Leda Maria        Flaborea
        
       “O fardo é proporcional às forças,        como a recompensa será proporcional à resignação e à coragem.” –        Lacordaire ¹  
        
       No nosso        entender, a palavra amargura pode ter dois significados: o primeiro,        ligado à inconformação, à rebeldia ante os desígnios de Deus; e o segundo,        significando queixume, descontentamento com a própria        vida.
                          Independentemente de sua significação, esta é uma atitude que não        combina com o servidor de Jesus, se desejamos ser – pressupõe-se que essa        deva ser, cristãos que somos, nossa busca constante – Seus discípulos.        
                          Problemas todos nós temos, até porque o comprometimento ante as        leis divinas, que criamos nas estações planetárias pelas quais        transitamos, não nos permitiria uma vida isenta de preocupações. Por        exemplo, no lar, jardim de espinheiro, onde angústias e inquietações        exigem de cada um de nós renúncias e sacrifícios; no trabalho        profissional, que não nos agrada realizar, porque quase sempre nos        julgamos merecedores de melhores posições, mesmo que não tenhamos as        aptidões necessárias para tal; no grupo de assistência social ou        espiritual do qual fazemos parte, que não valoriza nossas ideias e        esforços, geralmente - segundo nosso ponto de vista – melhores e maiores        do que as que estão sendo praticadas. Tudo isso são dificuldades colocadas        em nosso caminho, obrigando-nos a refletir sobre o verdadeiro significado        de sua presença em nossa existência. 
                          Somado a isso, surgem, no campo de atuação no qual estamos        inseridos, aqueles problemas inerentes à própria existência, uma vez que o        planeta onde estagiamos, presentemente, é eivado de dificuldades para        nossa sobrevivência. Isto quer dizer que, vivendo em um planeta ainda tão        materializado, habitando corpos ainda tão grosseiros, necessitamos de        recursos materiais para não perecermos, sem termos cumprido o programa        reencarnatório a nós destinado. Evidentemente que Deus sempre proverá o        planeta e a humanidade que nele habita com os recursos necessários, para        que a Lei do Progresso se cumpra, segundo Seus        desígnios.
                          Então, não importa o tamanho ou a importância desses problemas –        recursos financeiros que falta, enfermidade que chega a nós ou em ente        querido, desajustes afetivos que não conseguimos administrar, tribulações        que nos intranquilizam –, o fato é que o Pai precisa nos encontrar        executando as tarefas que nos competem, para poder nos        ajudar.
                          Destacamos isto porque, muitas vezes, pensamentos de pesar, de        vitimização (“Deus me abandonou” ou “ninguém olha por mim”) afastam-nos        das nossas obrigações mais simples, contaminam os companheiros de jornada,        afetam o trabalho, o grupo no qual atuamos e nos adoecem. Agora, se        permanecemos atentos, agradecendo ao Pai as oportunidades oferecidas, Seus        Mensageiros encontrarão, na própria tarefa, os meios de nos socorrer. Por        tudo isso, é importante prosseguirmos ajudando os outros dentro das nossas        limitações. Poderemos ser ou estar limitados neste momento, mas não        poderemos ser ou estar ociosos, física e/ou        intelectualmente.
                          Santo Agostinho nos recorda que ainda na condição de desencarnados,        vagando no espaço, escolhemos a prova, porque nos considerávamos bastante        fortes para suportá-la. E pergunta-nos, com toda razão: “Por que murmurais        agora?” 
                          E, prosseguindo, alerta: “Vós, que pediste a fortuna e a glória o        fizestes para sustentar a luta com a tentação e vencê-la. Vós, que        pedistes para lutar de alma e corpo contra o mal moral e físico, sabeis        que quanto mais forte fosse a prova, mais gloriosa seria a vitória, e que        se saísseis triunfantes, mesmo que vossa carne fosse lançada sobre o        monturo, na ocasião da morte, ela deixaria escapar uma alma esplendente de        alvura, purificada pelo batismo da expiação do        sofrimento.”²
                          Emmanuel destaca, ainda, com propriedade, a diferença entre        amargura real e amargura injustificada. Na primeira, é compreensível, mas        não pode paralisar nossa ação junto daqueles que estão ligados a nós. Na        segunda, se os fatos são de menor importância, não merece de nós nem o        fato de ficarmos descontentes ou queixosos.. Judiciosamente, o benfeitor        espiritual adverte para guardarmos reflexão e prudência, a fim de não        perturbarmos a obra do Mestre, e para que aqueles que nos cercam,        sobretudo os nossos amados, não se privem da graça de Deus. ³        
                          Assim, em qualquer circunstância, não nos esqueçamos de que em nos        queixando do quê e de quem quer que seja, “estaremos intimando, a nós        mesmos, a viver em nível mais alto e a fazer coisa melhor.”        4
        
        
       Bibliografia
        
       1 –        KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo        o Espiritismo – cap. V, item 18.
       2 - idem- item        19.
       3 –        EMMANUEL (Espírito). Vinha de Luz –        [psicografado por] F.C.Xavier – 14ª ed., FEB – Rio de Janeiro/RJ –        1996 – lição 123.
       4 –        EMMANUEL (Espírito). Palavras de        Vida Eterna – [psicografado por] F.C.Xavier- 20ª ed., Edição Comunhão        Espírita Cristã – Uberaba/MG – 1995 – lição 100.
        
       (Texto publicado em http://www.oconsolador.com.br/ano3/132/leda_flaborea.html e enviado por email pela        autora)