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domingo, 15 de abril de 2012

Focalizando o Trabalhador Espírita (137) Lucy Dias Ramos

Lucy Dias Ramos

Entrevistamos neste sábado a oradora e escritora

Mineira Lucy Dias Ramos que, além de nos falar

de seu exemplar trabalho no movimento espírita,

com grande produtividade, nos dá uma grande lição

de fortaleza moral e espiritual, especialmente pela

pela forma serena e corajosa como enfrentou o longo

tratamento de Sandra, sua filha, acometida de câncer

no ano de 2002 e que desencarnou em 2008.

Somou-se àquele sofrimento ao lado de Sandra o da

morte do esposo Dr. Antonio da Silveira Ramos, que

sofreu acidente automobilístico no inicio do trata-

mento da filha. O desdobramento de atenção de Lucy

e dos filhos para ambos é comovedor, uma aplicação

prática do Evangelho de Jesus, uma verdadeira lição

de vida na forma como o Mestre espera de cada um

de nós.

Lucy pode nos fazer sua apresentação?

Nasci no dia 5 de março de 1935, na cidade de Rio Novo, Minas Gerais, num lar espírita. Meus pais Plinio Dias e Maria José de Toledo Dutra Dias, desde muito cedo nos deram lições de como deveríamos nos comportar como espíritas, reunindo-nos semanalmente para realizar o Evangelho no Lar. Meus irmãos são: Carlota J. Dias Sacramento, José Augusto Dutra Dias e Alípio Dutra Dias (encarnados). Já desencarnaram: Cristiano, Maria Madalena, José, Milton e Pedro.

Casei-me em 1957 e meu marido Dr. Antonio da Silveira Ramos desencarnou em julho de 2006. Tivemos 6 filhos: Sandra, Antonio, Rejane, Valéria, Sheila e Cristiano. Sandra desencarnou em 23 de agosto de 2008. Tenho, atualmente, 16 netos cujas idades variam de 1 ano a 31 anos, por ordem de nascimento são: Camilla, Tatiana, Plinio, Juliana, Guilherme, Bernardo, Caio, Nelson Henrique, Aldo, João Pedro, Fernanda, Hugo, Arthur, Johann, Maria Clara e Diego. Os bisnetos são: Pedro Henrique, Lucas, John, Isabella e Pedro.

Qual a sua formação acadêmica e profissional?

Em 1957 graduei-me em Ciências Sociais, pela Faculdade de Filosofia e Letras de Juiz de Fora. Posteriormente ela foi incorporada à UFJF.

Fiz o curso de Administração Hospitalar, ocupando o cargo de Diretora do Hospital Silveira Ramos durante vinte anos. Aposentei-me em 1995.

Como conheceu o Espiritismo e desde quando é Espírita?

Nasci num lar espírita, tendo recebido de meus pais orientação e ensinamentos de nossa doutrina.

Mudamos para Barra do Piraí, RJ quando eu estava com oito anos, tendo sido encaminhada com meus irmãos para as aulas de “Moral Cristã”, como eram chamadas na década de quarenta, no Grêmio Espírita daquela cidade. Depois frequentei a Mocidade Espírita João Batista e a Mocidade Espírita Humberto de Campos do Centro Espírita Bezerra de Menezes que meus pais fundaram naquela cidade, na década de quarenta.

Que casa espírita freqüenta e quais atividades nela desenvolve?

Desde 1964 frequento uma instituição denominada Casa Espírita, que fica na Rua do Sampaio, 425, na região central de nossa cidade. Nesta casa iniciei minhas atividades como médium, auxiliar de direção na reunião pública, no setor de Assistência Social e fui me integrando na área administrativa e de divulgação, tendo sido presidente por dois mandatos, depois ocupando vários cargos na diretoria até recentemente. Atualmente participo de uma reunião mediúnica (estou nesta reunião há 48 anos). Falo deste trabalho no livro “Mediunidade e Nós”, coordeno um Grupo da Terceira Idade e o Grupo de Estudo Joanna de Ângelis, onde estudamos a linha psicológica, semanalmente, há 16 anos. Estou licenciada do Tratamento Espiritual da Criança, cujo trabalho organizei há doze anos, para atender crianças com problemas espirituais, psicológicos ou distúrbios comportamentais. Já colaborei em muitos outros setores, como Dirigente do Dep. de Divulgação Doutrinária, Departamento de Assuntos da Família, Departamento de Assuntos da Mediunidade e atualmente estou como Vice Diretora do Departamento de Assuntos da Mediunidade.

