Drama Paterno
(Maria Dolores)
Era um homem de bem, dono de um lar feliz;
Recebera da vida tudo quanto quis:
Uma esposa distinta, uma vultosa herança,
Um filho, - um filho só que lhe trouxera à vida
Uma nora querida
E um neto que lhe abria um mundo de esperança.
Tudo era céu azul, no entanto, um dia, a morte,
Sem o menor aviso,
Num tremendo improviso,
Arrebatou-lhe a esposa nobre e forte.
E, desde então,
Ele sentiu sangrar-lhe o coração.
Tangido pela dor,
Chamou o filho em confidência,
O filho em que encontrava o apoio da existência,
E entregou-lhe em confiança,
De modo comovente,
Tudo o que se lhe erguia em propriedade
Documentadamente:
As lojas da cidade,
A formoso vivenda
Na qual fizera o próprio lar,
A casa grande da fazenda,
Terras, benfeitorias,
As ações em diversas companhias
E os créditos em bancos...
Depois, falou ao filho em termos francos:
- Filho, sem tua mãe já não tenho mais vida...
Tudo o que é nosso é teu...
Sou alguém a morrer com tarefa cumprida.
Rogo que me reserves tão-somente
Um quarto independente,
Em nossa própria casa
Onde eu possa viver
Na saudade terrível que me arrasa...
O moço agradeceu, sorriu e, após uma semana,
Deu ao pai, afinal,
Um estreito recanto, oculto no quintal,
Por nova moradia;
Um telheiro a cair que ele devia
Atingir através de porta lateral
O pai não se queixou, mas um tanto humilhado,
Instalou-se no quarto, insalubre e isolado.
Em seguida notou, admirado e atento,
O filho transformado,
A demonstrar
Grave mudança de comportamento.
A mansão familiar perdera a paz antiga,
Noite a noite, era festa, entre jogos de azar,
Insultos e baldões, ostentações e briga,
Estranhas situações
Que o triste genitor não podia evitar.
Começou para ele, alma limpa e sincera,
Um modo de viver que não quisera.
Quando caía a noite, ei-lo em longas passadas...
Ia em busca de antigos companheiros,
Para escutar de novo, histórias relembradas
De inesquecíveis parelheiros
Seguindo cães velozes nas caçadas...
Um cálice de aniz, em dado instante,
Tornava a maioria mais falante;
Ele, sóbrio, porém, só bebia água pura,
Água simples usada sem mistura...
Tarde, voltava ele, a passo lento,
Não desejava ver o filho amado,
Em tresloucado movimento.
Nunca bebera alcoólicos e adendos,
Entretanto, os vizinhos
Para ele inventaram
Casos injuriosos e escarninhos.
O filho já tratava o pai por beberrão
Na base de calúnia e palavrão.
Certa manhã, o moço orgulhoso e excitado,
Vara o quarto do pai, a fim de repreendê-lo...
Ele está debruçado
Sobre mesa pequena,
A revelar enorme desmazelo.
Grita-lhe o filho irado:
- Chega, velho infeliz,
Estou certo de tudo o que se diz,
Já conheço esta cena:
Bêbado até agora!
Vou removê-lo sem demora,
Não mais o quero aqui,
Nada posso fazer, nem respondo por si...
More onde quiser, com qualquer companhia,
Nas espeluncas da periferia.
Arranje, agora mesmo, a sua mala e suma!...
A minha tolerância está no fim,
Não quero vê-lo, em parte alguma,
Afaste-se de mim...
De hoje em diante, fuja de meu lado,
Não mais aceito um pai embriagado...
Levante-se, converse, venho ouvi-lo
Na nova condição de bêbado de asilo!...
No entanto, o interpelado
Continuava debruçado
Sobre mesa pequena...
Arremessa-lhe o moço uma palavra obscena...
Logo após, ostentando falso brio,
Toca no genitor
E vê que ele se encontra enrijecido e frio...
Só então o rapaz sob espanto indizível
Desfere um grito horrível...
Chorando em desespero e desconforto,
O filho descobriu que o pai estava morto.
Livro: “Caminhos do Amor”
Psicografia de Francisco Cândido Xavier – Espírito Maria Dolores
(Copiado do site http://robertomacedo.com/autoajuda/chicoxavier/Chico_Xavier/CAMINHOS%20DO%20AMOR/caminhos_002.htm)
Com colaboração de : regina benatti reginaXicoXavier@msn.com)
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