemente quanto eu, há alguns
dias. O comandante, atento à possibilidade de um contágio geral, dada a presença de
numerosos homens a bordo, pretendia lançar-te ao mar; contudo, amanhã de tarde
chegaremos a Jope e hei de valer-me dessa circunstância para devolver-te à vida livre. Não
desconheces, todavia, que, assim procedendo, estou a infringir certas determinações
importantes que regem os interesses de meus compatriotas, e é justo pedir-te sigilo do meu
feito.
— Sim, senhor — respondeu o rapaz extremamente abatido, tentando com dificuldade
coordenar as idéias.
— Sei que dentro em pouco a enfermidade assumirá graves proporções, prosseguiu o
benfeitor. Dar-te-ei a liberdade, mas só o teu Deus poderá conceder-te a vida. Entretanto,
caso te restabeleças, deverás ser um novo homem, com um nome diferente. Não desejo ser
inculpado de traidor dos meus próprios amigos e devo contar com a tua cooperação.
— Obedecer-vos-ei em tudo, senhor.
Sérgio lançou-lhe um olhar generoso e terminou:
— Tomarei todas as providências. Dar-te-ei algum dinheiro para atenderes as primeiras
necessidades e vestirás uma de minhas velhas túnicas; mas, tão logo seja possível, vai-te de
Jope para o interior da província. O porto está sempre cheio de marinheiros romanos,
curiosos e maleficentes.
O enfermo fez um gesto de agradecimento, enquanto Sérgio se retirava para atender ao
chamado de alguns amigos.
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(Texto da Internet)
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