Pode nos fazer uma súmula de sua atuação no movimento espirita durante esses anos?

Em Barra do Piraí: Integrante da Mocidade Espírita João Batista do Grêmio Espírita e Secretária da Mocidade Espírita Humberto de Campos, do CE Bezerra de Menezes.

Participante do I Congresso de Mocidade Espírita, no Rio de Janeiro em julho de 1948.

Em Rio Novo: Participante e secretária da Mocidade Espírita Dias da Cruz.

Em Juiz de Fora: Casa Espírita – Atividades atuais já descritas acima na pergunta anterior e outras atividades como:

Presidente, dois mandatos e vários cargos desde 1970 até 2009. Membro do Conselho Deliberativo, hoje com outra denominação.

Organizadora de vários grupos de estudo e coordenadora de cursos, como COEM, ESDE e PROGEM.

Participei como expositora do Grupo dos Entes Queridos, Reuniões Públicas, Seminários e outros eventos da Casa Espírita, de outros centros de Juiz de Fora e região, Angra dos Reis, Poços de Caldas, Vila Velha (ES).

Em Juiz de Fora, colaboro com exposições e aulas no G. E. Eurípedes Barsanulfo, C.E. Fé e Caridade, lançamentos de livros etc.

Na Aliança Municipal Espírita, participei de várias diretorias, tendo sido secretária, diretora do Departamento de Assuntos da Mediunidade, Secretária da revista O Médium e posteriormente supervisora, até 2007.

Reuniões e seminários na AME-JF no DAM (Departamento de Assuntos da Mediunidade). Reuniões do COFEMG com assuntos ligados à Unificação etc.

Na Fundação João de Freitas sou membro do Conselho Curador (deliberativo).

Atualmente estou colaborando no Projeto INTEGRAR da Aliança Municipal Espírita de Juiz de Fora, além de outras atividades ligadas à divulgação espírita, principalmente, escrevendo para revistas e jornais.

De que maneira se iniciou como articulista e para quais órgãos escreveu e escreve?

Iniciei na década de setenta na revista O Médium incentivada pela querida amiga Suely Caldas Schubert. Depois fui estendendo minha colaboração para as revistas: Reformador, Presença Espírita, RIE – Revista Internacional do Espiritismo, jornais espíritas como: Mensagem de Luz (Juiz de Fora), Boletins e informativos via internet etc.

Escrevi durante algum tempo para um jornal diário de nossa cidade, Diário Regional, que nos concedia uma coluna chamada Visão Espírita.

Colaboro com jornais, boletins e informativos de alguns centros aqui de Juiz de Fora, como o Mensagem de Luz, Informativo do C.E. Ivon Costa e outros pela Internet.

E como escritora de livros?

Escrevia em revistas e jornais espíritas desde a década de setenta, mas não pensava em escrever livros. Quando completei 70 anos, minhas filhas Sandra e Valéria e um amigo Carlos Abranches reuniram alguns artigos meus já publicados nos periódicos já mencionados e organizaram um livro chamado “Recados de Amor”. Como foi o primeiro livro, Carlos Abranches teve um pouco de dificuldade em conseguir uma gráfica para a editoração, mas a FEB quis publicar e fui surpreendida no dia de meu aniversário com a notícia de que ele seria editado. Isto me animou porque eu estava numa fase de muitas dores e perdas que se sucederam e escrever fazia um bem enorme para minha alma, quando decidi publicar outros, como o “Luzes do Entardecer” que foi elaborado neste período de enfermidades na família e muitos problemas vivenciais... Logo que minha filha morreu, uns dois meses depois, minha terapeuta aconselhou-me a escrever e eu já havia feito um diário, no qual narrava os acontecimentos vividos ao lado dela, quando permanecia em sua companhia... Com estes relatos fui compondo o livro “Maior que a Vida”. Foi difícil, mas consegui escrever, pensando na ajuda que poderia prestar a outras mães em situações idênticas.

