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sexta-feira, 25 de março de 2011

Newsletter na Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires

Chico Xavier pede licença

Edição 10 | Março de 2011


PALAVRA DE BOM ÂNIMOFrancisco Cândido Xavier


Envio-lhe o soneto que nos foi dado pelo poeta Cruz e Souza, muito lembrado por nós, num grupo de amigos, na véspera da sessão em que nos visitou. Alguns companheiros, entre eles senhoras da Guanabara, falavam sobre a possibilidade de recebermos mediunicamente uma página do poeta.

Um dos participantes da nossa conversação expressava o desejo de obter de Cruz e Souza algumas palavras de bom ânimo, em vista dos tropeços que vem atravessando na seara da fé, ante o trabalho de fraternidade que lhe foi confiado.

No dia seguinte, as nossas irmãs do Rio nos convidaram para ligeiro culto de oração. Para centralizar os pensamentos na prece, recorremos à leitura de O evangelho segundo o espiritismo, que nos ofereceu o item 15 do capítulo XVIII para meditação.

Ao término do nosso ligeiro encontro espiritual, o nosso amigo Cruz e Souza veio até nós e deu-nos a página que envio, evidentemente dedicada em espírito ao amigo que esperava por ele. Sentindo que esse apelo nos serve a todos, passamo-lo às suas mãos, na ideia de que possa ser aproveitado em nossas publicações aos domingos.

AO CULTIVADOR DO BEM Cruz e Souza


Companheiro da Terra!... Companheiro,
Não te doa servir no solo obscuro,
Resguarda o sonho luminoso e puro
Sob os clarões do Júbilo primeiro...

Vara lama, canícula, aguaceiro,
Vence o caminho áspero e inseguro,
Plantando o Bem nas leiras do Futuro,
O Trigo excelso do imortal celeiro!...

Sofre, mas segue além das próprias dores,
Sê bondade e perdão por onde fores,
Olvida em prece o espanto que te invade.

Serve, tropeça, ergue-te e confia,
E encontrarás as fontes da alegria
Nas colheitas de luz da Eternidade.

(Soneto recebido em reunião da manhã de 18/12/1973, em Uberaba, MG)


A VOZ DA EXPERIÊNCIA J. Herculano Pires (Irmão Saulo)


Fala a voz da experiência neste soneto de Cruz e Souza. Quem conhece a vida do poeta, facilmente o reconhece nestas estrofes. Negro e pobre, arredio, fugindo às glórias ilusórias da Terra, sofreu na carne as provas do exílio e morreu tuberculoso. Seu talento fulgurante e sua poesia exponencial só foram reconhecidos depois da sua morte. Era o poeta maior do nosso simbolismo e não o reconhecerem em vida. Ele mesmo se retratou no soneto “Vida obscura”, como se vê no seu primeiro quarteto:

Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres.
Embriagado, tonto de prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.

No soneto “Assim seja”, escrito em vida, como o acima citado, Cruz e Souza já dava conselhos semelhantes ao que agora envia ao companheiro que lhe suplica palavras de bom ânimo. Vejamos o seu ultimo terceto:

Morre com o teu Dever: Na alta confiança
De quem triunfou e sabe que descansa
Desdenhando de toda a Recompensa!

Setenta e seis anos após a sua morte, o poeta nos envia sonetos que o identificam pelo estilo, a temática e a posição pessoal diante do mundo e da vida. Os céticos perguntam se ele não teria evoluído, se não devia estar compondo em ritmo moderno. Se procedesse assim, como identificar-se? Neste caso, os céticos diriam: “Isso não é Cruz e Souza!”

O espírito volta, pelo pensamento, às posições antigas, reencontra o tempo perdido e nele se reintegra para nos dar a sua ficha de identidade. “Livro da matéria escrava”, só ele mesmo escreveu em vida no soneto “Livro”. O poeta se torna senhor tempo, que não é mais irreversível como lhe parecia na Terra.

A experiência da sua própria dor então lhe serve para socorrer os que ainda sofrem no exílio. E ensina os que padecem a transformar o lodo em astros, como já antevira no soneto “Clamor Supremo”, que nos deixou na sua poética terrena.

Artigo publicado originalmente na coluna dominical "Chico Xavier pede licença"
do jornal Diário de S. Paulo, na década de 1970.

(Informação recebida em email de newsletter@herculanopires.org.br)

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