Ismael Gobbo
“...E CAINDO POR TERRA, OUVIU UMA VOZ
QUE LHE DIZIA: SAULO, SAULO, POR QUE
ME PERSEGUES?
ELE PERGUNTOU: QUEM ÉS TU, SENHOR? E
A RESPOSTA FOI: EU SOU JESUS, A QUEM TU
PERSEGUES;... “
(ATOS: 9: 4-5)
O apóstolo Paulo é, com justiça, alinhado como um dos principais vultos do cristianismo e, na divulgação da Boa Nova, o seu imbatível campeão.
Embora tenha fomentado sangrenta perseguição aos cristãos, após convertido se transformou em obstinado defensor da doutrina de Jesus.
A seguir, alguns respingos históricos relembrando essa figura singular.
Saulo era seu nome judeu.
Nasceu em Tarso, na Cilícia, cidade de prestígio à época da dominação romana - era urbe que gozava das prerrogativas de dignidade patrícia.
Em face disso, ostentando a condição de cidadania romana, o judeu tarsense teve boa formação acadêmica.
Partiu para a capital da Judéia, onde se instruiu nas Escrituras tutelado por Gamaliel.
Em Jerusalém, pertenceu à casta dos fariseus, intransigentes seguidores da Lei Mosaica, definidos pelo Cristo como cultuadores do religiosismo de fachada.
Os fariseus eram muito influentes no Sinédrio, o senado judaico, que gozava do beneplácito romano para julgar ações que envolviam problemas de ordem religiosa pertinentes ao seu povo.
Não toleravam o cristianismo, que tinha uma nova ordem interpretativa para o decálogo do Sinai.
Todos os conceitos humanos impostos por Moisés, entre os quais o “olho por olho, dente por dente”, conflitantes com os Dez Mandamentos, foram derrogados pela doutrina cristã.
Esse redirecionamento, intolerável para os judeus, já levara o Mestre nazareno à cruz e estava conduzindo seus seguidores à prisão e ao apedrejamento.
Uma das figuras de escol do movimento iniciante, Estêvão, foi lapidado sob o olhar impassível de Saulo.
Engendrando nova perseguição, Saulo partiu para Damasco, na Síria, com cartas do Sinédrio às sinagogas daquele cidade determinando levarem presos a Jerusalém todos os seguidores do Caminho.
Foi nesta viagem que, à entrada de Damasco, se deu insólito acontecimento - o séquito foi envolto por grande luz, enquanto uma voz soava forte:
- Saulo, Saulo, por que me persegues?
- Quem és tu, Senhor, pergunta o combalido que já não mais enxerga.
- Eu sou Jesus, a quem tu persegues, responde o rabi galileu em comovente verbo.
Convertido (*), Saulo não mais granjeou a simpatia dos antigos companheiros do farisaísmo; curado por Ananias de Damasco, partiu para Palmira, e, no deserto solitário, ganhando o sustento como tecelão, inteirou-se o mais que podia da doutrina de Jesus.
Indicado pela igreja de Antióquia, juntamente com Barnabé, João Marcos, Lucas e outros, saiu em viagens missionárias, fundando núcleos do cristianismo em grande parte da orla mediterrânea.
Rebatizado como Paulo, homenagem a Sérgio Paulo, administrador romano da Ilha de Chipre, que tão bem o recebeu, percorreu milhares de quilômetros a pé, ou de barco, visitando cidades como: Efésus, Tessalônica, Neápolis, Filipes, Icônio, Perge, Atenas e a famosa Corinto, capital da Acaia.
As epístolas que Paulo escrevia aos companheiros distantes, fossem para orientar como para transmitir notícias, são atualizadíssimas e plenas de esclarecimentos de ordem moral e espiritual.
Nessas viagens encontrou muitos revezes e não raro era vítima dos apedrejamentos e prisões.
Perseguido pelos judeus, ficou encarcerado por dois anos em Cesaréia e, em recurso de apelação, invocando a cidadania romana, foi enviado a Roma, onde o caso foi apreciado pelo próprio imperador.
Ao que tudo indica, foi absolvido por Nero e continuou pregando na Roma Imperial e visitado a Espanha.
Tempos depois, já velho, em nova perseguição fomentada pelos judeus romanos, foi preso e sentenciado à morte.
Morreu à saída de Roma, decapitado pela Guarda Pretoriana.
Nas cidades por onde passou, Paulo é reverenciado e tido como o vulto mais destacado na divulgação do cristianismo.
(*) A igreja católica comemora a conversão de São Paulo no dia 25 de janeiro.
FONTES: ATOS DOS APÓSTOLOS; “PAULO E ESTEVÃO”, DE EMMANUEL,
PSICOGRAFADO POR FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER; INFORMA-
ÇÕES SUBSIDIÁRIAS OBTIDAS NOS LOCAIS MENCIONADOS.
Os Apóstolos Pedro e Paulo
Óleo sobre tela de El Greco. Museu Nacional de Arte da Catalunha, Barcelona, Espanha
Foto Ismael Gobbo
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