Quantos títulos você já publicou e de que tratam?

Sãos os seguintes os livros por ordem cronológica:

Recados de Amor – FEB – 2008 – Lançado na Bienal de São Paulo (não pude comparecer, porque foi justamente neste dia que minha filha desencarnou), Forum Espírita e Fundação Espírita Allan Kardec de Juiz de Fora.

Luzes do Entardecer – FEB – 2009 – Bienal do Rio de Janeiro e Livraria 18 de Abril na Casa Espírita.

Maior que a Vida – FEB – 2010 – Livraria Saraiva em Juiz de Fora - MG

Gotas de Otimismo e Paz – FEB – 2011 – Bienal do Rio de Janeiro

Mediunidade e Nós – Solidum – 2011 – Lançado em Matão (SP.) e na AME Livros da Aliança Municipal Espírita de Juiz de Fora.

Ainda não publicados e encaminhados às editoras e já aprovados:

Folhas de Outono – FEB

Arquivos do Coração – Solidum

Lucy seria possível nos contar um pouco da vida de sua filha Sandra que foi inspiração para o surgimento do livro “Maior que a Vida”?

Foi minha primeira filha. Não sei descrever a emoção que senti quando ela nasceu. Minha vida mudou muito desde aquela tarde de abril de 1958, quando ela chegou ao nosso lar. Cresceu como nasceu, sem muito trabalho, sem maiores preocupações, a não ser um medo instintivo de perdê-la, como todas as mães sentem e somente elas sabem explicar. Lembro-me com clareza os momentos de sua infância, a ida pela primeira vez para o colégio, o primeiro namorado, a primeira decepção amorosa quando chorou em meus braços, a formatura onde a vejo linda dançando com o amor de sua vida, o casamento, os nascimentos dos filhos, sua ida para outra cidade, onde viveu alguns anos longe de nós... Morou uns dez anos em Niteroi e freqüentava o centro onde o Prof. Raul Teixeira trabalhava, depois ele fundou a Sociedade Espírita Fraternidade. Posteriormente morou 2 anos em Salvador e freqüentava o C.E. Caminho da Redenção... Ela dizia ser muito ajudada por Deus, tendo estas oportunidades de estar em contato com estes dois valorosos benfeitores.

Voltando a morar em Juiz de Fora, participava da Casa Espírita, onde realizou os cursos normais como ESDE e COEM, participava de uma reunião mediúnica, Grupo de Estudo das obras de Joanna de Ângelis, dava aulas. Fazia trabalhos voluntários em outras instituições como médica porque sendo Oftalmologista, tratava de crianças com baixa visão. Foi excelente médica e exerceu a Medicina com dignidade e competência, fazendo Mestrado, Doutorado e muitos clientes que se tornaram amigos...

De seu casamento com Carlos Abreu, nasceram dois filhos Bernardo e Hugo. Bernardo é Engenheiro de Produção e trabalha aqui em Juiz de Fora e Hugo está fazendo também Engenharia. Hoje estão com 24 e 19 anos, respectivamente.

Considero minha filha uma guerreira, uma cristã que procurou seguir os ensinamentos de Jesus com lealdade.

Numa das mensagens que ela me enviou disse: “Mãe, gostaria de ser como a senhora me descreve no livro, estou me esforçando muito neste sentido...”

Foi uma ótima filha, estudiosa, compreensiva e sempre muito amiga. Temos uma afinidade espiritual muito grande. Amo a todos os meus filhos com a mesma intensidade, mas ela era diferente em muitas coisas. Delicada, gentil, tratava a todos com generosidade e atenção, segura e confiante em tudo o que empreendia. Correta e muito ligada aos problemas de todos os amigos e familiares, sempre dando apoio fraterno, procurando ajudar.

Vivemos momentos de intensa felicidade nas reuniões familiares, nos encontros de Natal, aniversários e nos que permanecíamos juntas conversando sobre nossos problemas, nossos planos... Em 2002, no final do ano, ela nos comunicou que estava com câncer. Depois de muitas lutas e dores intensas o câncer motivaria sua desencarnação em 2008. No livro Maior que a Vida, logo no primeiro capítulo faço uma narrativa de sua vida, e escrevi agora de forma mais reduzida.

