Segundo
Período Intermediário
O
Segundo Período Intermediário tem se mostrado extremamente obscuro, suscitando
inúmeras dúvidas e controvérsias entre os estudiosos. O principal motivo é a
falta de informações precisas.
Dentre
os fatos conhecidos, emergem a debilidade política dos últimos reis do Médio
Império e a invasão do Egito por povos estrangeiros, que o sacerdote Manethon
chamou de hicsos, terminologia originária de uma deformação da palavra egípcia
“Hekakhasut”, significando povos estrangeiros.
Os
invasores, identificados como de origem semítica e procedentes do Oriente,
teriam atingido o Egito com a finalidade de buscar trabalho. Depois de certo
tempo, estabeleceram-se com ânimo definitivo e, mercê de seu poderio militar,
suplantaram os anfitriões, que acabaram por dominar.
A
infiltração dos hicsos acorreu pelo norte. Apoderaram-se das férteis terras do
Delta e fortificaram a cidade de Ávaris, da qual fizeram capital.
Posteriormente, avançaram por todo o país, instituíram as suas próprias
dinastias (XV e XVI), elegeram seus faraós, cujos nomes inscreveram em
“cartouche”, edificaram templos, monumentos e palácios, cobrindo-os de
inscrições com caracteres egípcios; adoraram a Rá, de Heliópolis, e a Sete, que
equivalia ao deus Baal.
Nos
quase dois séculos em que permaneceram no Egito, os hicsos absorveram a cultura
e tradição local e, de sua parte, legaram expressivos avanços ao país, como a
introdução dos usos do cavalo, carros de combate e carroças, o aperfeiçoamento
das técnicas de trabalho com o cobre, especialmente utilizado na confecção de
armas e instrumentos e o aprimoramento dos processos de fiação e tecelagem.
Trouxeram novos instrumentos musicais, como a lira, o oboé e o pandeiro, além de
promoverem a importação de novos gêneros alimentícios.
Os
hicsos foram combatidos por Ames, ou Amósis I, um príncipe de Tebas que os
rechaçou do Alto Egito, retomou a cidade de Mênfis e os encurralou na região do
norte.
Em
posteriores investidas, o tebano os expulsou definitivamente do Egito,
perseguindo-os até a Palestina e a Síria, e reconquista a Núbia, que havia se
tornado independente durante o domínio estrangeiro.
A
capital é transferida para Tebas, que pela segunda vez na história do Egito
torna-se responsável pelo renascimento do país.
Com a
ascensão da XVIII dinastia, o Egito passa a conhecer uma nova era, o conhecido
Novo Império, que, por cinco séculos, faria o pais preponderar sobre todo o
mundo oriental e lançaria nos seus anais vultos célebres, como os faraós Tutmés,
Ramsés, Aquenáton e Tutancâmon.
O
esplendor
Amósis
e seus sucessores inauguraram um período de grandes operações militares,
voltadas não só à preservação do território, mas, sobretudo a uma política
expansionista, que não conheceu limites e lançaram as bases de um império de
domínio universal.
Amenófis I figurou como pacificador da Núbia, onde construiu um templo. Teria
subido ao trono muito novo e provavelmente teve sua mãe como regente nos
primeiros anos de reinado. É conhecido como o faraó que construiu o primeiro
templo mortuário isolado de sua tumba em Deir-el-Bahari, templo que acabou
destruído pelo que Hatshepsute construiu para si naquele local.
Tutmés
I teve um governo significativo em termos de política externa.
Inscrições encontradas nas proximidades da 3ª. e 4ª. cataratas do Nilo registram
seus feitos na expansão e controle do Egito sobre a Núbia. Também há informações
atestando sua chegada à região do Eufrates.
A
motivação principal para as investidas egípcias em direção á Núbia e à Ásia era
a de garantir rotas comerciais que ensejassem a obtenção de matérias-primas,
como óleos, madeiras, cobre, prata e mão-de-obra escrava.
Tutmés
II prosseguiu com a política externa agressiva do pai, como a documentada
vitória em Assuã, onde promoveu um massacre para conter uma rebelião
Núbia.
Hatshepsute proclamou-se regente e alijou temporariamente o sobrinho Tutmés III
na linha sucessória. Rainha por 22 anos, ao que parece usando barba e
vestindo-se com trajes masculinos, teve uma administração caracterizada tanto
pela tranqüilidade no campo militar como expressiva prodigalidade no campo
artístico. Com efeito, foi quem mandou edificar, sob a direção do arquiteto
Senemute, uma das mais esplendorosas obras da arquitetura funerária egípcia, o
seu conjunto de Deir-el-Bahari.
Tutmés
III assumiu o poder com a morte de Hatshepsute. Mandou apagar todas as
inscrições que levaram o nome da “usurpadora”. Reinando por 34 anos, ficou
conhecido pelo cognome de “Conquistador” e, segundo a tradição, foi eleito faraó
pelo próprio deus Amon. Sob sua tutela o Egito viveu a fase de maior esplendor.
Com dezessete expedições militares à Ásia, derrotou definitivamente os Mitânios.
Inscreveram-se como célebres na história as suas vitórias em Kadesh, Megido e
Karkemish. À época o império egípcio compreendia também as ilhas de Creta,
Chipre e o grupo das Cíclades. Ao término de seu reinado, Tutmés III chegou até
a quarta catarata, atingindo assim os confins desde Napata, na Núbia, até o Rio
Eufrates.
O
Egito transformado em potência militar, instituiu largas zonas de protetorado,
prevenindo-se contra novos movimentos de povos. Passa a cobrar tributos
regulares dos seus “protegidos” e, não raramente, o tesouro foi enriquecido
pelos espólios e prisioneiros de guerra.
