Após um reinado de duração quase secular de Pepi II, o Antigo Império fenece e o Egito mergulha no dramático interregno denominado Primeiro Período Intermediário, situado entre 2181 e 2133 aC., abrangendo da VII à X dinastia.
Esse duro trato da história egípcia é assinalado, sobretudo, pela quebra da primitiva unidade estabelecida desde Narmer, a instalação dos feudos e o quase retorno ao estado dos “nomos”.
Com os senhores feudais exercitando a política de interesses, via de regra marcada pela opressão e o despotismo, acabam por fazer eclodir seguidas guerras civis, uma verdadeira revolução social, que, lançando pobres contra ricos, faz graçar uma inusitada onda de subversão, saques, anarquia e, para agravar, a abrupta paralisação das atividades econômicas, especialmente as agrícolas, sustentáculo da nação.
As conseqüências para o Egito não poderiam ser piores, resultando, como foi documentado, num nefasto período de miséria e fome.
O faraó, que até então brilhava altaneiro, não só perdeu o prestígio como teve sua imagem aviltada pelos governantes provincianos, que, sem nenhuma cerimônia, investiram-se das mesmas prerrogativas, exigiam as mesmas deferências e escarneciam de forma provocativa aos tradicionais governantes da nação.
Esse tipo de política regional fez folgar a vigilância das fronteiras tornando o território egípcio muito assediado e vulnerável às invasões estrangeiras. Paulatinamente, os povos limítrofes, especialmente os habitantes das regiões inóspitas e desérticas próximas do Delta, vislumbraram uma ótima oportunidade de resolver seus problemas econômicos pela tomada das tão cobiçadas terras, que sempre estavam forradas de exuberantes pastagens e se mostravam pródigas à colheita de grãos.
Novos Rumos
Esse estado de coisas perdurou por muitos anos e só após dolorosos sofrimentos, com o país combalido sob todos os aspectos, começaram a surgir movimentos tentando reconduzir o Egito ao antigo “status quo”, pugnando sobretudo pelo restabelecimento da ordem interna e buscando a paz e a prosperidade perdias.
Destacam-se para este fim dois núcleos importantes. Um, em Heracleópolis, perto de Faium, onde uma família influente, polarizando considerável parcela de poder, consegue unir todo o Médio Egito e exercita influência sobre vasta área da região do Delta.
Esses heracleopolitanos, que teriam constituído as dinastias IX e X, conseguiram com muita luta expulsar os invasores asiáticos do Delta, consolidaram o prestígio de Mênfis, fizeram grandes progressos na área de irrigação e fomentaram o intercâmbio comercial com o exterior, especialmente com Biblos*.
O outro centro de poder, dominando uma vasta área entre Abidos e Elefantina, no Alto Egito, permaneceu independente e sob a tutela de príncipes tebanos.
Em dado momento, os príncipes de Tebas combatem os heracleopolitanos e, sob o comando do príncipe Mentuhotepe 1, derrotam estes últimos, recobrando a reunificação do Egito, que volta a viver sob a tutela de um faraó. Este momento, tido como o fim de longa e dolorosa crise política, é considerado como o da inauguração do Médio Império.
O Médio Império
Na XI dinastia, restabelece-se novamente a autoridade real, com a capital se transferindo de Mênfis para Tebas, berço da família que havia logrado a reunificação.
Dos sete monarcas da XI dinastia, cinco levaram o nome de Mentuhotepe (Unificador).
Mentuhotepe I, elevado à condição de “senhor das duas terras”, embora tenha concentrado uma grande gama de obras na região de Tebas, não deixou de fazê-las por todo o país.
Mentuhotepe II, encontrando um estado unido e pacificado, sem vestígio algum das encarniçadas guerras civis, pôde atuar com tranqüilidade em várias frentes.
São assinaladas numerosas expedições ao estrangeiro, como a comercial em direção ao Punte, registrou-se a melhoria da vigilância em relação aos beduínos hostis, implantou-se uma indústria naval nas costas do Mar Vermelho e também explorou-se a extração de pedra em blocos para as construções de santuários em Elefantina, Ábidos e toda a região de Tebas.
Nessa época, em processo de aprimoramento das artes, os santuários passaram a ter relevos mais delicados que de seus antecessores.
O templo-sepulcro de Mentuhotepe II, em Deir El-Bahari (nome árabe moderno), é característico dessa época, abandonando a tradicional forma de pirâmide e adicionando os pórticos como inovação.
Uma vez realizada a tarefa da reunificação e com o restabelecimento de um poder central, graças aos esforços realizados pelos reis da XI dinastia, seus sucessores, os da XII, propuseram-se trasladar a capital para um lugar mais central, para isto escolhendo a região de Faium, de onde eram originários.
Amenemés I, o Iniciador, teve como principal papel pacificar as tribos nômades do deserto, instalou postos militares nos oásis, fez várias conquistas, como a Núbia ao sul, que se transforma em província egípcia, além da Palestina e Fenícia, à leste.
Expulsa os semitas e beduínos do Baixo Egito e constrói uma grande muralha ao longo do limite do deserto, transportando sua capital de Tebas para a orla do deserto, nas proximidades de Mênfis.
Subindo ao poder Sesóstris I, este continua a pacificação da Núbia e se apodera das pródigas minas de ouro da região.
Sesóstris III celebrizou-se como um grande conquistador e granjeou a fama de se apoderar de todas as nações por onde passasse.
Com Amenemés III, Amenemés IV e Sebekneferoure, completa-se a XII dinastia e o Médio Império.
A partir daí, advém novo enfraquecimento do poder central e o Egito experimenta, com a invasão do povo hicso, uma das maiores humilhações de sua longa história, no chamado Segundo Período Intermediário.
* antiga cidade da Fenícia, atual Líbano.
Próximo artigo, na próxima semana: VIII– Segundo Período Intermediário e Novo Império
O chanceler Méketrê observa a contagem de seus animais. 11ª. Dinastia. Museu do Cairo, Egito
Estátua de Mentuhotep II, no Museu do Cairo, Egito. Arenito pintado. 11ª. Dinastia
Templo funerário de Deir el Bahri. Egito.
Senuseret III ou Sesóstris III
Museu de Luxor, Egito
Ruínas de cidade no Oásis de Siwa, no deserto líbico, que abrigava o templo de Amon.
Rio Nilo na região de Luxor, antiga Tebas. Egito. Foto Ismael Gobbo
Delta do Rio Nilo visto do espaço à noite.
Museu do Cairo, Egito. Foto Ismael Gobbo
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