Deve ter sido difícil para você enfrentar sucessivamente a desencarnação do esposo e da filha em tão breve lapso de tempo.

Na primeira fase da enfermidade de Sandra, que foi justamente no ano em que o pai dela sofreu o acidente automobilístico que o reteve muitos meses hospitalizado e depois numa recuperação parcial longa e difícil em todos os sentidos, fiquei muito ocupada com ele, mais tempo no Hospital que em casa, dando todo o apoio de que necessitava. Mesmo assim fui com Sandra na primeira consulta ao Rio de Janeiro, e a programação da quimioterapia foi agendada para ter início em abril. Na véspera, já com minha bolsa de viagem pronta para ir para o Rio com ela, recebi a notícia do acidente, ao entardecer e foi justamente a Sandra quem me ligou dando a notícia e pedindo-me que não dirigisse até o Hospital porque ela iria buscar-me. Não pude acompanhá-la para as sessões de quimioterapia, mas suas irmãs a ajudaram muito e seu marido também.

Nesta fase, ainda acreditávamos na possibilidade da cura e ela ia frequentemente ao Hospital ver o pai e ajudar dentro do possível. Seu irmão, também médico ajudava a ela e ao pai, neste período de muitas preocupações para todos nós... Graças a Deus meus filhos, os amigos da Casa Espírita e do S.E. Joanna de Ângelis nos deram o suporte necessário para vencer todas as tribulações, com preces, fluidoterapia e outros recursos que a Doutrina Espírita nos concede. Eu orava muito, lia e escrevia dentro do possível, mesmo estando no Hospital. O livro Luzes do Entardecer tem alguns capítulos escritos nesta época.... Foi difícil, mas não desanimei e a ajuda espiritual foi muito expressiva, dando-me forças e coragem, amenizando as provas e expiações. Muitas noites, quando podia regressar ao lar, depois que o enfermeiro chegava e um dos filhos ou netos vinham para ajudar, durante a enfermidade de meu marido, eu pensava que não iria suportar... Mas meu amigo e guia espiritual, me dizia: “Tenha coragem, não desanime... Ainda temos muitas lutas a enfrentar. Vá para casa, descanse e procuraremos ajudar durante seu repouso físico...” No dia seguinte eu levantava às 6 horas da manhã para retornar ao Hospital, sentindo-me forte e esperançosa para enfrentar novo dia.

Com todo seu conhecimento e experiência espírita ainda persiste alguma dor por conta das separações?

Eu não diria “dor” como a que sentimos nos primeiros meses... Doía muito no coração, que se constrangia como se tivesse sendo dilacerado, hoje persiste a saudade, a certeza do reencontro, a gratidão a Deus pela crença na imortalidade e a possibilidade de perceber os entes queridos que partiram ou mesmo, nos momentos do sono, em desdobramento termos encontros, conversas. Mesmo em vigília sinto a presença, principalmente, de Sandra em vários eventos espíritas ou encontros de família, que sempre participava com interesse e alegria. Recentemente, em São Paulo, no Encontro com o Divaldo, no Hotel Jaraguá, em determinada reunião, quando ele falava de uma ocorrência do livro “Transição Planetária”, da mãe que desencarnara e seu filhinho também, sugado pela onda gigante, eu me emocionei muito e lembrei dela, justamente na hora da desencarnação, quando fechei seus olhos...

Quando estava prestes a chorar, ela se aproximou de mim, sorridente e linda, abraçou-me e disse: “Mãe, não recorde mais estas coisas, estou muito bem, feliz e trabalhando naquilo que eu mais gosto... Quero que você esteja bem, sorrindo e lembrando sempre com carinho de nossos encontros... Mas sem chorar.” No final da palestra fui levar um livro para o Divaldo autografar e ele me disse: “Você viu a nossa amiga, como está linda, feliz? Ela esteve com você antes e depois veio até a minha presença e disse: Grata por tudo, Divaldo. Estou redimida e repetiu, sorrindo, redimida. E mandou lhe dizer que está trabalhando no que mais gosta.” Fiquei muito emocionada com a confirmação de sua presença e feliz porque sei o quanto ela estima o querido amigo Divaldo que sempre a acolheu com carinho e consideração em Salvador, quando lá morou e todas as vezes que ela o procurou durante a enfermidade. A desencarnação de meu companheiro e de minha filha em datas tão próximas, serviram de provas e acredito ter me saído bem porque me tornaram uma pessoa melhor, mais compreensiva e sensível aos sofrimentos alheios e, certamente, mais forte diante dos revezes da vida. Amadurecemos após dores e perdas, tornamo-nos mais equilibrados emocionalmente e, então, os problemas, as lutas e os sofrimentos que ainda acontecem e acontecerão ficam muito pequenos diante do que já passamos...