Os
templos receberam seu quinhão, particularmente aqueles que cultuavam o deus
eleito da dinastia, o deus Amon, que legara as vitórias aos seus filhos, os
faraós. Dignos de menção foram Amenófis III, que mandou edificar o maravilhoso
templo de Luxor e os Colossos de Mémnon, e Amenófis IV, o faraó notabilizado
como rei-poeta, herético e cismático.
Assustado com o clero de Amon, que havia criado um verdadeiro estado dentro do
próprio estado, o faraó Amenófis IV substituiu a religião de Amon pela de Áton,
o disco solar, paara cuja adoração já não se faziam necessários os simulacros.
Fechou os templos e dispersou os sacerdotes, abandonando Tebas. Fundou uma nova
capital, Aquetáton (O horizonte de Áton), a atual Tell-el-Amarna, além de exigir
que o chamassem de Aquenáton, ou seja, “isto agrada a Áton”, como homenagem ao
sol, o qual chamou de Áton.
As
artes egípcias evoluíram e ganharam com Aquenáton os mais expressivos requintes
de beleza, como atestam os célebres bustos de sua esposa Nefertite, “a formosa
que aqui vem”, admirados em todo o mundo, apesar dos séculos que se
sucedem.
Porém
o cisma não sobreviveu. Com a morte de Aquenáton o clero de Tebas recuperou o
seu poder e foi reinstaurado o culto a Amon. A coroa foi passada a um jovem
príncipe, que, por influência daquele clero de Amon foi denominado Tutancâmon,
como quisera seu antecessor.
Relativamente a Tutancâmon, morto misteriosamente aos dezoito anos, além do
retorno do culto religioso a Amon, registra-se o encontro de sua tumba quase
intacta no Vale dos Reis, através do obstinado arqueólogo Howard Carter, em
1922. Esse imenso e rico tesouro, dos principais até hoje encontrados, lota um
dos setores do Museu do Cairo e é, sem dúvida, a maior atração para os turistas
que o visitam.
A XIX
dinastia prima pelo militarismo. São ressaltados Ramsés I (um militar de
profissão), posteriormente Seti I, que reassumiu a política de conquistas no
Oriente, e, por fim, Ramsés II, o mais famoso.
Ramsés
II, cognominado “o Grande” empenhou-se em guerrear com os hititas. Deteve-os em
Kadesh em uma batalha histórica, cujo êxito é incerto. Nos sessenta e sete anos
de seu reinado, Ramsés II quis demonstrar toda sua potência pelas construções,
como demonstram as de Abu Simbel, Carnaque, Luxor, e um sem número de outras
espalhadas por todo o país.
Nova
decadência
A
dinastia seguinte, a XX, foi governada pelos “Ramsés” (Ramsés III a XI), em
cujos reinados o Egito começou a sentir os efeitos de grande recessão econômica,
além da invasão dos chamados “Povos do Mar”, repelidos duramente por Ramsés III.
Em
face do assédio desses invasores, a capital do país foi transferida inicialmente
para a região do Delta, em PI-Ramsés, cidade fundada por Ramsés II, e
posteriormente para Tanis, mais a Nordeste.
Com a
XXI dinastia o declínio se acentua. Surge outro período conturbado na história
egípcia, sobretudo por problemas políticos; o poder passa às mãos de dinastias
estrangeiras e brota outra fase complicada, conhecido como Terceiro Período
Intermediário.
Próximo
artigo, na próxima semana: IX– O fim do imperialismo egípcio
Templo de Hatshepsute em
Deir-el-Bahari, Egito. Projeto concebido pelo arquiteto Senemute em dois pisos e escavado na rocha. foto Ismael
Gobbo
Grande e famosa estátua do faraó
Ramsés II no
Museu Egípcio de Turim, Itália.
Foto do museu. Arquivo Ismael Gobbo
Nefertiti, esposa de Aquenáton.
Museu Egípcio de Berlim, Alemanha.
Nefertiti e Akhenáton. Museu do
Louvre, Paris.
Trono de madeira revestido em ouro e
outros materiais preciosos
pertencente ao faraó Tutancâmon.
Exposto no
Museu do Cairo, Egito. Foto Ismael
Gobbo
Sala Hipostila do templo de
Carnac
É considerada uma das coisas mais
belas que a arte egípcia legou à posteridade.
Destacam-se as belas colunas
“papiriformes” com altura de 23 metros
e que podem abrigar em seu topo
cinqüenta pessoas. A sala mede 102x53 metros.
Foto Ismael Gobbo
Templo de Luxor, na região da antiga
Tebas, no Egito. A obra foi iniciada por Amenófis II, ampliada por Tutmés
III
e concluída por Ramsés II. Era
ligada ao templo de Carnac por uma avenida adornada de esfinges com cabeça de
carneiro da qual apenas um trecho é
hoje visível. O obelisco que ficava à direita da porta de ingresso foi doado à
França e
colocado no centro da Praça da
Concórdia, em Paris, a 25 de outubro de 1836, homenageando Champollion. Fotos
Ismael Gobbo
Colossos de Memnon. É tudo o que
resta do templo funerário de Amenófis III, em Tebas,
atual Luxor. As estátuas de vinte
metros de altura guarneciam a entrada do templo que não mais existe. Foto Ismael
Gobbo
Rio Nilo e o porto em Assuã, Egito.
Foto Ismael Gobbo
Tecelões egípcios confeccionando
tapetes na região do Cairo. Foto Ismael Gobbo
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