De que maneira a Sandra encarou a doença e os dolorosos tratamentos a que foi submetida?

No último ano, quando já sabíamos que não haveria a cura definitiva no corpo físico, mas entendendo já nesta altura dos acontecimentos que o que mais interessava era a cura real, através deste processo doloroso, mas necessário que o câncer possibilitava, armamo-nos de fé e coragem – nós duas sendo espíritas – para enfrentar estes últimos meses sem desesperos, confiando sempre na ajuda espiritual que não nos faltou em momento algum. Foi muito doloroso e foram fases que se sucederam naturalmente e que deveríamos enfrentar juntas, usando de todos os recursos espíritas, como passes, atendimento individual para diálogos e apoio, leituras e muitas preces, mantendo o ambiente sempre elevado para que os Benfeitores Espirituais pudessem nos ajudar de forma mais permanente. Fomos nos preparando, aos poucos, a cada dia, aproveitando todos os minutos para diálogos e esclarecimentos, desabafos e confidências que nos deram ensejo de muito aprendizado e de ir, também neste processo, expurgando a dor, a angústia da expectativa diante da morte eminente... Sandra passou por todas as fases que aqueles que sabem que vão morrer, passam e sendo espírita foi se despojando aos poucos e o mais difícil para ela foi, justamente, abrir mão de sua profissão como médica e não poder ir mais trabalhar além de deixar o lar, os entes queridos e todos nós que a amamos... Ela procurava me poupar diante da realidade do que já sabia como médica e eu, também, por ser mãe, escondia dela meu sofrimento, as lágrimas e o que pudesse atrapalhar nesta fase de preparação tão importante, quando recebíamos bênçãos e harmonização íntima através da ajuda espiritual e da presença constante dos familiares já desencarnados, dos amigos espirituais que nos sustentavam... Como qualquer ser humano, Sandra teve seus momentos de angústia, de lágrimas, de dores físicas intensas e na alma que dilaceravam com maior intensidade os sonhos, os projetos de vida, o desejo de permanecer com os que amava... Mas compreendia e aceitava os desígnios de Deus, sentindo que sua vida fora útil e feliz, como sempre repetia... Somente na fase final, vieram as indagações ligadas mais diretamente a morte, ao retorno para o mundo espiritual, como se sentiria após a desencarnação e com mais liberdade e coragem falava com maior clareza e me interrogava sobre este assunto... Líamos muito e no final eu lia para ela trechos elucidativos que transcrevi no livro, o que nos ajudou muito naquele período.

Como aconteceram as primeiras comunicações post-mortem de Sandra?

A primeira mensagem dela eu recebi através da psicografia da querida amiga Suely Caldas Schubert. Quero destacar aqui neste trecho o apoio que Suely deu a minha filha durante sua enfermidade, com diálogos e atendimentos constantes, passes e tratamento espiritual no Grupo Espírita Joanna de Ângelis, onde Sandra buscava terapia alternativa.

Recebi a primeira mensagem em outubro do mesmo ano que desencarnara, portanto, dois meses depois. Quando fez um ano de sua partida para o mundo espiritual, recebi da mesma médium, outra mensagem. Elas estão publicadas no livro Maior que a Vida. Como citei anteriormente, sinto a presença dela sempre que possível em certos momentos e na Casa Espírita onde trabalho. No livro tem um capítulo “Intercâmbio Espiritual”onde narro estes encontros e mensagens. A cada dia que passa, sua presença se faz menos intensa porque ela nos diz que prossegue, agora, no verdadeiro Lar para onde retornou seguindo a vida, sem poder se envolver muito com nossos problemas vivenciais e familiares... Compreendo e respeito sua posição porque aqui na Terra a vida também continua e temos que nos desligar, tanto ela como nós, de apegos e preocupações desnecessárias... Mas quando há necessidade de sua presença e é permitido por Deus, ela se acerca de nós para ajudar ou suavizar as saudades.

Lucy acho que a experiência por você vivenciada lhe permite uma visão muito clara acerca de temas como morte e eutanásia.

Logo que meu marido morreu, passei a freqüentar na Casa Espírita um grupo de apoio aos que sofrem a separação física pela morte dos entes queridos – Grupo dos Entes Queridos – e fui muito beneficiada com esta participação. Algumas companheiras de trabalho na casa diziam: para que você está neste grupo, já têm conhecimento suficiente e está resignada etc. etc. Eu respondia: se não preciso, como dizem, sei que meus entes queridos que partiram deverão aproveitar e ser beneficiados com minha participação...

Isto aconteceu porque eu percebia, a presença deles, ainda na fase de recuperação no mundo espiritual, ouvindo os temas abordados, recebendo as vibrações e os benefícios das preces nestes encontros.

Neste período em que estive neste Grupo ajudei, também, fazendo palestras alusivas à morte, falando e dando testemunhos de minhas experiências e creio que minha visão, depois disto, ficou mais ampla e profunda na compreensão da necessidade de termos equilíbrio e confiança em Deus que sempre nos coloca frente à problemas e dores que necessitamos e temos condições de vencer, ajudando-nos no processo de desenvolvimento moral e espiritual.

O que mais me surpreende e ajuda a prosseguir com otimismo, além das afeições queridas que me cercam de amabilidades e apoio, é ter adquirido uma capacidade maior de enfrentamento das dores morais e físicas que estejam programadas para minha evolução.Tenho a certeza de que a ida de um filho ou filha para o mundo espiritual antes de nós, torna-nos mais fortes e imunes ao sofrimento que antes nos abatia...

Fica tudo muito pequeno diante do testemunho que nos foi solicitado e, graças a Deus, conseguimos dar.

Como está enxergando o movimento espirita na atualidade?

Encontros e Desencontros existirão sempre até que tenhamos incorporado, realmente em nossas vivências, os ensinamentos de Jesus.

Como espíritos imperfeitos que somos, criamos dificuldades no desenvolvimento da programação espiritual para todo o Movimento Espírita, deixando nos levar por atitudes personalistas, por nossos conflitos mal trabalhados, por nossos equívocos, mas tudo passa e o que restará depois desta fase transitória que vivemos será, certamente, o retorno ou recomeço para os que assim agem, contrariando as leis morais.

Considero o orgulho o maior empecilho para uma convivência fraterna e condizente com o conhecimento que a Doutrina Espírita nos propicia. O exercício do amor torna-nos mais sensíveis, mais humanos, mais indulgentes e gratos a Deus pelas bênçãos da vida e todas as oportunidades que nos são oferecidas para crescer em entendimento e atitudes enobrecedoras. Infelizmente ainda existem os intransigentes, os que não respeitam as limitações do outro, que estão como nós em processo de crescimento e aprendizado. Se os excluímos, o que é mais fácil e cômodo, estamos contribuindo para que nosso irmão não consiga se sobrepor as dificuldades e retardamos a ajuda que ele merece. Há, em determinados núcleos espíritas muitas atitudes equivocadas, muito preconceito e desrespeito ao próximo pela diversidade e não adequação à maneira de pensar de certos dirigentes espíritas. A pretexto de realizar a fidelidade aos princípios espíritas esquecem da tolerância e do amor com que devemos realizar as tarefas no centro espírita. Chamo a isto de Dureza Doutrinária, infelizmente muito comum em determinadas instituições espíritas que a pretexto de seguir normas e regimentos, impedem o exercício do amor e da compaixão.

Por outro lado, porque os Dirigentes Espirituais estão atentos ao planejamento das atividades, e ninguém poderá impedir o progresso moral da Humanidade, as leis divinas são inflexíveis e vencem as incertezas e os percalços que surgem no movimento espírita.

Somente a evangelização constante, com a divulgação dos ensinos de Jesus nas reuniões públicas, nos grupos de estudo, nas atividades assistenciais tanto para os carentes de recursos materiais como para os que buscam ajuda espiritual, ajudará sobremaneira na solução de tantos sofrimentos e conflitos existenciais. Temos que falar uma linguagem fraterna, simples e buscando subsídios nas obras espíritas, sempre embasadas no Evangelho de Jesus. Nunca a Humanidade precisou tanto, como nos dias atuais, de evangelização, da educação dos sentimentos, do exercício da fraternidade e do amor e de Espiritualidade. Acredito mesmo que nós espíritas teremos que enfatizar esta tese de que é mais importante adquirir espiritualidade do que simplesmente “ser espíritas”.

A literatura espírita, seja mediúnica ou não, requer maior estudo e análise para não incorrermos em falhas doutrinárias ou incoerências.

Analisar a obra e não apenas o médium ou autor. Isto é essencial e mais prudente.

Com relação aos vultos espíritas destaco os mais antigos e também os atuais, alguns que conheci na minha juventude e outros que se perdem no anonimato mas que realizaram grandes feitos em prol da divulgação espírita e no exercício da caridade. São muitos e irei citar apenas: Aura Celeste, Auta de Souza, Amélia Rodrigues, Abel Gomes, Batuira, Bezerra de Menezes, Bittencourt Sampaio,Cornélio Pires, Caibar Schutel, Dias da Cruz, Divaldo Pereira Franco, Eurípedes Barsanulfo, Francisco Cândido Xavier, Herculano Pires, Ivonne Pereira, Jésus Gonçalves, José Raul Teixeira, Jorge Andréa, José Petitinga, Julio Cesar G. Ribeiro, Zilda Gama, Leopoldo Cirne, Lins de Vasconcelos, Leopoldo Machado, Leon Denis, Maria Dolores, Sebastião Lasneau, Zilda Gama e muitos outros que estão, ainda hoje batalhando por um mundo melhor...Alguns encarnados e outros no mundo espiritual.

Felizmente, valorosos espíritas estão, na atualidade, trabalhando e divulgando a Doutrina Espírita, dando-nos exemplos de amor à causa espírita e de como devemos agir com relação à vida e no enfrentamento dos problemas. E temos confiança de que estes trabalhadores espíritas da atualidade darão conta de sua missão e dos encargos que assumiram no plano espiritual.

E em Juiz de Fora e região?

Em nossa cidade como em todo o Brasil estamos buscando soluções e trabalhando pela divulgação espírita sempre coerentes com a Codificação de Allan Kardec. Nossa cidade é muito atuante em várias áreas, sempre enfatizando a necessidade da unificação proposta por Bezerra de Menezes e defendida pela FEB. Temos muitas dificuldades ainda e a AME local trata com muito empenho e carinho a união entre os espíritas e promove encontros, cursos e projetos em torno da necessidade do estudo, da capacitação do trabalhador e de sua evangelização para realizar na casa espírita o atendimento fraterno, a ajuda caridosa com os que buscam orientação e apoio.

Neste 2012 estaremos comemorando os 85 anos de existência de Divaldo. Como você analisa a participação dele no contexto do movimento espirita brasileiro e internacional?

Muitas obras têm sido escritas relatando a vida deste missionário espírita, de sua atuação como divulgador no mundo atual, das luzes do Consolador. Eu acrescentaria e daria mesmo um destaque especial na sua generosidade e na gentileza no trato com os que buscam ajuda através de sua mediunidade ou de sua pessoa sempre solidária e amiga. Sua sensibilidade e seu amor à causa espírita nos sensibiliza e sua paciência em ouvir, em acolher a todos os que o procuram. Grande orador, dotado de um carisma inigualável no movimento espírita atual, exerce um domínio muito acentuado nos que o ouvem trabalhando sem que percebam, através dos Benfeitores espirituais, as mudanças necessárias na área do comportamento e das carências espirituais. Sua presença concorre para uma melhor adequação dos trabalhos na área da mediunidade e de todos os setores assistenciais das casas espíritas. Seus exemplos atestam a grandiosidade de sua missão na Terra.

Quais os aspectos que destacaria como mais importantes a serem trabalhados na casa espirita nesse processo de espiritualização da humanidade do qual o Espiritismo tem tido participação tão destacada?

Repito, a evangelização dos trabalhadores e de todos os freqüentadores. E isto poderá ser realizado em todos os setores de trabalho, nos grupos de estudo, nas reuniões públicas, nas obras assistenciais, nos encontros de trabalhadores, nas comemorações de um modo geral. Evangelizar sempre para que possamos humanizar o centro espírita, mantendo-o fiel aos princípios da codificação e atingirmos as suas principais finalidades que são a caridade, a fraternidade e o estudo. Promovendo, enfim, a transformação moral da Humanidade, para que o homem do mundo se transforme no Homem de Bem.

Acha que Kardec tem merecido atenção na medida justa de seu grandioso trabalho?

Creio que sim. Todas as gerações dentro de suas possibilidades, desde a codificação do Espiritismo, têm se empenhado em seguir os princípios espíritas. Os que não valorizam a obra gigantesca de Allan Kardec desconhecem o que seja, realmente, a Doutrina Espírita. Todavia, não podemos descuidar de orientar aos jovens e novatos que chegam atualmente às casas espíritas de estudar as obras básicas, divulgando-as, mostrando a todos eles a importância deste estudo, começando pelo começo, falando das obras subsidiárias, abordando sempre os três aspectos do Espiritismo como pilares na concretização dos objetivos reais do Consolador Prometido.

Algo mais que queira acrescentar?

Grata estimado irmão, pela oportunidade de expor minha idéias e falar desta doutrina que amo e que me orienta na atual reencarnação, evitando novos equívocos, mantendo minha fé e confiança em Deus nos momentos difíceis de minha vida. Agradeço também o carinho com que se refere à Sandra, minha filha desencarnada e pela oportunidade de falar um pouco de nossa luta e preparação para a morte física.

As suas palavras finais aos nossos leitores.

Mantenham sempre em seus corações as luzes da esperança e da fé, porque não há mal que perdure além da programação espiritual a que todos estamos sujeitos pela lei do progresso. Orem, vigiem e desenvolvam sempre o lado bom que todos possuímos em potencial, através da educação dos sentimentos, do equilíbrio das emoções, da vivência dos ensinamentos do Mestre Jesus. Seu Evangelho é a bússola, o roteiro a nos guiar pelos caminhos da vida. Não há outra alternativa para nós a não ser segui-lo, mesmo que tenhamos os pés sangrando, as mãos cansadas e as agruras da incompreensão humana, o essencial é caminhar sempre, sem desfalecimentos ou desculpismos, mantendo dentro de nós a certeza de que Jesus aguarda por nós há mais de dois milênios pacientemente, amorosamente...

Sr. Plínio e dona Maria José. Pais de Lucy Dias Ramos

O casamento de Lucy Dias Ramos

Lucy Dias Ramos com o esposo e filhos

Lucy Dias Ramos com o esposo Antonio da Silveira Ramos

A escritora Lucy Dias Ramos, de Juiz de Fora, MG, com as

Filhas. A partir da esquerda Sheila, Sandra, Lucy, Valeria e Rejane

A menina Sandra com a mãe Lucy Dias Ramos

Sandra com os pais Antonio e Lucy

Sandra, na extrema direita, em festa de formatura

Os netos de Lucy Dias Ramos

Lucy Dias Ramos, terceira a partir da esquerda com

companheiras da casa espírita

Lucy ao lado de Divaldo Pereira Franco quando este

realizou Seminário na cidade de São Paulo em 2011

Lucy (E) no lançamento de “Maior que a Vida”

Lucy com os irmãos

Lucy com duas de suas filhas no jardim da casa.

Sandra, ao seu lado e, Valéria, à frente.

O último Dia das Mães que Lucy passou com a filha

Sandra (D). A outra filha é Valéria

Sandra com o marido e os filhos

Lucy Dias Ramos cercada pelos netos

OBS: AS FOTOS DESTA ENTREVISTA SÓ PODERÃO SER UTILIZADAS EM OUTRAS PUBLICAÇÕES MEDIANTE AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DO ENTREVISTADO.






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